JANGO E O GOLPE DE 1964
Após a
renúncia de Jânio Quadros, os militares tentaram vetar a chegada do
vice-presidente João Goulart ao posto presidencial. Tendo sérias
desconfianças sobre a trajetória política de Jango, alguns membros das Forças
Armadas alegavam que a passagem do cargo colocava em risco a segurança
nacional. De fato, vários grupos políticos conservadores associavam o então
vice-presidente à ameaçadora hipótese de instalação do comunismo no Brasil.
Com isso,
diversas autoridades militares ofereceram uma carta ao Congresso Nacional
reivindicando a extensão do mandato de Ranieiri Mazzilli, presidente da Câmara
que assumiu o poder enquanto Jango estava em viagem à China. Inicialmente,
esses militares se manifestavam a favor da realização de novas eleições para
que a possibilidade de ascensão de Jango fosse completamente vetada. No
entanto, outros políticos e militares, como o Marechal Lott, eram a favor do
cumprimento das regras políticas.
Foi nesse
contexto que várias figuras políticas da época organizaram a chamada “Campanha
da Legalidade”, em que utilizavam os meios de comunicação para obter apoio
à posse de João Goulart. Entre outros políticos destacamos Leonel Brizola,
cunhado do vice-presidente, que participou efetivamente do movimento.
Paralelamente, sabendo das pressões que o cercavam, Jango estendeu sua viagem
realizando uma visita estratégica aos EUA, como sinal de sua proximidade ao
bloco capitalista.
Com a
possibilidade do golpe militar enfraquecida por essas duas ações, o Congresso
Nacional aprovou arbitrariamente a mudança do regime político nacional para o parlamentarismo.
Dessa maneira, os conservadores buscavam limitar significativamente as ações do
Poder Executivo e, consequentemente, diminuir os poderes dados para Jango. Foi
dessa forma que, em 7 de setembro de 1961, João Goulart assumiu a vaga deixada
por Jânio Quadros.
A
instalação do parlamentarismo fez com que João Goulart não tivesse meios
para aprovar suas propostas políticas. Mesmo assim, elaborou um plano de
governo voltado para três pontos fundamentais: o desenvolvimento econômico, o
combate à inflação e a diminuição do déficit público. No entanto, o regime
parlamentarista impedia que as questões nacionais fossem resolvidas por meio de
uma consistente coalizão política.
O insucesso
do parlamentarismo acabou forçando a antecipação do plebiscito que decidiria
qual sistema político seria adotado no país. Em 1963, a população brasileira
apoiou o retorno do sistema presidencialista, o que acabou dando maiores
poderes para João Goulart. Com a volta do antigo sistema, João Goulart defendeu
a realização de reformas que poderiam promover a distribuição de renda por meio
das chamadas Reformas de Base.
Em março de
1964, o presidente organizou um grande comício na Central do Brasil (Rio
de Janeiro), no qual defendeu a urgência dessas reformas políticas. Nesse
evento, foi presenciada a manifestação de representações e movimentos populares
que apoiavam incondicionalmente a proposta presidencial. Entre outras entidades
aliadas de Jango, estavam a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas
Camponesas (defensoras da Reforma Agrária) e o Comando Geral dos Trabalhadores
(CGT).
O conjunto
de ações oferecidas por João Goulart desprestigiava claramente os interesses
dos grandes proprietários, o grande empresariado e as classes médias. Com isso,
membros das Forças Armadas, com o apoio das elites nacionais e o apoio
estratégico norte-americano, começaram a arquitetar o golpe contra João
Goulart. Ao mesmo tempo, os grupos conservadores realizaram um grande protesto
público com a realização da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”.
A tensão
política causada por manifestações de caráter tão antagônico foi seguida pela
rebelião de militares que apoiavam o golpe imediato. Sob a liderança do general
Olympio de Mourão filho, tropas de Juiz de Fora (MG) marcharam para o Rio de
Janeiro com o claro objetivo de realizar a deposição de Jango. Logo em seguida,
outras unidades militares e os principais governadores estaduais do Brasil
endossaram o golpe militar.
Dessa
maneira, o presidente voltou para o Rio Grande do Sul tentando mobilizar forças
políticas que poderiam deter a ameaça golpista. Entretanto, a eficácia do plano
engendrado pelos militares acabou aniquilando qualquer possibilidade de reação
por parte de João Goulart. No dia 4 de abril de 1964, o Senado Federal
anunciou a vacância do posto presidencial e a posse provisória de Rainieri
Mazzilli como presidente da República. Foram dados os primeiros passos para a
ditadura militar no Brasil.
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