COMO CUBA CHEGOU A REVOLUÇÃO
Hoje em dia, Cuba deixa muita marca por ser um dos
poucos países que se mantém sob um regime socialista. Quem analisa a história
desse país de maneira superficial pode cair no erro de pensar que Fidel, Cienfuegos
e Guevara subiram a Sierra Maestra com planos de planificação econômica e
abolição da propriedade privada. Mas quando observamos mais a fundo, essa
história não é tão simples assim.
Independência e EUA
A independência de Cuba passou por um processo
consideravelmente diferente do restante do continente americano. Além de
bastante tardia (1898), Cuba não atinge sua autonomia com uma disputa
independente contra a Espanha (apesar de tentar), mas, na verdade, a quebra dos
laços coloniais que possuía com o império europeu foi decorrente de uma guerra
estabelecida entre os EUA e a Espanha.
A guerra teve início em 1898, quando o presidente
estadunidense William McKinley, inspirado na Doutrina Monroe e interessado em
expandir a influência de seu país no Caribe — há muito tempo que os yankees
tentam comprar Cuba da Espanha —,
percebe a fragilidade do decadente império espanhol em manter sua
autoridade colonial.
Quando José Martí empreende uma série de revoltas
contra o colonizador, décadas antes, a reconquista espanhola já não era capaz
das façanhas imperiais do século XVI. Na entrada do século XX, um país
emergente entra em guerra com um império falido e o resultado é claro e rápido:
derrotada, a Espanha entrega aos EUA suas possessões nas Filipinas, Guam,
Puerto Rico e Cuba.
Cuba, dessa maneira, deixa de ser colônia espanhola
para se tornar protetorado estadunidense em 1898. Diante do novo status, a ilha
começa a ser preenchida por empresários e magnatas dos EUA, que começam a
adquirir terras baratas no campo e facilidades nas cidades cubanas para tornar
a ilha um recanto de férias com grandiosos hotéis, cassinos e bordéis. Os
estadunidenses possuíam força para mandarem e demandarem na ilha, tornando-se,
na prática, um novo colonizador.
Cuba, ex-colônia de exportação de açúcar e agora
protetorado subserviente, passa a primeira metade do século XX marcada por
índices extremos de pobreza, insalubridade e inacessibilidade do povo cubano de
serviços básicos, enquanto os invasores dos EUA ostentavam gloriosas riquezas e
hábitos soberbos no território insular.
Ao mesmo tempo, o governo de Cuba era facilmente
manipulado pelos estadunidenses em favor de interesses dos EUA. Mesmo
independente, Cuba passa a viver um cenário de ditadura, mantida pelos EUA,
para que o país defendesse os interesses dos yankees no cenário continental.
Os revolucionários
A situação em que se encontrava a população da ilha
é o principal fator para compreendermos a ascensão do sentimento de revolta
entre jovens cubanos. Fidel Castro, por exemplo, foi preso em Cuba após uma
tentativa de assalto a um quartel-general realizado por um grupo de
nacionalistas comandado por ele, no dia 26 de julho de 1953.
Este evento marcará a história do processo
revolucionário, pois, primeiramente, Fidel fundará o movimento revolucionário
M-26-7, em referência ao evento, e, além, o tipo de demanda dos revolucionários
de 1959 já estava presente em 53: o nacionalismo acentuado e militarista (bem
diferente do internacionalismo proletário no marxismo), o desejo pela
democracia direta e o forte sentimento anti-EUA.
Em 1955, Fidel é anistiado, mas, pouco tempo
depois, devida uma ação do M-26-7 em um ato em oposição ao regime de Fulgencio
Batista, o jovem estudante de direito torna-se criminoso novamente e busca exílio
no México.
É lá, junto ao irmão, Raúl Castro, e ao colega
Camilo Cienfuegos, que se encontra com o jovem estudante de medicina argentino
(que viajava a América conhecendo a realidade pobre e degradante que a
colonização deixou no continente americano) Ernesto Guevara de la Sierna
(apelidado de Che, por repetir essa palavra, típica da tradição gaúcha, nas
conversas) e na Ciudad de México, elaboram o plano de invadir a ilha pelo Sul e
subir em direção a Havana pelo método de guerrilha.
Em 1959, o plano tem início. Articulado com as
redes de comunicação das cidades e angariando apoio e contingente para a
guerrilha na travessia do campo e florestas do interior da ilha, o grupo de
guerrilheiros atinge, no primeiro dia do ano de 1960, a capital e derruba o ditador
Fulgencio Batista.
Repare que em nenhum momento foram citados
elementos como a filiação a um Partido Comunista. Ou alguma leitura de Marx e
Engels. Ou qualquer influência da URSS até esse momento. As chaves para
entender a Revolução não estão aí, mas nas noções de nacionalismo,
anticolonialismo, aversão aos EUA e busca por liberdades democráticas.
Mas, então, quando o socialismo chegou em Cuba?
Com a revolução, é quase declarada uma guerra com
os EUA. A revolta anti-imperialista é um choque importante para os EUA, que,
como resposta, toma iniciativas para conter o avanço dos sucessos
revolucionários. Quando o governo revolucionário inicia um processo de
nacionalização das terras estadunidenses, os EUA declaram redução de
importações do açúcar cubano.
Este é o primeiro momento em que a URSS aparece na
equação: o país, governado por Nikita Khruschev, declara a importação dos lotes
não vendidos aos EUA, visando o aumento de sua influência nos arredores da
potência inimiga. Afinal, Cuba fica na esquina dos EUA.
Esse conflito começa a se acirrar nesse primeiro
ano da década de 60. O presidente americano, Einsenhower, declara em outubro o
embargo parcial à ilha como represália à anormalidade política. No ano
seguinte, o presidente corta todas as linhas diplomáticas de comunicação com o
governo cubano. Depois, no mesmo ano, mas com J.F. Kennedy, acirra-se o embargo
à ilha.
Diante deste cenário, Cuba, incapaz de se manter
sozinha com base em exportação de commodities, apela auxilio econômico à URSS,
que se torna principal aliado econômico da ilha e maior importador de seus
produtos e fornecedor de manufaturados.
Em contrapartida, os russos exigem que Cuba se desloque ao eixo de
aliados do bloco soviético e adote a planificação econômica sob molde
socialista. Cuba aceita, e vemos o resultado desse processo até hoje.
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-revolucao-cubana-nao-foi-comunista.phtml
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