HISTÓRIA DO ROCK NO BRASIL PARTE IV – OS ANOS 1990

HISTÓRIA DO ROCK NO BRASIL

PARTE IV – OS ANOS 1990

 

Foi em 1990 que foi lançado aquele que é considerado o primeiro álbum conceitual brasileiro - Searching for the Light, da banda carioca de thrash metal Dorsal Atlântica. A crítica cunhou o disco, influenciado pelo livro 1984 de George Orwell, de a primeira Thrash Opera do mundo.

 

Dentre as novidades da década, está o surgimento da MTV Brasil, em 1990. O período ficou marcado pelo enorme crescimento da indústria do videoclipe no Brasil, além da emissora musical oferecer oportunidades de divulgação para inúmeras bandas que estavam em início de carreira. Com isso, todos os grupos de destaque na época, tiveram seus clipes veiculados no canal.

Surgiram também festivais alternativos importantes para a divulgação do cenário independente, como o Abril pro Rock, em Recife e as grandes gravadoras voltaram a apostar em grupos novos, através de pequenos selos, como Chaos, pertencente à Sony Music e Banguela Records, criado pelos Titãs em parceria com o produtor Carlos Eduardo Miranda e distribuído pela Warner Music.

Membros de bandas surgidas na década de 1980 formam o projeto paralelo inspirado em The Beatles, chamado Os Britos, formada inicialmente por Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), Guto Goffi e Rodrigo Santos (Barão Vermelho) e George Israel (Kid Abelha).

O primeiro grande grupo da década foram os mineiros Skank, que misturavam rock e reggae. Ao longo dos anos, outros grupos mineiros surgiriam, como Jota Quest, que misturavam pop rock, soul e funk. Pato Fu, Virna Lisi e Tianastacia.

Em Recife despontou o movimento Mangue beat. Liderados por Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, as bandas misturavam percussão pernambucana com guitarras pesadas, conquistando a crítica.

Surge em São Paulo a rádio Kiss FM.[ Outras rádios que se denominavam rádios de rock no estado, a 89 FM e 97 FM, começam a divulgar a data de 13 de julho como Dia Mundial do Rock, inspirado na declaração do músico Phil Collins durante o Live Aid, evento realizado em 13 de julho de 1985, apesar da declaração vir de um músico estrangeiro, a data só é comemorada no Brasil.

Entre 1994 e 1995 dois grupos foram bem sucedidos pelo humor, os brasilienses Raimundos, com o ritmo forrocore (forró+hardcore) e os guarulhenses Mamonas Assassinas, parodiando do heavy metal ao sertanejo, chegando a fazer 3 shows por dia e venderem 1,5 milhão de cópias.

Pegando carona na onda "Mamonas Assassinas", que abriu espaço no mainstream brasileiro para músicas cujas letras falam, de maneira humorística, sobre sexo, surgiu um efêmero movimento de Rock onanista, com bandas como Os Ostras, Lagoa 66, Baba Cósmica, Maria do Relento, Velhas Virgens, Raimundos, Virna Lisi e P.U.S..

Foi em meados da década de 90 também que o país viu o ressurgimento da cena surf rock instrumental, com muitas estações locais de rádio e TV tocando músicas famosas de instro-surf em seus jingles e programas. Entre as bandas que se destacaram, podem ser citadas Os Ostras, The Gasolines, Os Netunos, Frank Simata, The Silvas, Los Cochabambas, Orestes Prezza e Xevi 50.

Alguns rappers tiveram ligação íntima com o rock, como Gabriel o Pensador, o Planet Hemp (que defendia a descriminalização da maconha) e o Pavilhão 9 (que falava de violência policial).

O Sepultura teve um crescimento de popularidade nos anos 90, através dos álbuns Arise e Chaos A.D., culminando em Roots, disco que fez da banda uma das principais do heavy metal mundial na época e lhes rendeu razoável exposição no mainstream. Estes 2 álbuns apresentaram extensas influências de música brasileira, sendo suas principais características o uso de percussão tribal. Pouco tempo depois, Max Cavalera membro fundador e front man, sai da banda, dando lugar a Derrick Green. Ele forma a banda Soulfly com mais 3 músicos estadunidenses, e continua apresentando extensas influências de música brasileira.

