A REVOLTA DE CANUDOS

A REVOLTA DE CANUDOS

A região de Canudos, chamada pelos seus moradores de Belo Monte, era uma fazenda abandonada no interior da Bahia, que foi ocupada pelos seguidores de Antônio Conselheiro em 1893. Símbolo do movimento messiânico no Brasil, Conselheiro arrastava uma multidão de seguidores oprimidos pela pobreza do Nordeste, que se deixavam levar pelos seus sermões carregados de religiosidade. A fama do líder de Canudos chegou a ultrapassar as fronteiras nordestinas, atraindo pessoas de vários estados da federação para a fazenda, entre elas, cidadãos de posse, que se desfaziam dos seus bens para viverem na comunidade.

O crescimento excessivo da cidade de Canudos, que chegou a atingir 25 mil pessoas em 5 mil casas, começou a incomodar os fazendeiros da região, que viam sua mão de obra deslocar-se para a fazenda de Conselheiro. Soma-se a esse incômodo a postura de resistência do beato a algumas determinações do novo governo republicano, como o casamento civil.

Quanto à questão política, observa-se que Conselheiro considerava a ação de destituição da monarquia brasileira injusta. Por isso, mostrava-se pouco simpático às ordens oriundas de um sistema republicano. Porém, não se pode atribuir à vila de Canudos, e muito menos a Antônio Conselheiro, um projeto de restauração monárquica no Brasil, como divulgavam alguns jornais do Rio de Janeiro à época do movimento.

A crítica de Conselheiro ao republicanismo talvez possa ser explicada por sua forte religiosidade e consequente repulsa ao laicismo introduzido pelo Estado republicano. Um argumento a favor do conformismo com a ordem vigente era a atividade comercial que Canudos desenvolvia com outras regiões próximas da vila, o que subtrai a visão de um universo monárquico isolado.

Devido a um possível conflito entre Canudos e Juazeiro, que não havia entregado um fornecimento de madeira à cidade de Conselheiro, foi enviada, em 1896, uma tropa de 104 praças para impedir uma ação violenta na região. Os homens de Antônio Conselheiro impediram que os soldados se aproximassem da cidade, abatendo-os a quilômetros do arraial.

O Governo Federal, preocupado com o ocorrido, enviou 543 homens, bem equipados, para evitar a repetição da humilhação sofrida pela tropa anterior. Novamente a expedição nem atingiu Canudos, aumentando a repercussão e o interesse em torno do vilarejo. Transformando os chamados “monarquistas de Canudos” em causa nacional de combate, uma expedição conduzida pelo oficial Moreira César, famoso na repressão à Revolução Federalista, foi enviada ao arraial.

Apesar dos 1 300 homens, a terceira leva armada foi combatida e derrotada em Canudos. Nela morreu Moreira César, em plena arena de combate. Interpretando a destruição de Canudos como um prêmio para o governo republicano brasileiro, foram enviados então 8 000 homens, que, após a morte de um quarto dos combatentes, conseguiram derrotar a simples vila no interior da Bahia.

A última batalha, ocorrida no segundo semestre de 1897, varreu Canudos do mapa, incendiando as casas que permaneceram em pé e levando à morte, inclusive por degolamento, muitos habitantes da vila. Desse modo, o governo buscava provar a sua capacidade de manter a ordem pública no país. Em sua essência, o universo de Canudos era uma denúncia das mazelas da sociedade rural brasileira.

 

 

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