O FIM DO ESTADO NOVO
Apesar da excessiva propaganda, o
regime do Estado Novo não era uma unanimidade. A existência de opositores
detidos nos cárceres do governo era um indício desse cenário. No decorrer da
década de 1940, algumas manifestações contrárias ao regime voltaram a surgir. O
destaque ficou por conta do chamado Manifesto dos Mineiros, divulgado em 1943,
que representava a oposição da OAB e de setores liberais de Minas Gerais à
ditadura de Getúlio Vargas. Entre os participantes, encontravam-se políticos
como Pedro Aleixo e o expresidente Artur Bernardes.
Incluem-se na lista das ações de
resistência ao Estado Novo a notória postura de defesa democrática no Primeiro
Congresso Nacional dos Escritores, em janeiro de 1945, e os protestos da União
Nacional dos Estudantes (UNE), agremiação fundada em 1937 como força estudantil
vinculada aos interesses do Estado Novo, mas que em 1945 se voltava contra a
ditadura de Vargas, apesar de o presidente tê-la reconhecido como entidade
representativa dos universitários brasileiros através do Decreto-lei no 4 080
de 1942.
A pressão contra Getúlio ficou
mais intensa após a opção pela participação na Segunda Guerra Mundial ao lado
dos Aliados. Não era possível sustentar um governo ditatorial enquanto o mundo
era varrido pela onda liberal. Percebendo a contradição e seus efeitos no
PósGuerra, o governo deu início a mudanças que retomavam o ambiente democrático
no país.
Em 28 de fevereiro de 1945,
Vargas lançou uma reforma constitucional que garantia a reabertura dos partidos
políticos. Destacam-se os seguintes partidos:
• PTB (Partido Trabalhista
Brasileiro) – Composto de grupos ligados aos sindicatos, o PTB era um partido
próVargas, sendo utilizado como instrumento político de manifestação das massas
trabalhadoras, principalmente urbanas. O desenvolvimento industrial sob uma
base nacionalista era aspecto central nos projetos do PTB.
• PSD (Partido Social
Democrático) – Partido favorável a Vargas, porém com uma composição mais
conservadora. Em seu programa, defendia a legislação trabalhista e a intervenção
do Estado na economia. Abrigava aqueles que foram beneficiados durante o Estado
Novo, como empresários e coronéis do interior.
• UDN (União Democrática Nacional) – Movimento
com forte apelo liberal que apoiava incondicionalmente os EUA no contexto da
Guerra Fria e que buscava centralizar a oposição a Getúlio Vargas através de um
discurso moralista radical. A UDN contava com os setores da sociedade que
ficaram afastados do poder durante o Estado Novo.
• PCB (Partido Comunista Brasileiro) – Tendo
como principal liderança Luiz Carlos Prestes, anistiado em abril de 1945, o
novo partido comandava as ações políticas de esquerda no país, enquanto esteve
em funcionamento, já que foi fechado novamente em 1948, no início da Guerra
Fria.
Novas eleições para a Presidência
foram convocadas e os partidos lançaram seus candidatos. Parecia que o
continuísmo varguista chegava ao m. Sensação ilusória e curta, pois a sociedade
brasileira viu surgir o “Movimento Queremista”. Incentivado pelo PTB e pelo
PCB, o chamado Queremismo lutava pela possibilidade da permanência de Getúlio
no poder no novo universo democrático que estava sendo constituído, ao menos
até a elaboração da nova Constituição.
O Queremismo era um movimento
social externo ao jogo eleitoral, o que explica a diversidade de alianças que
poderiam ser realizadas. A aproximação do PCB ao PTB explica-se por conta da
recente anistia do líder do partido, Luiz Carlos Prestes, que desde então
apoiava o Governo Vargas, sobretudo em virtude das orientações do Partido
Comunista Soviético e da luta empreendida contra as forças nazifascistas. Havia
também uma atmosfera de destacada mobilização social sem, contudo, ter havido
repressão oriunda do poder vigente. PCB e PTB aliaram-se, nesse período, sem
que perdessem suas identidades partidárias, tendo em vista os interesses
imediatos de seus líderes.
Temendo a manutenção de uma
estrutura governamental ditatorial, os militares, fortalecidos socialmente com
a bem-sucedida campanha na Segunda Guerra, exigiram o fim do governo de Vargas,
ao cercarem a sede do Governo Federal. Vargas foi afastado do poder após 15
anos de governo, assumindo provisoriamente, como chefe do Executivo, o
presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares.
Porém, o papel de Getúlio Vargas
no novo regime ainda seria marcante, como no caso da vitória do general Eurico
Gaspar Dutra nas eleições de dezembro de 1945, em que o pleito só foi decidido
a favor do militar quando Vargas passou a apoiá-lo. O regime populista
brasileiro já estava dando seus primeiros passos.
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