CORONELISMO: A BASE DO PODER OLIGÁRQUICO
Ao
se transformar em república federativa, o Brasil parecia modernizar a sua
estrutura política ao permitir que os cidadãos escolhessem os seus
representantes pela força política do voto. Contudo, essa disseminação
democrática do poder não passou de uma teoria sem aplicação em terras
brasileiras. A instituição da República, ao invés de privilegiar a participação
dos cidadãos, transformou o coronel em figura política essencial.
Utilizando
das armas e soldados que tinha à sua disposição, um coronel poderia perseguir
os seus inimigos políticos ou impor seus interesses à população local. Na
passagem do Império para a República, o poder político do coronel foi ampliado
com a proteção e as oportunidades de trabalho oferecidas por esses grandes
proprietários. Dessa forma, os camponeses e trabalhadores livres de uma região
se viam enlaçados em uma rígida relação de dependência.
Afrontar o
interesse econômico e político de um coronel poderia significar a exposição do
indivíduo ao mais amplo leque de punições, que poderiam ir da perda do trabalho
ao homicídio. Com isso, ao dominar os moradores de uma região pela força do
dinheiro e das armas, o coronel estabelecia um “curral eleitoral” subordinado
às suas decisões no tempo das eleições. Nessa época, o coronel indicava qual o
candidato cada um de seus “apadrinhados” deveria votar.
Essa
prática, mais conhecida como “voto de cabresto”, era também acompanhada
por outra série de fraudes eleitorais. Quando julgava necessário, um coronel
poderia alterar o resultado de uma eleição fraudando a contagem dos votos ou
incluindo o voto de pessoas que não existiam ou já estariam mortas. Através
desse conjunto de ações, uma mesma família poderia manter-se durante anos
seguidos no controle político de uma região.
Em troca
de favores políticos, esses coronéis garantiam a eleição de representantes
que controlavam o cenário político nacional. Sem maiores dificuldades, o
resultado das eleições executivas ou a hegemonia do poder legislativo poderiam
ser manipulados pelo interesse particular dessa pequena elite de proprietários.
Dessa forma, pontuando uma forte contradição da nossa democracia, o coronelismo
perpetuava uma cultura política autoritária e permissiva no país.
Essa falta
de autonomia política integrava uns processos onde deputados, governadores e
presidentes se perpetuavam em seus cargos. Os hábitos políticos dessa época
como a chamada “política dos governadores” e a política do “café-com-leite” só
poderiam ser possíveis por meio da ação coronelista. Mesmo agindo de forma
hegemônica na República Oligárquica, o coronelismo tornou-se um traço da
cultura política que perdeu espaço com a modernização dos espaços urbanos e a
ascensão de novos grupos sociais, na década de 1920 e 1930.
Apesar
do desaparecimento dos coronéis, podemos constatar que algumas de suas práticas
se fazem presentes na cultura política do nosso país. A troca de favores entre
chefes de partido e a compra de votos são dois claros exemplos de como o poder
econômico e político ainda impedem a consolidação de princípios morais
definidos nos processos eleitorais e na ação dos nossos representantes
políticos.
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