O GOVERNO LULA DE 2003 A 2010

GOVERNO LULA  (2003 - 2010)

O Governo Federal, conduzido pelo PT, buscou, nos primeiros meses após a posse de Lula, garantir a manutenção da estabilidade econômica por meio da elevação da taxa de juros, impedindo uma súbita elevação dos preços em um cenário de transição política. O temor especulativo quanto aos rumos a serem tomados pela nova equipe econômica levou à redução do investimento na economia, ocasionando uma ausência de crescimento do país no primeiro ano de governo (2003).

A inversão desse cenário foi observada nos primeiros meses de 2004, quando os indicadores econômicos demonstraram um crescimento do PIB superior a 4%, fruto da austeridade econômica mantida pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, além da limitada e gradual redução da taxa de juros e da retomada dos investimentos.

Nos primeiros meses de governo, o presidente Lula defendeu a necessidade de uma reforma na previdência, aprovada no final de 2003, que objetivava controlar os gastos públicos com aposentadorias a médio e longo prazo, visando não comprometer o orçamento do governo. Em fevereiro de 2004, o governo foi envolvido em um escândalo de corrupção denunciado pela revista Época, que apresentou provas de cobrança de propina realizada pelo assessor do ministro José Dirceu, Waldomiro Diniz, a um empresário do jogo do bicho, no Rio de Janeiro, em 2002.

O episódio abalou por alguns meses a credibilidade do governo, apenas retomada no segundo semestre, graças ao m das denúncias, à ausência de provas do envolvimento de José Dirceu no episódio e à retomada do crescimento econômico do país. Identificado com os setores populares, o Governo Lula, desde o seu início, implantou projetos de caráter social, dos quais dois merecem destaque: Fome Zero e Bolsa Família. Com o Fome Zero, programa que alcançou reconhecimento internacional, o governo buscou garantir o direito básico de alimentação à população. Isso se deu através da ampliação do acesso direto ao alimento para as populações carentes e do fortalecimento da agricultura familiar.

Vinculado ao projeto de erradicação da fome, o Bolsa Família teve como objetivo inicial conceder auxílio financeiro a famílias com renda per capita inferior ao salário mínimo. A melhoria da renda garantiria maior acesso à educação, à saúde e à alimentação. O impacto desses programas fez-se notar através de um limitado, mas relativo, avanço social. Em um país marcado pela brutal desigualdade social, iniciativas como essas geraram leituras diversas e por vezes antagônicas.

Assim, as medidas de caráter assistencial do governo ora são vistas por determinados setores como expressão de um populismo arraigado na política brasileira, ora são apreendidas como uma nova política governamental, na qual questões sociais ocupam um espaço privilegiado. Programas como os citados chamaram a atenção da opinião pública internacional. O então presidente Lula viajou por várias nações defendendo suas propostas de maior justiça social e alcançou relativa repercussão entre diversas personalidades em todo o planeta.

Internamente, no entanto, o país passou por uma nova crise política. Mais uma, em tão poucos anos de abertura democrática. A partir de denúncias feitas por Roberto Jefferson, deputado do PTB pelo Rio de Janeiro, ficou comprovada a existência de um “propinoduto” dentro da Câmara dos Deputados. Congressistas de vários partidos foram acusados de receber do governo uma mesada (o “mensalão”) para que determinadas medidas fossem aprovadas.

Foram envolvidos no escândalo, além de deputados de diferentes partidos, membros do Executivo, como José Dirceu, então chefe da Casa Civil. Funcionários do PT, como o tesoureiro Delúbio Soares, também foram incriminados por coordenar o esquema de transferência de dinheiro que envolvia, ainda, o publicitário Marcos Valério. Esse esquema teria se originado na campanha de Eduardo Azeredo (PSDB), então governador de Minas Gerais, tendo depois sido alçado a nível nacional.

A CPI do Mensalão, iniciada em julho de 2005, conseguiu a cassação de alguns deputados, bem como a renúncia e o afastamento de outros envolvidos no escândalo. Não houve, porém, a aprovação de um relatório final e o necessário aprofundamento em algumas investigações, o que estimulou a sensação de impunidade no país.

