O MOVIMENTO OPERARIO DURANTE A
REPUBLICA OLIGARQUICA
Uma das consequências do
desenvolvimento industrial foi a formação do movimento operário no Brasil. A
luta por melhores condições de trabalho e por uma reestruturação do modo de
produção foi conduzida, em grande parte, por imigrantes que chegavam ao país
influenciados pelas novas ideias que desafiavam a ordem capitalista. Nesse
cenário, destaca-se, em um primeiro momento, o anarquismo, difundido
principalmente por italianos e espanhóis, através do fenômeno do
anarcossindicalismo.
O conhecimento a respeito da
teoria anarquista pode provocar uma dúvida a respeito da expressão: como um
anarquista, contestador de qualquer esfera de poder e organização partidária,
poderia aceitar a ideia do sindicato enquanto espaço reivindicatório? A
resposta para essa pergunta cabe aos dois projetos que o anarquista visualiza
para essa organização. O sindicato servia como instrumento de luta por melhores
condições de trabalho, ao mesmo tempo que cumpria o papel de núcleo autônomo de
desafio da ordem imposta pelo Estado.
Portanto, enquanto na Europa o
sindicalismo afastava-se das reflexões anarquistas, no Brasil e na América
Latina essa associação funcionou como mola propulsora do movimento operário.
Para dimensionar a influência dessa ideologia no país, basta perceber que, no
transcorrer da Primeira República, foram criados 334 jornais anarquistas, entre
os quais se destacam os jornais L ́Avvenire (São Paulo, 1894) e L ́ Operaio
(São Paulo, 1896).
A luta operária centrava-se no
combate às péssimas condições de trabalho do operariado no país. Não havia uma
lei imposta pelo Estado, inspirado em ideias liberais, que fosse capaz de
limitar a exploração dos empresários que submetiam seus funcionários a
condições subumanas de trabalho (carga horária de 12 a 16 horas diárias, baixos
salários, exploração de mulheres e crianças).
A relação entre patrão e
empregado, ou capital e trabalho, era determinada pelo regulamento de fábrica,
confeccionado pelos proprietários das empresas. Ao Estado, inclinando-se a
favor do empresariado, cabia o papel punitivo daqueles que contestassem a ordem
capitalista vigente, bastando lembrar que, a respeito desse tema, vigorava a
expressão: “A questão social é caso de polícia”.
Prova do papel repressor do
Estado veio no ano de 1907 com a Lei Adolfo Gordo, que permitia ao governo
expulsar estrangeiros considerados subversivos e, já no final da República
Velha, com a Lei Celerada (1927), aprovada no Congresso Nacional, que
autorizava o m de manifestações grevistas e a possibilidade de as autoridades
legais fecharem qualquer grupo representativo considerado contrário à ordem
pública, como sindicatos e partidos.
Tamanha arbitrariedade
governamental não foi capaz de eliminar a luta do operariado no Brasil. Em
1906, vinte e oito sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro iniciaram o
Primeiro Congresso Operário, criando as bases para a fundação, em 1908, da
Confederação Operária Brasileira (COB), que unificou a luta pela causa
trabalhadora no Brasil. O Congresso Operário seguia tendências anarquistas e
socialistas, além de optar pelo uso da greve como instrumento de luta.
Observa-se, assim, que
manifestações grevistas ocorreram no Brasil durante toda a primeira década do
século XX. Porém, o grande instante do movimento operário ficou por conta da
Greve de 1917. A partir do mês de junho daquele ano, em muitas fábricas de São
Paulo, intensificou-se a luta por melhores salários, redução do trabalho
noturno, abolição das multas e regulamentação do trabalho feminino. A greve se
iniciou no Cotonifício Crespi e avançou rapidamente para outras fábricas no
bairro da Mooca, tomando toda a cidade. Os operários exigiram ações
governamentais como redução dos aluguéis e do custo de vida.
A greve avançou para a capital da
República, Rio de Janeiro, manifestando-se também em outros estados. O governo
paulista, com a intermediação de uma comissão de jornalistas, conseguiu
negociar o m da greve, após atender alguns dos pontos defendidos pelos
trabalhadores, como o aumento do salário, a recontratação dos grevistas
demitidos e a garantia de que o governo realizaria esforços na busca de
melhores condições de vida para a população. A Greve de 1917, influenciada
pelos acontecimentos internacionais do período, principalmente a Revolução de
Fevereiro na Rússia, foi determinante para o amadurecimento do movimento
operário brasileiro nos anos seguintes.
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