AS ELEIÇÕES DE 1930 E A REVOLUÇÃO DE 30

AS ELEIÇÕES DE 1930 E A REVOLUÇÃO DE 30

As eleições para a substituição de Washington Luís na Presidência da República já movimentavam a nação em 1929. O presidente do país, típico representante das oligarquias cafeeiras, como a maioria dos presidentes da República Velha, desejava manter o estado de São Paulo no controle das rédeas políticas da nação, lançando Júlio Prestes, representante do PRP, como candidato à Presidência.

Os objetivos do presidente, ao propor um candidato paulista, giravam em torno da manutenção das ações econômicas realizadas durante o seu mandato e da preocupação em manter leira em torno das questões cafeeiras no país, já que o cenário econômico internacional se agravava, chegando ao limite em plena campanha eleitoral, no mês de outubro, quando a bolsa de Nova Iorque entrou em crise.

A opção do presidente levou a uma cisão das oligarquias. Minas Gerais, representada politicamente pelo PRM, desejava eleger para a Presidência o governador do estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, cuja candidatura São Paulo recusou-se a apoiar. A atitude paulista fez com que o PRM articulasse uma candidatura alternativa à de Júlio Prestes, ligando-se ao estado do Rio Grande do Sul e formando a chamada Aliança Liberal, que lançou o governador gaúcho Getúlio Vargas como candidato.

A chapa de oposição ainda contaria com o apoio do estado da Paraíba, que entrou com o nome do vice, João Pessoa, e com o Partido Democrático (PD), grupo partidário paulista composto de setores mais liberais do estado que não se articulavam com os cafeicultores que controlavam o país. O projeto da Aliança Liberal identificava-se com o do Partido Democrático. Na luta contra a candidatura de São Paulo, a nova agremiação política, liderada por Getúlio Vargas, possuía um projeto modernizador em que se previa o voto secreto, o desenvolvimento de novas atividades econômicas para o país que fossem além do universo agroexportador, a realização de uma reforma política e a defesa das liberdades individuais.

A Aliança Liberal também defendia a criação de uma legislação trabalhista que incluísse a regulamentação do trabalho feminino e do infantil, além de garantir o direito à aposentadoria e a aplicação da lei de férias. A questão social perderia o status de “caso de polícia”, como era vista pelos partidários do governo oligárquico, e assumiria uma nova importância. Deve-se ressaltar que esse projeto possuía uma série de limitações, já que era vinculado a setores dissidentes das oligarquias e não defendia efetivamente uma revolução.

As eleições, ocorridas em março de 1930, contaram com o apoio da máquina eleitoral fraudulenta das oligarquias para as duas candidaturas. Para entender como funcionavam as eleições no país, basta perceber que, no Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas recebeu 298 627 votos contra 982. Se a manipulação eleitoral beneficiou a oposição conduzida pela Aliança Liberal, o vício político foi mais e ciente para Júlio Prestes, que saiu vitorioso com 1 890 524 votos, contra 1 091 709 obtidos por Vargas.

Após o fracasso da Aliança Liberal, muitos dos opositores de São Paulo conformaram-se com a derrota, aceitando uma articulação política que visava à composição do novo governo. Porém, alguns políticos da nova geração não se resignaram com a vitória da oligarquia. Nessa lista, destacavam-se Francisco Campos e Virgílio de Melo Franco, em Minas Gerais, além de Flores da Cunha, Osvaldo Aranha, Lindolfo Collor e o próprio Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul.

Esses novos políticos, que construíram sua carreira no universo da República Velha, desejavam uma ruptura do sistema, encontrando eco dos seus desejos em outros setores da sociedade, como os velhos políticos de Minas Gerais, insatisfeitos com a vitória de São Paulo nas eleições. O apoio a uma ação revolucionária também vinha dos grupos tenentistas, em razão de se nortearem por semelhante insatisfação no que se refere ao sistema eleitoral, bem como à necessidade de reformas sociais e econômicas. Incluem-se, nessa lista heterogênea, os grupos da classe média urbana e os condutores dos setores industriais do país, que buscavam construir um Estado mais comprometido com suas atividades econômicas.

O estopim revolucionário veio com o assassinato do candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Liberal. A morte de João Pessoa, na cidade de Recife, causada por questões pessoais e políticas, estimulou as forças contrárias ao governo a organizarem o levante armado, que teve seu impulso inicial no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. A resistência, centrada principalmente em São Paulo, não foi capaz de impedir o sucesso da chamada Revolução de 1930.

A deposição do presidente Washington Luís por uma junta militar e a posse de Getúlio Vargas no chamado Governo Provisório colocavam m à República Velha, enfraquecendo as oligarquias que dominaram o Brasil durante as primeiras décadas da República. Além disso, o país abriu caminho para novas modalidades econômicas que mergulhariam a nação em um avanço industrial, com profunda intervenção estatal, principalmente na criação das bases do parque industrial brasileiro. No aspecto social, a nova ordem vigente possibilitou a inserção dos trabalhadores urbanos no espaço político e social, principalmente pela articulação das massas populares através das concessões do governo de Vargas.

 

 

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