HISTÓRIA DO ROCK NO BRASIL
PARTE III – A DÉCADA DE 1980
Foi no início da década de 1980 que surgiu o primeiro selo
independente para bandas de punk rock, chamado Punk Rock Discos. Foi com este
selo que a banda Lixomania gravou o primeiro single de uma banda de punk rock
do Brasil, com 6 canções. O álbum Grito Suburbano, o primeiro LP com bandas de
punk rock do Brasil, também foi lançado através deste selo. O álbum é uma
compilação DIY com Inocentes e Cólera. Em 1982 o primeiro grande evento, O
Começo do Fim do Mundo, surgiu como o marco inicial do punk rock brasileiro,
com 20 bandas da cidade de São Paulo e do ABC paulista. A apresentação terminou
em um confronto com a polícia.
Atribui-se também a esta década a popularização e a verdadeira "explosão" do rock no Brasil, a princípio com o surgimentos de banda independentes divulgadas em fanzines.[58] Algumas bandas como Titãs e Os Paralamas do Sucesso permanecem ativas, fazendo apresentações por todo o país. Outros grupos e artistas da época, como Engenheiros do Hawaii, liderado por Humberto Gessinger, e Legião Urbana, foram imortalizados e tocam nas rádios até hoje, devido ao grande sucesso entre o público, principalmente adolescentes e jovens.
Outra coisa que também ajudou popularização do rock no país foi a trilogia de filmes do gênero dirigidos e roteirizados por Lael Rodrigues (Bete Balanço, de 1984, Rock Estrela, de 1985, e Rádio Pirata, de 1987). Todos estes três filmes foram de grande sucesso, particularmente entre adolescentes, e são notáveis por suas trilhas sonoras repletas de bandas e artistas de rock e New Wave populares na época, como Celso Blues Boy, Lobão, Titãs, Barão Vermelho, RPM, Azul 29, Dr. Silvana & Cia., Leo Jaime e Metrô, entre outros.
Também foram criadas casas de show, como Noites Cariocas e Circo Voador (Rio) e Aeroanta, Carbono 14, Lira Paulistana, Madame Satã e Napalm (São Paulo). Importantíssimas para a formação do cenário roqueiro da época.
As primeiras bandas a fazerem sucesso foram os paulistanos Gang 90 e as Absurdettes, com o hit Perdidos na Selva (inscrita no festival MPB Shell 81) e liderados pelo jornalista Júlio Barroso e os cariocas da Blitz, formados em torno do Circo Voador, tornando-se um fenômeno através do sucesso Você Não Soube me Amar. Também já existiam conjuntos formados por músicos experientes, como Radio Taxi, Herva Doce e os cantores Eduardo Dussek e Marina Lima, que vinham destacando-se desde o final da década anterior, porém, começaram a flertar com o rock a partir deste período.
As bandas mais cultuadas da época formam um Quarteto Sagrado[carece de fontes]. Entre elas estão Os Paralamas do Sucesso, banda que misturava rock e reggae do Rio de Janeiro,[59] os membros haviam se conhecido antes em Brasília e começaram a tocar na garagem de um dos integrantes. Os paulistanos dos Titãs, inicialmente formado por nove integrantes e influenciados pela new wave e pela MPB. Os cariocas do Barão Vermelho, surgidos em 1982 e liderados por Cazuza e Roberto Frejat. E a mais influente, Legião Urbana, liderada por Renato Russo e emplacando inúmeros sucessos que chegaram ao topo das rádios. Em pouco tempo, Cazuza e Renato passaram a serem considerados os principais letristas da história do rock brasileiro.
Vários locais do Brasil tinham seus circuitos de rock. No Rio de Janeiro, surgiram os já citados Blitz, Barão Vermelho e Os Paralamas do Sucesso, as bandas Kid Abelha e Biquini Cavadão, o cantor Leo Jaime e o fim do grupo Vímana (cultuadíssimo na década de 1970) revelou Lulu Santos, Lobão (também ex-Blitz) e Ritchie. Surgem também a banda João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, que apresentava uma mistura de estilos das década de 1950 e 1960, como rockabilly, surf rock e doo wop e grupos de soul e funk como Conexão Japeri e Brylho, que teve como baixista o músico Arnaldo Brandão (ex-A Bolha e futuro integrante do Hanói-Hanói). Da primeira saiu o cantor Ed Motta e da segunda, Claudio Zoli, que na década de 1990, chegou a integrar o grupo Tigres de Bengala, ao lado de Ritchie e Vinícius Cantuária.
Em São Paulo, além dos Titãs, surgiram as principais bandas paulistas, Ultraje a Rigor, RPM e Ira!. Outro acontecimento importante foi a chamada Vanguarda Paulista, liderada por Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. Houve também o movimento Punk paulistano, auxiliados pelo então radialista Kid Vinil, formado pelas bandas Inocentes, Cólera, Ratos de Porão, Olho Seco, Lixomania e culminando no festival O Começo do Fim do Mundo, realizado no SESC Pompeia em 1982. Posteriormente, outros grupos de temática punk foram formados, como Garotos Podres, 365 e Não Religião. Surgiu uma cena independente e experimental que girava em torno dos selos Baratos Afins e Wop Bop Discos, como Fellini, Cabine C, Agentss, Azul 29, Violeta de Outono, Voluntários da Pátria, Smack, Akira S e As Garotas Que Erraram, Gueto, Muzak, Nau, Mercenárias, o rockabilly do Coke Luxe, liderados por Eddy Teddy e até mesmo os grupos Korzus e Golpe de Estado, representantes do heavy metal e do hard rock respectivamente. Tal como no Rio de Janeiro, influenciados pelo soul e pelo funk surge Skowa e a Máfia e no Hard Rock também se destaca a banda Taffo, liderados pelo guitarrista Wander Taffo, com a presença dos irmãos Andria e Ivan Busic, futuros integrantes do Dr. Sin.