Apesar de abalar a confiança no Partido dos Trabalhadores, o escândalo não prejudicou a imagem do presidente Lula, que alegou desconhecimento dos fatos. Faltando poucos meses para a eleição em 2006, o candidato apareceu nas pesquisas como provável vencedor ainda no primeiro turno. O ano de 2006 também foi marcado por uma onda de violência organizada que evidenciou a fraqueza do Estado em garantir a segurança de seus habitantes.

Inconformada com a decisão do governo do estado de São Paulo de isolar grandes líderes que haviam sido presos, a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) organizou uma série de violentos ataques a partir de 12 de maio. As ações, que visavam atacar policiais e agentes penitenciários, espalharam-se pelo interior do estado. Logo nos primeiros dias de confronto entre a polícia e os criminosos, foram registradas 35 mortes entre policiais civis, militares, integrantes de guardas metropolitanas e agentes de segurança de penitenciárias, além do registro de 14 suspeitos de participarem dos ataques.

As eleições de 2006 confirmaram a vitória do presidente Lula sobre o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Apesar de desgastada e sob forte crítica de setores conservadores da imprensa, a popularidade do presidente foi suficiente para lhe garantir mais um mandato, após vitória no segundo turno. O início do segundo mandato de Lula foi marcado por acontecimentos que abalaram o país.

No campo da política, investigações da Polícia Federal e denúncias feitas pela imprensa acusaram o presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, de receber dinheiro de empreiteiras para pagar despesas de uma jornalista com a qual havia tido uma lha fora do casamento. Após uma série de reviravoltas e mesmo com o surgimento de novas acusações, o plenário do Senado considerou Renan Calheiros inocente. No entanto, devido às pressões da sociedade civil, o senador renunciou ao cargo de presidente do Senado, conservando, entretanto, seu mandato.

O ano de 2007 foi marcado, também, por uma crise no sistema aéreo brasileiro. Em setembro de 2006, a queda de um avião da companhia de aviação Gol já havia chamado a atenção para os problemas relacionados ao controle do tráfego aéreo no Brasil. A ineficiência do governo em contornar a crise levou a uma greve dos controladores de voo, acusados de serem os responsáveis pelo incidente. A paralisação causou enormes transtornos e aumentou a crise, devido à indignação dos passageiros que enfrentavam horas de espera para realizar suas viagens. Um novo acidente, em julho de 2007, dessa vez com um avião da TAM, deixou clara a fragilidade do controle sobre o espaço aéreo brasileiro.

No início de 2007, foi anunciada a destinação de recursos para o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento). Cerca de 500 bilhões de reais seriam investidos em diferentes setores, como o de infraestrutura, com o objetivo de impulsionar o crescimento da economia brasileira. A tentativa visava à superação dos níveis de crescimento econômico alcançados durante o primeiro mandato de Lula, 2,6% em média, considerados medianos.

A política externa implementada pelo Governo Lula, de diversificação nas relações brasileiras, concedeu ênfase nas relações econômicas e diplomáticas com países anteriormente pouco presentes nas relações bilaterais brasileiras, especialmente do Hemisfério Sul. Esse maior leque de opções no comércio internacional, somado à robustez do mercado interno brasileiro, entre outros fatores, permitiu ao Brasil superar, relativamente estabilizado, a crise internacional que afetou as finanças mundiais nos dois últimos anos.

O ano de 2010 também foi marcado pelo processo eleitoral, no qual foi definido o novo governante brasileiro. Essas foram as primeiras eleições após o m da Ditadura Militar em que Luiz Inácio Lula da Silva não foi um dos concorrentes. O processo eleitoral se encaminhou para uma polarização entre os candidatos Dilma Roussef, representando a aliança liderada pelo PT, e José Serra, expoente da chapa orientada pelo PSDB. Como terceira força no processo eleitoral, aparece Marina Silva, candidata do PV.

Em um ambiente democrático e de forte crescimento econômico, a disputa foi acirrada, e temas como política externa, segurança pública, programas sociais e o modelo de crescimento econômico ocuparam papel de destaque no debate político. A força da popularidade do presidente Lula e o forte crescimento econômico do país foram fundamentais para a vitória da candidata governista: a exministra Dilma Rousseff. Dessa forma, o ano de 2011 iniciouse com a primeira presidente da vida política brasileira e com a manutenção da aliança liderada pelo PT, detentora do poder político nacional por mais 4 anos.

 

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