ESTÁ DIFÍCIL

ESTÁ DIFÍCIL

                A situação está bem complicada nessa quase pós-pandemia. As restrições já são poucas, mas voltamos muito diferentes. E não voltamos melhor, pelo contrário, a sociedade piorou. Muitos estão totalmente perdidos. Óbvio que vejo muito as relações entre as pessoas pelo que percebo no que acontece nas escolas. Mas as escolas são um reflexo da sociedade e, o que estou vendo é bem preocupante.

                Não são só as questões cognitivas de aprendizagem que é o problema central nas escolas. Deveria ser, mas não é. Talvez no momento atual seja o menor dos problemas. Sabemos que a aprendizagem está em déficit, muitos estudantes com bastantes dificuldades. Mas isso é um problema que os professores e os demais profissionais que atuam nas escolas estão acostumados e sabem lidar. Requer tempo e paciência, mas aos poucos, se consegue ir diminuindo essa defasagem. Não por causa dos programas do governo que são inócuos e propagandistas, mas que não atuam na raiz da questão. Por isso não resolvem. Depende muito mais da dedicação do grupo docente, dos pais e das ações promovidas pela escola.

                Mas qual o problema então, que é maior que a defasagem de aprendizagem dos alunos? O problema é comportamental, tanto dos estudantes como dos pais e responsáveis. Grande parte dos estudantes não sabe mais se comportarem dentro de uma sala de aula. Não conseguem ficar sentados, não se concentram nas atividades, imensa dificuldade de cumprir regras e de seguir uma rotina. Prova de que nos quase dois anos em casa devido à pandemia, os pais não conseguiram que seus filhos tivessem uma rotina de estudo o mínimo necessário. Antes de qualquer tentativa de ensinar os conteúdos é preciso reeducar os estudantes nesse sentido; de ter uma postura de estudante dentro da escola e não fazer da escola uma  extensão da sala de sua casa.

                Outra questão, provavelmente mais preocupante ainda é o grande número de crianças e adolescentes com problemas visíveis de ansiedade e depressão, como eu jamais tinha visto nesses meus vinte e dois anos de magistério. Sabemos que isso é consequência da pandemia e das perdas que ela provocou. Muito jovens perderam pessoas queridas, pessoas que eram seus alicerces, seu norte. E a escola sozinha não vai conseguir, por mais que ela abrace seus braços não conseguiram amenizar esse problema sem a ajuda dos pais e, principalmente dos governantes, que urgentemente tem que disponibilizar profissionais especializados para acompanhar esses jovens, pois as consequências de uma negligência a essas questões serão muito graves logo ali, num futuro muito próximo.

                E para encerrar, outra questão, que também é comportamental é agressividade de algumas pessoas, tanto alunos e, principalmente pais que primeiro atiram a pedra e depois perguntam, quando perguntam. Na educação e no mundo inteligente os problemas não se resolvem com agressividade e violência. É preciso saber ouvir e as pessoas não estão ouvindo; as pessoas só querem ter razão. E dessa forma problemas pequenos se tornam grandes; questões do dia a dia e corriqueiras entre crianças e adolescentes se tornam questões de um campo de batalha onde não existem vencedores, só derrotados. Precisamos entender que nem sempre temos razão; que existe o outro e a nossa vontade e opinião não são soberanas e absolutas sobre os demais. As pessoas precisam lembrar que nós temos dois ouvidos e uma boca. Isso provavelmente quer dizer alguma coisa?

                Muitos pais estão negligenciando os problemas de seus filhos e como desculpas  utilizam o trabalho. Como estão ausentes procuram solucionar essa ausência fazendo a vontade de seus filhos, um grave erro. Pais não existem para fazer a vontade de seus filhos, pais existem para educa-los, protege-los, ama-los e dizer não, dizer que seu filho está errado, quando está errado. Não sou o dono da razão, mas meus pais sempre trabalharam e não negligenciaram comigo, eu trabalho e não negligenciam com meus filhos. Então pare de inventar desculpas e assuma suas responsabilidades antes que nada mais possa ser feito, a não ser limpar o leite derramado.

Professor Fabrício Colombo de Aguiar

 

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