PERÍODO CLÁSSICO - O Pensamento Socrático

PERÍODO CLÁSSICO - O Pensamento Socrático

Nesse período, a Filosofia passa a investigar as questões humanas, deixando de se preocupar apenas com as questões da natureza e suas transformações. Trata-se de um tempo marcado pela presença de Sócrates (470-399 a.C), cujo pensamento rompe com a temática central da realidade natural dos filósofos anteriores. Passa-se a investigar as questões éticas e políticas.

É a época da democracia em Atenas, em que o cidadão começa a exercer a cidadania, emitindo opiniões sobre noções políticas, discutindo, falando, persuadindo nas assembleias.

O pensamento de Sócrates e dos Sofistas deve ser entendido dentro do contexto histórico e sociopolítico de sua época, pois tem um compromisso direto e explicito com essa realidade.

A sociedade grega estava estabilizada, com a consolidação de várias cidades-estados. Havia o enriquecimento através do comércio, surgia uma classe mercantil politicamente influente. Introduziam-se as primeiras regras democráticas, a quebra do poder das oligarquias, quebra da autoridade divina, e o fim das imposições autoritárias. Coexistiam diferentes interesses e as decisões eram tomadas em assembleias. Era necessário saber falar bem, persuadir, convencer, argumentar e justificar as diferentes propostas. O momento foi marcado pela passagem da tirania para a democracia.

Os três maiores representantes da filosofia grega clássica são Sócrates, Platão e Aristóteles. Os dois primeiros nascidos cidadãos de Atenas, já, o último, este lá se radicou, estudou e depois praticou o magistério.

Portanto, para analisar e compreender as obras dos grandes filósofos clássicos é preciso apresentar as circunstâncias políticas e sociais que constituíam o contexto em que foram inseridas, é preciso saber mais sobre Atenas.

À época do florescimento da filosofia clássica ateniense a cidade havia passado por um período recente de guerras, principalmente contra os persas. As tropas de Dario derrotaram os atenienses em Maratona no ano de 490 a.C. Uma década depois forças helênicas derrotaram o Rei Xerxes tanto no mar quanto em terra. Num episódio que ficou conhecido como os “Trezentos de Esparta” [2] em Termópilas uma pequena força de guerreiros Hoplitas, liderada pelos espartanos, infligiu aos persas uma violenta derrota. Pouco mais tarde, na batalha naval de Salamina, os navios atenienses derrotaram a frota persa destruindo a esquadra inimiga. No ano seguinte, na localidade de Platéia, os persas sofreram a derrocada final e retiraram-se para o oriente.

Apesar da vitória, Atenas havia sido devastada. Os persas incendiaram a cidade e destruíram seus templos. Teve início, então, um grande esforço de reconstrução e retomada do crescimento econômico a partir do controle naval do mar Egeu que Atenas havia estabelecido na guerra. Neste período foi fundada a Liga de Delos, uma associação de cidades estado liderada por Atenas, para favorecer o comércio e a defesa mútuas. Consequência disto foi o surgimento do Império de Atenas cujo marco foi a transferência do tesouro público da ilha de Delos para Atenas.

Atenas encontrou seu apogeu entre as Guerras persas e a do Peloponeso  e, sob a liderança de Péricles a democracia ateniense adquiriu plena maturidade. Transformou as instituições políticas reservando maior poder para o conselho dos quinhentos, a Assembleia e os tribunais. Nestes seus membros “tornaram-se funcionários públicos pagos e escolhidos por simples sorteio” (RUSSELL, 2001, p. 67).

 

Sócrates marcou a história da filosofia grega. Não se sabe muito sobre a sua vida. Nasceu por volta de 470 a. C., era cidadão de Atenas, não era rico e viveu toda a sua vida de forma regrada. Tinha predileção pela discussão com os amigos, esse era seu passatempo favorito, e passou a vida ensinando filosofia aos jovens atenienses, embora nunca tenha cobrado por isso, como o faziam os sofistas.

Sócrates não deixou qualquer obra escrita, portanto, o que se sabe sobre sua vida e sobre seus pensamentos deve-se ao trabalho de seus contemporâneos, especialmente Platão, de quem foi mestre, e do general Xenofonte. Na obra de Platão este relata a vida de Sócrates e os seus pensamentos.

Seu pensamento influencia o nascimento da filosofia clássica, posteriormente desenvolvida por Platão e Aristóteles. É considerado o “patrono da filosofia”. As divergências inerentes à democracia da época levaram Sócrates a refletir em seu interior. Refletindo sobre si mesmo, Sócrates descobriu que apesar da variedade de coisas, somos capazes de criar conceitos universais. Pensava que poderíamos criar um conceito universal de justiça que, por ser igual para todos, seria capaz de dissolver as divergências e discórdias nas assembleias de cidadãos.

 

Sócrates não foi um homem frágil, um intelectual franzino cujas virtudes encerravam-se no trabalho filosófico. Na sua época todo cidadão devia prestar o serviço militar e Sócrates se destacou nas batalhas, como relata Alcibíades, a quem o filósofo salvou a vida. Era, então, um homem destemido e assim viveu até a sua morte.

