A HISTÓRIA DO CHOCOLATE
O cacaueiro, é uma planta nativa de uma
região que vai do México, passando pela América Central até a região tropical
da América do Sul, que vem sendo cultivada por pelo menos três mil anos na
região.Os primeiros registros de seu uso datam do período Olmeca. No entanto,
existem evidências que indicam cultivo anterior a esse período. Desde sua
domesticação o cacau é usado como bebida e, depois, como ingrediente para
alimentos. Durante a civilização maia era cultivado e, a partir de suas
sementes era feita uma bebida amarga chamada xocoatl, geralmente temperada com
baunilha e pimenta. O xocoatl, acreditava-se, combatia o cansaço além de ser
afrodisíaco.
Alguns dos vestígios mais antigos de uma
plantação de cacau foi datado de 1150 a 1400 a.C., tendo sido encontrado em
Puerto Escondido, localidade do Departamento de Cortés, em Honduras. Pelo tipo
de recipiente encontrado e pela análise de seu conteúdo, concluiu-se que
produzia-se uma bebida alcoólica pela fermentação dos açúcares contidos na
polpa que envolve os grãos, bebida essa que continua a ser feita até hoje em
partes da América Latina[3]. Resíduos de chocolate encontrados numa peça de
cerâmica maia de Río Azul, na Guatemala, sugerem que já era utilizado como
bebida por volta do ano 400 d.C. Documentos maias e astecas relatam que o
chocolate era usado tanto para fins cerimoniais como no cotidiano, sendo, no
entanto, consumido apenas pela elite.
Por suas reconhecidas propriedades e sua
difusão regional, o cacau ganhou grande importância econômica na Mesoamérica na
era pré-colombiana. Os Maias usavam os grãos como moeda. Dez favas valiam um
coelho e por 100 favas de primeira qualidade adquiria-se um escravo.[2][4][5]
Durante o Império asteca (1325 a 1521 dC) sementes de cacau eram uma forma
importante de divisas e meio de pagamento de tributos[2][6] Um dos principais
objetivos da expansão imperial dos Astecas na direção sudeste, durante o século
XV, havia sido o de controlar as regiões produtoras de cacau no Istmo de
Tehuantepec e no litoral sul da Guatemala. Diz um cronista quinhentista que os
armazéns de Montezuma II, em Tenochtitlan, continham mais de 40.000 cargas de
amêndoas de cacau, algo estimado em torno de 1.200 toneladas. Grande parte
desse tesouro destinava-se a pagar o soldo dos guerreiros e também
alimentá-los: Bernal Diaz, o soldado de Cortés e narrador da conquista,
informou que somente a guarda do palácio consumia diariamente mais de 2.000
taças da bebida.Seu uso como meio de pagamento continuou até o século XX, pois
em algumas partes da América Central, o cacau ainda era usado como dinheiro
Foi no golfo de Honduras que Cristóvão
Colombo, em sua quarta viagem (1502), abordou algumas grandes canoas maias
carregadas de panos de algodão, armas, utensílios de cobre e amêndoas de cacau
que, segundo o navegador, "eles pareciam ter em grande apreço".
Contudo, somente com a conquista do império Asteca por Hernán Cortés em 1519
que os espanhóis descobriram sua utilização.
Os indígenas o tomavam na forma de uma bebida
fria, sem nenhum adoçante e, naturalmente, sem leite, o que a tornava desagradável
ao paladar europeu, que a consideravam muito amarga. A adição de açúcar de
cana, canela e anis a fizeram mais apetecível e ela passou a integrar a dieta
criolla tornando-se cada vez mais apreciada. Para melhor conservação durante o
transporte marítimo, foi adotada uma forma de preparo que já era conhecida dos
guerreiros astecas durante suas longas marchas: o pó era prensado em forma de
biscoitos ou tabletes, que no momento do consumo eram derretidos em água (no
caso dos espanhóis, quente e adoçada).Mesmo assim, os espanhóis presentes no
México levaram algum tempo para se acostumar à bebida de cacau. Cortés teve que
impor-lhes seu uso, pois, como escreveu ao imperador Carlos V, "uma taça
da preciosa bebida permitia aos homens caminhar um dia inteiro sem necessidade
de outros alimentos".