Seguindo o caminho do Sepultura, o Angra também gravou músicas em inglês, misturando power metal com ritmos tipicamente brasileiros. A banda alcançou sucesso na cena heavy metal brasileira e reconhecimento mundial, sendo muito bem recebidos na França e principalmente no Japão.

Outros destaques da década são O Rappa e Cidade Negra, representando a ligação do reggae com o rock, Charlie Brown Jr., com influências do skate punk e vocais rap, Cássia Eller, com um repertório de Cazuza, Renato Russo e Nando Reis, e Los Hermanos, que surgiram com Anna Júlia, canção pop que não combinava com a imagem intelectual da banda.

Outro fato da década é que todas as bandas do "quarteto sagrado" do rock da década de 1980 (exceto a Legião) tiveram de se reinventar para reconquistar o grande público. Os Paralamas, depois de uma fase experimental, voltaram às paradas com Vamo Batê Lata (1995), o Barão Vermelho, com o semi-eletrônico/dance-rock Puro Êxtase (1998) e os Titãs, com seu Acústico MTV (1997). Outro grupo que conseguiu se renovar foi o Kid Abelha, com os álbuns Meu Mundo Gira Em Torno de Você (1996), que trouxe a versão de Na Rua, na Chuva, na Fazenda de Hyldon, e o Remix, de 1997.

Em 1996, surge a banda carioca Pedro Luís e a Parede, com uma mistura de rock, samba, maracatu, rap e funk. Ainda no Rio de Janeiro, em 1997 outro grupo começa a ganhar projeção nas noites cariocas. A banda LS Jack surge quando alguns estudantes de música decidiram montar uma banda chamada L'Acid Jazz que depois viria a se tornar o LS Jack. O primeiro álbum, auto-intitulado, LS Jack, lançado em 1999, trouxe o hit "Você Chegou" que foi a porta de entrada para grandes sucessos como "Carla" , "Uma Carta", "Sem Radar", "Espírito Meu" e "Amanhã Não Se Sabe". Em 2004 o vocalista Marcus Menna entrou em coma após complicação em uma cirurgia e resultou no final da banda anunciado em 2005.

Depois de um tempo, surgiram Wilson Sideral e Flávio Landau (ambos irmãos de Rogério Flausino vocalista do Jota Quest). Sideral emplacou nas rádios brasileiras sucessos como Não Pode Parar e Zero a Zero. Já Landau obteve maior reconhecimento na década seguinte.

O rock gaúcho continuou muito bem representado pela banda Cidadão Quem, pelos cantores Wander Wildner (ex-Replicantes) e Júpiter Maçã (ex-Cascavelletes), entre outros nomes de projeção local.

Também tiveram grupos de carreira mais curta, como Rumbora, Skuba, Os Virgulóides e O Surto, banda conhecida pelo hit A Cera. Outros alcançaram status de artistas cult, como o já citado Little Quail and The Mad Birds, Mulheres Q Dizem Sim, Hay Kay, Yo-Ho Delic e Pin Ups. As duas últimas compunham suas músicas em inglês e o Little Quail gravou dois álbuns até ser extinto em 1996.

Foi na metade final dos anos 90 que começou a era do hardcore melódico no Brasil, com nomes como Dead Fish, Dread Full, Pinheads, Primal Therapy, Garage Fuzz, Barneys, Heffer, Againe e tantas outras.

Em 1998, três guitarristas virtuosos do Brasil (Edu Ardanuy, Frank Solari e Sérgio "Serj" Buss) se juntaram e formaram o Tritone. Juntos, eles gravaram "Just for Fun (And Maybe Some More Money...)", álbum este que é considerado um marco do rock instrumental no país.

Também em 1998 foi publicada a primeira edição da Senhor F - A Revista do Rock, que é uma publicação digital brasileira sobre música, editada por Fernando Rosa. Com enfoque no rock alternativo brasileiro, a publicação logo tornou-se uma referência nacional quando o assunto é música independente ou fora do mainstream.

A década também ficou marcada pela perda de Cazuza, em 1990 e Renato Russo seis anos depois, dois dos maiores ícones da história do rock brasileiro, além da morte de Chico Science, em 1997 e o trágico acidente de avião que vitimou o grupo Mamonas Assassinas um ano antes.

 

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