Foi o percussor das escolas estoica e cínica do período imediatamente posterior ao seu. A sua despreocupação para com os bens terrenos inspirou os cínicos, já os estoicos identificaram-se com o interesse de Sócrates pela virtude como o maior dos bens.

O principal interesse de Sócrates era o bem. Os primeiros diálogos escritos por Platão são reveladores da busca por definições de termos éticos, trata da moderação em Cármide, da amizade em Lísis, de coragem em Laques. Em todos os casos o filósofo não propõe respostas definitivas sobre os conceitos apresentados, mas, antes de tudo, demonstra que o que é mais importante do que encontrar definições está a ação de procurar as respostas.

A busca incessante pelo conhecimento é a linha mestra do pensamento socrático. Dizia que “Só sei que nada sei”, contudo, isso não significava que o conhecimento estivesse além do alcance do homem. Para ele o que realmente importava era a tentativa de obter o esclarecimento mediante o conhecimento das coisas. Sócrates afirma que os pecados advêm da falta de conhecimento. Se o homem possuísse conhecimento não pecaria. Portanto, a causa do mal é a ignorância. Assim, para se alcançar o Bem se precisa possuir conhecimento. “O vínculo entre o Bem e o conhecimento é um marco presente em todo o pensamento grego” (RUSSELL, 2001, p. 69).

As praças públicas eram suas salas de aula. Buscava conhecer a si próprio e ajudava as pessoas a encontrar a verdade das coisas e conceitos, por meio do diálogo.

O método utilizado por Sócrates foi chamado de maiêutica, que significa “a arte de fazer o parto” (MARCONDES, 2007, p. 48), uma figura de linguagem para descrever o ofício do filósofo que seria o de trazer ao mundo as ideias e discuti-las.

O papel do filósofo não era trazer soluções acabadas para os problemas da humanidade, mas, sobretudo, utilizando-se da dialética, fazer com que as pessoas, através da discussão e do diálogo pudessem chegar às suas próprias conclusões sobre a realidade que as cerca.

O método socrático, sua dialética, caracteriza-se por interpelar o interlocutor sobre suas crenças, o interrogatório visa provocá-lo a responder e a fundamentar sua resposta e o sentido das crenças apresentadas. Passo seguinte seria problematizar a afirmação do interlocutor, geralmente por meio de ironia, fazendo com que o mesmo se contradiga e tome consciência da sua falta de sustentação e reconheça sua ignorância.

É, portanto, esse o sentido da célebre citação “Só sei que nada sei”, o fato de reconhecer a ignorância é o primeiro passo para se adquirir sabedoria. A partir deste reconhecimento, a pessoa abre as portas para encontrar o verdadeiro conhecimento (episteme), afastando-se do senso comum (doxa).

Resumindo seu método: em um primeiro momento interrogava (processo chamado ironia, em grego significa interrogar). Depois conduzia o “aluno” a buscar em seu interior os conceitos verdadeiros (processo chamado de maiêutica, arte de dar a luz).

Como já dito, Sócrates valorizava o debate e o ensinamento oral, sem nunca haver escrito nada. Foi Platão quem registrou seus ensinamentos. Não existe o registro do pensamento original de Sócrates, mas sim, a visão de Platão. Buscava a definição essencial de coragem, virtude, etc., pretendia ir alem da opinião que se tem a respeito de algo. Não respondia às perguntas, procurava ensinar um caminho, sempre usava o diálogo, pois acreditava que por meio dele a pessoa revisita suas crenças, opiniões, transformando a maneira de enxergar e entender as coisas.

Sócrates desenvolveu o saber filosófico em praças conversando e mostrando que seria necessário unir a vida concreta ao pensamento. Para ele, o homem é sua alma, a alma é o desejo da razão, e isso distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos ou escravos e dava importância às características internas de cada pessoa.

Agindo assim, foi considerado uma ameaça à sociedade, porquanto não fazia distinção de classe ou posição social. Interessava-se pela prática da virtude e pela busca da verdade, contrariando os valores dogmáticos da sociedade ateniense.

Era considerado um grande sábio e contrariou os interesses de muitos poderosos. Sócrates, em 399 a.C., foi acusado de graves crimes por desrespeito às tradições religiosas e por corrupção da juventude, mas na verdade queriam puni-lo por suas críticas à democracia grega. Teve a oportunidade de fugir, mas se recusou, preferiu confrontar seus acusadores e manteve-se fiel ao seu pensamento político até o fim.

Sócrates foi condenado à morte pelo conselho da cidade de Atenas (501 cidadãos), sob a acusação de desrespeitar as tradições religiosas oficiais e de corromper a juventude ateniense com suas ideias. Sua postura diante da morte influenciou decididamente Platão, seu aluno, que abandonou suas pretensões de seguir a vida política e resolver seguir o caminho do ensino filosófico. Morreu por envenenamento – cicuta.

 

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