Quando Cortés retornou para a Espanha em
1526, deve ter levado diversas amêndoas que foram consumidas fora do continente
americano pela primeira vez. O primeiro carregamento comercial ocorreu em 1585
a partir de Veracruz para Sevilha. Por quase 100 anos, o preparo da bebida
permaneceu como um segredo espanhol, onde apenas a aristocracia local tinha
acesso ao caro produto, até que foi finalmente introduzido na Itália em 1606 e,
a partir daí, para a França. Logo a bebida se tornaria popular, e as
"casas de chocolate" se espalharam por toda a Europa. Nos séculos
XVII e XVIII o chocolate foi considerado tanto um alimento como um auxiliar da
digestão. Por longo período, os espanhóis cultivaram cacau na América Central
usando escravos africanos.
Com o passar do tempo a demanda cresceu e já
não era mais suficiente a produção do México. Ainda no século XVII, os
exportadores espanhóis passaram a introduzir sementes na região de Guayaquil,
no Equador, e principalmente na Venezuela. Lá, com a farta mão-de-obra escrava,
foi desenvolvido cacau de Caracas, reconhecido por sua qualidade, que era
exportado oficialmente pela Compañía Guipuzcoana. Paralelamente a este comércio
oficial, o contrabando holandês era fonte de divisas para o porto de Amsterdã.
A receita também se reproduzia nas ilhas do Caribe, em Trinidad e São Domingos.
Além desses estava começando a ser produzido também pelos portugueses no Pará,
com exportações para Hamburgo.
Durante o século XVII o chocolate, consumido
inicialmente apenas como bebida, passou a ser usado também em forma de doces.
Tornou-se uma iguaria apreciada pela nobreza europeia. Na Inglaterra, a
primeira chocolataria foi inaugurada em Londres, em 1657. As "casas de
chocolate" britânicas eram idênticas às já florescentes "casas de
café". Essas casas eram, muitas vezes, cena de jogos, intrigas políticas e
distração, tanto que uma casa de chocolate (a White's) foi um dos cenário da
série de pinturas "Rake's Progress" de Hogarth.
Com o aumento do consumo e pelo grande valor
do produto, logo a França, Inglaterra e Holanda estavam cultivando cacau nas
suas colônias caribenhas e depois em outros lugares do mundo. Com o aumento da
produção os preços caíram e a bebida tornou-se ainda mais popular a produção
inglesa se deu após a tomada da Jamaica em 1655, assim, o cacau passou a chegar
regularmente e a um custo menor aos cafés londrinos, e quatro anos depois um
jornal da cidade publicava a propaganda de um comerciante: "O chocolate,
uma excelente bebida das Índias Ocidentais vendida em Queen's - Headelley... é
muito apreciado por suas excelentes qualidades. Ele cura e protege o corpo
contra muitas doenças, como se lê no livro que também está à venda".[1] No
mesmo ano de 1659, Luís XIV concedeu a David Chaliou, oficial da marinha, o
privilégio de "fabricar e vender, por 19 anos, uma composição que se
chamava chocolate". Nascia, assim, a primeira fábrica francesa de
chocolate.[4] Em 1689, o médico Hans Sloane desenvolveu na Jamaica uma bebida à
base de leite com chocolate que foi inicialmente usada por boticários.
Posteriormente, em 1897, a formulação foi vendida aos irmãos Cadbury.
Já no século XVIII, a expansão da burguesia e
do comércio colonial fizeram crescer ainda mais o consumo na Europa, ao lado do
chá e do café, alcançando setores cada vez mais amplos da classe média. Em
1772, só em Madri havia 150 moedores de cacau, organizados em corporações
inclusive para se defender da concorrência desleal daqueles que o misturavam
com amêndoas, pinhões e bolotas. Até então o cacau ainda era moído manualmente,
à maneira dos astecas, mas no mesmo ano de 1772, na colônia americana de
Massachusetts, surgiu o primeiro moinho hidráulico, do qual o cacau saia em
forma de tortas. Em 1765 surge a primeira fábrica de chocolate nos Estados
Unidos, a companhia Baker's. Assim nascia uma indústria chocolateira, com os
processos mecânicos substituindo os métodos artesanais. Em 1778, o francês
Doret desenvolvia uma máquina para moer, misturar e aglomerar a massa de cacau.
