A CRÍTICA DE EDMUND BURKE À REVOLUÇÃO FRANCESA

A crítica de Edmund Burke à Revolução Francesa

A Revolução Francesa é comumente entendida como o evento histórico que inaugurou a Idade Contemporânea. Sua importância enquanto acontecimento histórico é incontestável. Entretanto, entre os contemporâneos desse acontecimento, havia muitas discordâncias e críticas à radicalização dos revolucionários franceses. Uma das críticas principais era a de Edmund Burke.

O filósofo irlandês Edmund Burke (1729-1797) notabilizou-se pelo seu ensaio Reflections On the Revolution In France (Reflexões sobre a Revolução na França), publicado em 1790, no qual desferiu duras críticas à revolução que havia se desencadeado na França em 1789 e, até então, prosseguia. Desde a época da publicação do referido ensaio, Burke foi alvo tanto de detrações quanto de elogios. É considerado, hoje, um dos pais do conservadorismo político moderno.

Ao deparar-se com os acontecimentos que se desencadearam em 1789, na França, Burke percebeu que aquela revolução não era do mesmo teor das que aconteceram na Inglaterra e nos Estados Unidos décadas antes. A Revolução Francesa, para Burke, era mais do que uma revolução política, era uma revolução de caráter total, de rompimento brusco e violento com os antigos costumes e com a tradição. As transformações políticas nos Estados Unidos e na Inglaterra objetivavam um retorno à ordem e ao equilíbrio político. Na França, o modelo tornou-se progressivamente radical; característica que impeliria, segundo Burke, esse país ao caos e à violência de proporções ainda maiores.

O pensamento de Burke divergiu muito de iluministas como Rousseau. Enquanto Rousseau manteve uma visão romântica da natureza humana e uma linha política progressista, Burke possuía uma compreensão tradicional da natureza humana, calcada na tradição cristã, e uma perspectiva política terminantemente conservadora. Em dada medida, Burke previu o que aconteceria na “fase do Terror” da revolução, sobretudo no ano de 1793. Ainda que suas considerações tivessem sido publicadas em 1790, Burke conseguiu intuir os meandros nos quais a radicalização francesa chegaria. Ele intuiu, inclusive, a perseguição aos nobres e aos reis antes mesmo que os revolucionários passassem a fazer o uso indiscriminado da guilhotina.

Burke acusava os franceses de terem deformado a imaginação moral. Para ele, a imaginação moral fundava a consciência prática que capacita o ser humano ao juízo e à intuição do que é razoável. Era dessa característica que vinha a capacidade do ser humano de compadecer-se do próximo. O que a Revolução francesa promovia, segundo o pensador irlandês, era a minuciosa destruição dessa capacidade. Fica claro, no texto abaixo, o seu pesar a respeito dos rumos que a revolução tomava como um todo:

“É impossível estimar a perda que resulta da supressão dos antigos costumes e regras de vida. A partir desse momento não há bússola que nos guie, nem temos meios de saber a qual porto nos dirigimos. A Europa, considerada em seu conjunto, estava sem dúvida em uma situação florescente quando a Revolução Francesa foi consumada. Quanto daquela prosperidade não se deveu ao espírito de nossos costumes e opiniões antigas não é fácil dizer; mas, como tais causas não podem ter sido indiferentes a seus efeitos, deve-se presumir que, no todo, tiveram uma ação benfazeja” (Burke, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França [1790]. Brasília: ed. UnB, 1982p.102).

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