O RIO GRANDE DO SUL NO INICIO DO
SÉCULO XIX
Após a Guerra de 1801, um novo
acordo, o Tratado de Badajoz, redefiniria o traçado das fronteiras do estado
entregando as Missões para Portugal, permanecendo Sacramento com a Espanha.
Assim se iniciava um período de organização administrativa, social e econômica.
Nos poucos centros urbanos, como Porto Alegre, Rio Grande, Viamão, Pelotas e
Rio Pardo, a sociedade começava a se estruturar. Um inglês, J. G. Semple Lisle,
visitando Rio Grande nessa época, deixou um testemunho muito favorável sobre o
bom acolhimento que teve e as maneiras prestativas do povo, cuja hospitalidade
"excede tudo o que vi em outras partes do mundo.... Poderia encher um
volume com a narração dos atos de bondade com que fomos cumulados".
Porto Alegre tinha cerca de
quatro mil habitantes e sua vida como capital começava a se definir claramente,
além de crescer como força econômica, assumindo a posição de maior mercado do
sul. Seu comércio se fortalecia com a atividade crescente do porto, localizado
na confluência das duas principais rotas de navegação interna, e já havia
espaço para a abertura da sua primeira Casa de Ópera, na verdade um barracão de
pau-a-pique, mas que indicava o esboço de um interesse cultural mais
sofisticado. Enquanto isso, Pelotas se firmava como maior centro da produção de
charque e através dele nascia uma aristocracia urbana, embora fosse se
individualizar de Rio Grande apenas em 1812, tornando-se Freguesia de São
Francisco de Paula (recebendo o nome Pelotas algumas décadas depois). Em 19 de
setembro de 1807 a Capitania ganhou sua autonomia e em 1809 foi elevada a
Capitania Geral, composta por apenas quatro municípios: Porto Alegre, Santo
Antônio da Patrulha, Rio Grande e Rio Pardo, que dividiam entre si toda a
extensão do estado.
A paz durou pouco. Em 1811 o
estado já se via envolvido em nova disputa internacional, agora despertada pela
revolução iniciada por Artigas em Buenos Aires e que pretendia unificar todos
os estados do Prata. Montevidéu resistiu e pediu ajuda ao príncipe regente Dom
João, e este enviou tropas gaúchas para combater, sob o comando de Dom Diogo de
Souza, o chamado Exército Pacificador. Na esteira do avanço militar pelo pampa,
fundaram-se cidades como Bagé e Alegrete. Retirou-se o exército pouco depois,
em função da assinatura de um armistício, apenas para ser substituído em 1816
por um batalhão ainda maior vindo de Portugal, composto por veteranos das
guerras europeias, a fim de rechaçar a invasão das Missões por Artigas. As
lutas terminaram com a anexação da Banda Oriental, o atual Uruguai, ao Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves sob o nome de Província Cisplatina, que na
prática se tornou uma extensão do Rio Grande.
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