A CULTURA CONTRA A DITADURA

A CULTURA CONTRA A DITADURA

A década de 1960 foi marcada pelo surgimento de variadas experiências culturais que refletiam os quadros políticos interno e externo. O engajamento cultural de esquerda representou um foco de resistência ao regime durante os primeiros anos da Ditadura, principalmente através dos festivais de música. Da mesma forma, o movimento de contracultura, que ganhava cada vez mais espaço no cenário internacional, ecoava no Brasil, gerando desconforto nos setores tradicionais.

A produção musical ainda apresentou, durante essa década, uma inovadora manifestação: o Tropicalismo. Influenciados pelas inovações musicais do rock estrangeiro, principalmente pelo uso da guitarra elétrica, e ao mesmo tempo comprometidos com a cultura nacional, os criadores do Tropicalismo se destacaram pela capacidade de experimentar e de mesclar o moderno e o tradicional.

O nascimento do movimento ocorreu com a apresentação da música “Alegria, Alegria” (Caetano Veloso) e “Domingo no Parque” (Gilberto Gil) durante o III Festival de MPB da TV Record em 1967. O lançamento do disco Tropicália ou Panis et Circenses sintetiza as ideias do movimento, que buscava agregar recursos não musicais, como a roupa, a dança, o corpo e a estética chocante, provocando reações de resistência de vários setores da sociedade.

Enquanto os grupos engajados interpretavam o Tropicalismo como um movimento alienado e distante das questões nacionais mais urgentes, os setores conservadores, defensores de uma rígida moral, horrorizavam-se com o colorido e com as apresentações estridentes de Caetano, Gil e Os Mutantes.

A canção “Pra não dizer que não falei das ores”, também conhecida como “Caminhando”, de Geraldo Vandré, hino da esquerda em resistência aos anos de chumbo da Ditadura, moveu o ânimo dos jovens durante o III Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo em 1968. Antes e depois do fechamento do regime, vários artistas musicaram protestos contra o governo militar, destacando-se as canções de Chico Buarque, como “Apesar de você”, um claro protesto à ordem vigente.

A produção cinematográfica também se mostrou inovadora no período. O chamado Cinema Novo, que tinha o baiano Glauber Rocha como seu principal ícone, buscava romper com os modelos cinematográficos dos grandes estúdios nacionais e internacionais, promovendo um cinema autoral, de baixo custo e comprometido com temas nacionais. A premiada produção Deus e o Diabo na Terra do Sol marca a obra de Glauber Rocha e representa de maneira clara os conceitos do Cinema Novo.

As novas criações nacionais conviviam com outros movimentos culturais distantes da reflexão social e política, como o movimento da Jovem Guarda, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que embalava aqueles que interpretavam a produção musical como mero instrumento de diversão. Deve-se ressaltar que todo o ambiente de ebulição cultural do período se via constantemente cerceado pelo intenso controle governamental. Assim, muitas das potencialidades artísticas viram-se limitadas pelos mecanismos de censura da Ditadura brasileira.

 

 

Comentários