Em meados do século XVII, devido ao desastre
demográfico e à estagnação econômica, a Nova Espanha havia decaído como
principal região produtora. As planícies litorâneas do Equador, da Venezuela e
das Antilhas tomaram o seu lugar, ao lado da Amazônia Portuguesa. Durante o
século XVIII o cacau era o principal produto exportado pela Amazônia
portuguesa: durante a administração jesuítica embarcavam-se anualmente para
Portugal 80.000 arrobas (1.200 toneladas), "fora o muito que se gasta na
terra e muito mais o que se perdeu por não haver já navios para ele". Nos
anos seguintes esse volume caiu pela metade, mesmo assim, entre 1756 e 1777,
ainda era responsável por 61% do valor dos embarques da Companhia Geral de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão, em Belém.
Na primeira metade do século XIX, os
portugueses, que já haviam levado o cacau para o Brasil, que se tornou o maior
produtor nos primeiros anos do século XX, o levaram também para a Guiné, de
onde ele iria-se difundir para outras colônias europeias da África Ocidental e
mais tarde para o Sudeste asiático e para a Oceania. No final do século XX as
maiores regiões produtoras estavam na África Ocidental.
Também ao longo dos séculos XIX e XX, o
chocolate atingiu elevados níveis de qualidade em função dos diversos aprimoramentos
realizados. Paralelamente à elevação da qualidade, os preços caíram atingindo
setores maiores da população. Desse modo, seu consumo cresceu de forma
acelerada. Em 1850, por exemplo, foram importadas 1.400 tonelada de cacau pela
Inglaterra, na virada do século essas importações multiplicaram-se por nove. A
partir da segunda metade do século XIX surgiram os primeiros "empresários
do cacau". Entre esses destacaram-se membros das famílias Hershey,
Caldbury, Fry, Rowntree, Cailler, Suchard, Peter, Nestlé, Lindt e Toble.
Em 1819, em Paris, era construída pelo
químico francês Pierre Pelletier a primeira fábrica que utilizava o vapor no
seu processo de fabricação. No mesmo ano, François-Louis Cailler fundava em
Vevey a primeira fábrica suíça de chocolate. Em 1831, Charles-Amédée Kholer
estabelecia outra fábrica em Lausanne, também na Suíça.[4] Em 1828 o
chocolateiro holandês Coenraad J. van Houten patenteou um método de retirada da
gordura das sementes torradas. Com a sua máquina, uma prensa hidráulica, Van
Houten conseguiu fabricar o cacau em pó. Depois, tratou esse pó com sais, como
carbonatos de potássio ou de sódio, para facilitar sua mistura na água. O
produto final tinha uma cor escura e um gosto suave. O cacau em pó tornou
possível a fabricação do chocolate sólido. Em 1849, o inglês Joseph Fry
produziu a primeira barra de chocolate comestível. Nesse mesmo período foram
desenvolvidos vários processos que contribuíram para criar o chocolate como
conhecido atualmente. Em 1879, Daniel Peter, chocolateiro suíço, teve a idéia
de usar leite condensado, inventado pelo químico Henri Nestlé em 1867, para fazer
o chocolate ao leite. Nesse mesmo ano Rodolphe Lindt inventou um processo para
melhorar a qualidade dos bombons de chocolate.
Em 1913 foi publicada pela Baker's Company a
primeira receita de "tabletes de baunilha", um doce feito com manteiga
de cacau, açúcar, leite e baunilha, depois batizada de "chocolate
branco" que não leva cacau na fórmula, apenas a gordura tirada da
semente.[5] Durante as grandes guerras mundiais o poder energético e
antidepressivo do chocolate é reconhecido pelo exército americano e começa a
fazer parte da "ração D", levada pelos soldados. Nos EUA, em 1941,
Forrest Mars lança o M&M's, pastilhas de chocolate recobertas com uma
camada de açúcar colorido. Ele tinha visto soldados espanhóis comerem algo
parecido durante a Guerra Civil Espanhola. Atualmente a Mars é a maior
compradora de cacau do mundo.
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