Em Brasília, o Aborto Elétrico (em que Renato Russo tocara) gerou a Legião Urbana e o Capital Inicial (que acabou se fixando em São Paulo). Outros destaques vindos da capital brasileira são a Plebe Rude com os sucessos Até Quando Esperar e Proteção e grupos que tornaram-se cult, como Detrito Federal. Outros grupos surgidos no período foram Little Quail and The Mad Birds, formado por Gabriel Thomaz (guitarra e vocais) Zé Ovo (baixo e vocais) e Berma (bateria, posteriormente substituído por Bacalhau), que apresentava uma mistura de punk rock e rockabilly e Raimundos, formado por Digão na bateria e Rodolfo Abrantes na guitarra. As duas bandas mantinham amizade, a ponto dos Raimundos gravarem canções de Little Quail, porém ambos se profissionalizaram somente na década seguinte.
Na Bahia, chegou ao sucesso o Camisa de Vênus, banda de Marcelo Nova.
No Rio Grande do Sul, os Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós chegaram ao sucesso nacional. Também surgiram bandas de menor projeção como TNT, Taranatiriça, Cascavelletes, Os Replicantes, Bandaliera, Garotos da Rua e DeFalla.
Em 1983, a banda paulista Spray assina com a gravadora Fermata e lança o seu primeiro disco, um compacto simples com a música Tic Tic Nervoso, que no ano seguinte estouraria em todas as rádios nacionais interpretada pela banda Banda Magazine, liderada por Kid Vinil.
Tiveram outros grupos que ficaram marcados pelo grande sucesso que fizeram na época, como as bandas Sempre Livre, Hanói Hanói, Metrô, ZERØ, Heróis da Resistência (liderada por Leoni, ex-Kid Abelha), Picassos Falsos, Uns e Outros, Egotrip, Dr. Silvana & Cia, Tokyo, grupo que revelou Supla e Hojerizah, essa última seria desfeita e na década de 1990, o vocalista Toni Platão iniciaria carreira solo. Os cantores Kiko Zambianchi, Celso Blues Boy e Fausto Fawcett também surgiram na década de 1980.
Em 1984, as bandas cariocas Dorsal Atlântica e Metalmorphose lançam em conjunto o álbum "Ultimatum Split", um Álbum split que é considerado o primeiro álbum de thrash metal de uma banda brasileira. Antes dele, porém, a banda santista Vulcano já havia lançado uma demo ("Om Pushne Namah").
Aproveitando-se da onda thrash metal no Brasil, surge, em Minas Gerais, o grupo brasileiro de maior sucesso internacional, o Sepultura, com letras em inglês. Também em Minas, é formado o Sexo Explícito, banda alternativa com a sonoridade voltada para o pós-punk, tornando-se "embrião" do Pato Fu. Outra banda a conseguir algum destaque no exterior (Japão) foi a paulista Viper, que também escrevia letras em inglês, e que ajudou a desenvolver um estilo que viria a ser chamado de metal melódico no Brasil. O Viper foi também responsável por revelar o vocalista Andre Matos, que participaria de duas grandes bandas brasileiras, o Angra e o Shaman.
É também na primeira metade da década de 1980 que inicia-se um movimento de folk progressivo no país. Um dos pioneiros é o músico mineiro Marco Antônio Araújo.
Em 1983, a banda Bacamarte lança o álbum Depois do Fim, que é considerado como um dos melhores do rock progressivo de todos os tempos no mundo, tendo o sítio Progarchives listado-o como um dos 40 melhores álbuns do gênero. Inovador para a época, o álbum trazia uma sonoridade totalmente diferente do início dos anos setenta, onde o talento individual de cada instrumentista, fez com que a banda fosse comparada ao Curved Air e ao Renaissance, dois ícones do progressivo britânico.
Em 1985 ocorre a primeira edição do Rock in Rio, evento que representou um marco não só pro rock nacional, bem como para a música brasileira, uma vez que as grandes estrelas da música internacional não costumavam visitar a América do Sul, pelo que o público local tinha ali a primeira oportunidade de ver de perto os ídolos do rock mundial.
Ainda em 1985, a CBS lança a coletânea "Que delícia de rock", com hits de várias bandas emergentes, como Dr. Silvana e Cia, Telex, Rádio Táxi, Omar E Os Cianos, Sempre Livre, entre outras. Destaque para a faixa “Descendo o Rio Nilo”, primeiro sucesso do grupo Capital Inicial.
Também em 1985, surge, na cidade de Santos, a banda Harry, considerada uma das pioneiras da chamada “cena industrial”. e do electrorock no Brasil. Em 1987, a mesma banda Harry lança, pela gravadora Wop Bob, o disco "Fairy Tales", considerado um dos discos mais emblemáticos do underground brasileiro. A década termina com a notícia da morte de Raul Seixas, em agosto de 1989.
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