ORIGEM DA FILOSOFIA
A filosofia nasceu na Grécia
antiga, no início do século VI a.C. Tales de Mileto é reconhecido como o
primeiro filósofo, apesar disso, foi outro filósofo, Pitágoras, que cunhou o
termo "filosofia", uma junção das palavras "philos" (amor)
e "sophia" (conhecimento), que significa "amor ao
conhecimento". Desde então, a filosofia é a atividade que se dedica a
compreender, identificar e comunicar a realidade através de conceitos
lógico-racionais. Ela surgiu do abandono gradativo das explicações dadas pela
mitologia (desmitificação) e a busca por um conhecimento seguro.
A consciência mítica era
caracterizada pelas explicações tradicionais encontradas nas histórias
mitológicas. A mitologia grega, por se tratar de uma crença politeísta, é
composta por uma série de entidades, entre deuses, titãs e outros seres que se
relacionavam, faziam surgir e davam sentido ao universo.
Essas explicações possuíam um
caráter fantasioso, fabuloso, e suas histórias eram compostas por muitas
imagens, construindo uma cultura popular transmitida a partir de uma tradição
oral. Essas histórias eram contadas pelos poetas-rapsodos.
Durante muito tempo, essas
histórias constituíram a explicação sobre a cultura grega e sobre a origem de
todas as coisas. Não havia uma distinção entre religião e outras atividades.
Todos os aspectos da vida humana estavam diretamente relacionados com os deuses
e outras divindades que regiam o universo.
Aos poucos, essa mentalidade foi
se transformando. Alguns fatores fizeram com que algumas pessoas na Grécia
antiga passassem a relativizar este conhecimento e pensar em novas possibilidades
de explicação.
Dessa relativização, nasce a
necessidade de encontrar explicações cada vez melhores para todas as coisas. A
crença vai dando lugar à argumentação, à capacidade de convencer e dar
explicações baseadas na razão, o lógos.
O lógos é identificado como a
fala objetiva, clara e ordenada. Assim, o pensamento grego foi abandonando à
crença (consciência mítica) para assumir o que "faz sentido" o que
possui uma lógica, o que é capaz de ser explicado pelo ser humano (consciência
filosófica).
Muitas vezes conhecido como
"milagre grego", o surgimento da filosofia não dependeu de um
milagre. Foram uma série de fatores que conduziram à relativização do
pensamento, à descrença (desmitificação) e à busca de melhores explicações
sobre a realidade. Dentre esses fatores encontram-se:
Por conta de sua construção e
localização geográfica, a sociedade grega tornou-se um importante centro de
comércio e uma potência marítima. Isso fez com que os gregos tivessem contatos
com outras culturas. O contato com essa diversidade fez com que eles, a partir
da descrença e relativização das culturas alheias, acabasse por relativizar a
sua própria.
O alfabeto (alfa "alfa"
e beta "beta", duas primeiras letras gregas) foi uma importante
tecnologia da época. A escrita através de ideogramas e símbolos está ancorada
em ideias que fazem parte da cultura e do inconsciente coletivo. Já a escrita
alfabética, exige um grau de abstração maior por estar relacionada com os
fonemas. É perceber que as palavras são construídas por sons que podem ser
codificados e reproduzidos. Assim, eles abandonam a aura mítica presente nos
ideogramas.
A moeda exige de seus usuários
algum grau de abstração. O comércio realizado a partir de trocas diretas entre
produtos (exemplo: galinhas por trigo) exigem muito pouco grau de imaginação.
As trocas mediadas pela moeda fazem com que o usuário tenha que perceber que
uma quantidade de produtos é equivalente a uma quantidade específica de moeda.
Outro importante fator para a
desmitificação da realidade é a do calendário. Seu uso, faz-se perceber, a
regularidade de alguns eventos da natureza, como as estações do ano. A
organização gerada pela percepção dessa regularidade retira dos deuses a
responsabilidade de controlar o clima, que passa a estar relacionada à
capacidade dos matemáticos e astrônomos em fazer previsões baseadas em
cálculos.
Com o desenvolvimento da pólis,
há uma intensificação a vida pública. Mais habitantes dividem um mesmo espaço
(público) e, com isso, suas atenções se voltam para a organização desse espaço
(atividade própria da pólis, política). As interações entre as pessoas fazem
com que a relação com os deuses e divindades seja relegada a um segundo plano.
A população grega passou a
necessitar de explicações melhores que estivessem em conformidade com seu grau
de abstração e desmitificação. Com isso, o cidadão grego que, segundo a
tradição, não deveria trabalhar (o trabalho era entendido como uma atividade
menor, responsabilidade de escravos e estrangeiros), dedicou-se ao ócio
contemplativo. Contemplou a natureza e buscou estabelecer relações de
causalidade (causa e efeito, "o que causa o que?") e ordenação. A
natureza, antes entendida como caos, agora, encontrava-se ordenada pela razão
humana.
É nesse contexto que surge a
filosofia. A investigação sobre a natureza fez com que os filósofos produzissem
conhecimento. Inicialmente, a filosofia era uma cosmologia, um estudo sobre o
cosmo (universo) tendo como base a razão (lógos). Essa perspectiva de
pensamento se contrasta com a anterior, que era compreendida como uma
cosmogonia, explicação do cosmo a partir das relações que fizeram nascer
(gonos) as coisas. A mesma distinção ocorre entre a teologia (estudo sobre os
deuses) e a teogonia (histórias sobre o nascimento dos deuses).
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