O ESTADO NOVO
O governo ditatorial de 1937
começou com a imposição de uma nova Constituição. Apelidada pejorativamente de
Polaca, em virtude de sua semelhança com a Carta fascista que vigorava na
Polônia, a Constituição de 1937 foi outorgada em 10 de novembro e contava com
187 artigos. Seu objetivo era gerar um ambiente político de legalidade no
universo ditatorial vigente. A nova Constituição sofreu várias transformações
no decorrer dos sete anos do Governo Vargas.
Apresentava como característica a
centralização do poder nas mãos do Executivo, que se sobrepunha ao Legislativo,
podendo o presidente lançar decretos com força de lei. Garantia os direitos
individuais de liberdade e segurança, porém cabia ao Estado o controle da
censura e a possibilidade de fechar entidades e autorizar prisões em nome da
ordem. Submetia os sindicatos ao governo, criando a figura do “sindicalista
pelego”, ou seja, aquele que mediava as relações entre governo e classe
trabalhadora, evitando choques com qualquer uma das esferas, principalmente a
governamental.
Além disso, a Carta de 1937
também proibia o direito de greve. O excessivo poder obtido por Vargas
representou, na prática, a eliminação das referências democráticas do país,
como a liberdade sindical, o Parlamento – fechado durante todo o Estado Novo –,
a independência do Judiciário e a relativa autonomia das unidades federativas,
que foram vítimas de novos interventores nomeados pelo presidente.
O livre espaço da imprensa também
foi afetado pelo Estado Novo por meio do DIP (Departamento de Imprensa e
Propaganda), que serviu como órgão regulador do setor, sendo também utilizado
para divulgar as realizações do governo. Como instrumento desse projeto, foi
criada a “Hora do Brasil”, programa divulgado pelo rádio no final do dia, em
rede nacional, e que buscava ilustrar os progressos da Era Vargas. O novo órgão
também serviu para reconstruir, via censura e produção cultural, a ideia do
brasileiro ideal, divulgando a necessidade de se ter um cidadão ordeiro, pacífico
e trabalhador, reforçando o trabalhismo de Vargas.
O culto a Getúlio também foi um
projeto articulado pelo DIP, utilizando os encontros de trabalhadores em
estádios e os espaços escolares para divulgar uma imagem perfeita e carismática
do presidente, mediante a consolidação de sua figura como líder da nação e
protetor das camadas sociais populares. Durante o Estado Novo, foi criado o
Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), órgão diretamente
subordinado ao presidente e que serviria para aprofundar a reforma da
administração com o intento de organizar e racionalizar o serviço público. O
DASP tinha como atribuições a apresentação e a fiscalização do orçamento
público federal.
Os abusos políticos persistiram,
como já vinham ocorrendo no final do Governo Constitucional. Como exemplo,
basta citar a criação da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), utilizada
como instrumento de perseguição aos inimigos do regime, o que criou um clima
repressivo no país.
Essa repressão não poupou nem os
antigos aliados, como os membros da AIB que, no período, constituíam o único
grupo político que ainda se mantinha na legalidade, mas que viram sua
organização ser fechada a mando de Getúlio, em dezembro de 1937. A retaliação
aos abusos contra os integralistas foi sentida pelo governo através da chamada
Intentona Integralista, quando os seguidores de Plínio Salgado tomaram de
assalto o Palácio da Guanabara, residência do presidente, em 11 de maio de
1938.
A reação das tropas do governo
encerrou o movimento, levando à prisão e à morte centenas de integralistas.
Plínio Salgado, principal liderança do levante, depois de preso, foi exilado em
Portugal, retornando ao Brasil apenas com o m do Estado Novo. O combate à AIB
demonstrou o caráter despótico e centralizador de Vargas. Com a implementação
do Estado Novo, Getúlio acabava de vez com o federalismo oligárquico de
outrora, consolidava seu novo modelo de Estado, centralizado e protagonista do
desenvolvimento econômico, e criava espaço para a sedimentação de seu modelo
modernizante.
Comentários
Postar um comentário