A MARINHA FARROUPILHA
A Marinha Imperial Brasileira
controlava os principais meios de comunicação da província, a lagoa dos Patos,
entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, e a maior parte dos rios navegáveis.
Apesar disso era constantemente atacada pelos farroupilhas, quando próximos aos
barrancos dos rios. Em 1 de fevereiro de 1838, uma tropa de dois mil farrapos e
uma bateria de artilharia conseguiram atacar de surpresa duas canhoneiras e um
lanchão no rio Caí, matando quase todos os marinheiros e aprisionando um dos
comandantes.
O fator estratégico de maior
efeito a favor do império era o bloqueio da barra da lagoa dos Patos, único
acesso ao porto de Rio Grande, por onde desembarcavam continuamente os reforços
imperiais, e ao mar. A república, na segunda parte do confronto procurava
manter a supremacia conquistada na região geográfica da serra do sudeste do Rio
Grande do Sul, de relevo irregular e com apenas um rio que comunicava com a
lagoa dos Patos, o Camaquã.
Foi preciso engendrar uma manobra
incomum para conquistar um ponto que pudesse ligar o Rio Grande dos farrapos
com o mar. Este ponto era Laguna, em Santa Catarina. O primeiro passo era
constituir a Marinha Rio-Grandense. Giuseppe Garibaldi conhecera Bento
Gonçalves ainda em sua prisão, no Rio de Janeiro, e obteria dele uma carta de
corso para aprisionar embarcações imperiais. Em 1 de setembro de 1838,
Garibaldi foi nomeado capitão-tenente, comandante da marinha Farroupilha.
Foi criado um estaleiro, junto a
uma fábrica de armas e munições em Camaquã, na estância de Ana Gonçalves, irmã
de Bento Gonçalves. Lá Garibaldi coordenou a construção e o armamento de dois
lanchões de guerra. Ao mesmo tempo, Luigi Rossetti foi a Montevidéu, buscar a
ajuda de Luigi Carniglia e outros profissionais indispensáveis. Após algumas
semanas, estava completa a equipagem de mestres e operários. Alguns marinheiros
vieram de Montevidéu e outros foram recrutados pelas redondezas.
Os imperiais, informados dos
planos farrapos, atacaram o estaleiro de Camaquã, comandados por Francisco
Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido por Moringue. Eram mais de uma
centena de homens, cercando o galpão com quatorze trabalhadores
entrincheirados. Giuseppe Garibaldi comanda a resistência durante horas. Quase
ao anoitecer, Moringue precipitou-se do esconderijo e levou um tiro no peito,
sendo recolhido por seus companheiros, fugindo tão rapidamente quanto chegaram.
erminada a construção dos barcos
e lançados à água, os lanchões Seival e Farroupilha, cortando as águas da lagoa
dos Patos, acuados pela armada de John Grenfell, não tiveram muito sucesso:
capturaram alguns barcos de comércio desprevenidos, em lagoas ou rios longe da
armada imperial. Surgiu, então, o plano de levar os barcos pela lagoa dos Patos
até o rio Capivari e, dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos
para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar. Assim foi
feito, mas não sem dificuldades.
Os Farrapos, despistando a armada
imperial, conseguiram enveredar pelo estreito do rio Capivari e passaram os
barcos a terra em 5 de julho de 1839. Puxando sobre rodados, os dois lanchões
artilhados, com cem juntas de bois, atravessaram ásperos caminhos, pelos campos
úmidos - em alguns trechos completamente submersos, pois era inverno, tempo
feio com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal. Cada barco tinha
dois eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro cru.
Piquetes corriam os campos entulhando atoleiros, enquanto outros cuidavam da
boiada.
Levaram seis dias até a lagoa
Tomás José, vencendo 90 km e chegando a 11 de julho. No dia 13, seguiram da
lagoa Tomás José à barra do rio Tramandaí, no oceano Atlântico, e, no dia 15,
lançaram-se ao mar com sua tripulação mista de 70 homens. O Seival, de 12
toneladas, era comandado pelo norte-americano John Griggs, conhecido como
"João Grandão", e o Farroupilha, de 18 toneladas, comandado por
Garibaldi - ambos armados com quatro canhões de doze polegadas, de molde
"escuna". Por fim, em 14 de julho de 1839, os lanchões rumaram a
Laguna para atacar a província vizinha. Na costa de Santa Catarina, próximo ao
rio Araranguá, uma tempestade pôs a pique o Farroupilha, salvando-se
milagrosamente uns poucos farrapos, entre eles o próprio Garibaldi.
Enquanto isto, Grenfell
continuava a caça à marinha farroupilha. Com o vapor Águia e diversas
canhoneiras e lanchões, atacou a base de Camaquã e apreendeu três lanchões e
duas lanchas; mas era tarde, pois ali teve a notícia de que Garibaldi já estava
longe, a caminho de Laguna.
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