O GOVERNO DEMOCRATICO DE VARGAS
A eleição presidencial de 1950
foi marcada por um desequilíbrio entre as forças partidárias, visto que a
candidatura de Getúlio Vargas, ainda referência na política nacional, atraiu
votos de todos os setores da sociedade. Competindo pelo PTB e tendo o apoio de
grande parte do PSD – apesar de o partido ter um candidato oficial, o mineiro
Cristiano Machado –, Vargas teve de enfrentar uma acirrada oposição da UDN logo
após sua vitória. O partido de oposição contestava o resultado, pois Getúlio
não recebera a votação da maioria absoluta, sendo eleito com 48,7% dos votos.
Apesar de o problema ter sido
solucionado dentro da legalidade, mantendo-se as determinações constitucionais,
já que não era obrigatória a maioria absoluta dos votos, o quadro político já
era um indício das dificuldades que o novo presidente enfrentaria. Vargas,
acostumado a agir sob uma política centralizadora e autoritária, passou a
governar numa nova conjuntura em que ele seria obrigado a dialogar com a
oposição, com o Congresso e com a imprensa.
O retorno de Getúlio Vargas ao
poder, em 1951, foi pautado em um novo referencial político: o populismo. Já
manifestado nas ações trabalhistas de Getúlio, entre 1930 e 1945, o populismo
foi um fenômeno político presente na América Latina no século XX, caracterizado
pela manipulação das massas por uma liderança carismática que buscava, através
de algumas concessões aos setores menos abastados e quase sempre urbanos, o
controle do sistema político. Símbolo do populismo no Brasil, Getúlio optou
pelo PTB como sigla partidária nas eleições de 1950, por perceber que o partido
conseguiria dar forma ao seu projeto de controle dos grupos sindicais e, ao
mesmo tempo, promover uma política econômica nacionalista.
O nacionalismo, principal
característica de seu governo, ficou explícito no projeto apresentado ao
Legislativo, o qual criaria uma empresa estatal para a extração e re no do
petróleo no Brasil. O objetivo de Vargas era atrair o apoio dos setores que lutavam
por essa causa há décadas no país e que estavam enfileirados na campanha
chamada “O petróleo é nosso”, criada ainda no Governo Dutra pelos estudantes da
UNE.
O debate acerca da criação de tal
empresa no Brasil foi um dos mais polêmicos e envolveu vários grupos da
sociedade que se manifestaram contra ou a favor do projeto, que acabou sendo
aprovado em 3 de outubro de 1953, através da Lei 2 004. Apontava para o
conflito entre empresários e grupos do Estado a questão em torno da exploração
do petróleo no país, embate que foi finalizado com a decisão de que caberia ao
Estado controlar todos os aspectos da indústria do petróleo. O setor privado
participaria mediante concessões para a exploração, sob o estrito controle
governamental.
O nacionalismo de Vargas também
norteou sua tentativa de criação da Eletrobrás e da Lei de Remessa
Extraordinária de Lucros, controlando a ação das empresas estrangeiras no país.
Os dois projetos foram barrados pelo Congresso, o que demonstrou a força dos
setores liberais capitaneados pela UDN.
Os setores de oposição a Vargas
estavam organizados em torno da UDN. Além dos liberais que compunham o partido,
este contava ainda com a participação de muitos empresários insatisfeitos com o
projeto de aumento de 100% do salário mínimo, proposto pelo ministro do
Trabalho João Goulart. Contava, também, com a simpatia norteamericana, já que
Vargas pretendia controlar o envio de lucros de empresas estrangeiras para o
exterior, além de não ter colaborado com os EUA na Guerra da Coreia (1950-1953),
esboçando o que viria a ser a política externa independente que vigorou no
Brasil no início dos anos 1960.
A situação política do presidente
Vargas se mostrava frágil, inclusive entre as massas urbanas. Movimentos
operários que exigiam melhores condições de vida para a classe trabalhadora
provocavam instabilidade social e temor das classes dirigentes. Nesse ponto,
destacam-se a greve dos 300 mil em São Paulo, durante o ano de 1953, e o
movimento denominado “Panela Vazia”, que reuniu 500 mil pessoas que reivindicavam
redução do custo de vida. Críticas diretas ao presidente eram pronunciadas nos
principais jornais do país, destacando a Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda,
jornalista e político da UDN, adversário aguerrido de Getúlio Vargas. O próprio
Lacerda fundou o “Clube da Lanterna”, reunindo civis e militares anticomunistas
e antigetulistas.
A situação do presidente
tornou-se insustentável quando sua imagem foi envolvida no episódio do atentado
da Rua Toneleros, em que o major Rubens Vaz foi morto e o jornalista da UDN,
Carlos Lacerda, foi ferido por um tiro, a mando de Gregório Fortunato,
segurança de Getúlio Vargas. Apesar da ausência de indícios claros de que o
crime fora planejado pelo presidente, a pressão política foi intensa, levando
ao suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954. A atitude de Getúlio foi
fundamental para o enfraquecimento das forças de oposição ao seu governo, que
enfrentaram uma enorme comoção popular, principalmente após a divulgação da
Carta-testamento. O ambiente golpista produzido pelos militares opositores de
Getúlio e fortemente estimulado pela UDN teve de recuar para a permanência da
ordem democrática, por meio da posse do vice, Café Filho.
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