HISTÓRIA DO ROCK NO BRASIL
PARTE II – OS ANOS 1970
O endurecimento do Regime militar levou Caetano e Gil ao exílio em Londres, onde viveram de 1969 a 1972. Durante o período, gravaram dois discos considerados dos seus melhores: Transa (Caetano) e Expresso 2222 (Gil).
Após sair dos Mutantes no final de 1972, Rita Lee iniciou sua carreira solo, acompanhada do grupo Tutti Frutti. É nesse período que ela lança o seu mais memorável álbum: Fruto Proibido (1975), disco este que contém os sucessos "Agora Só Falta Você", "Esse Tal de Roque Enrow" e "Ovelha Negra". Arnaldo Baptista também gravou o aclamado Lóki? (1974). Os Mutantes ainda atravessaram a década convertidos ao rock progressivo, passando por várias formações e dissolvendo-se em 1978.
Ainda em 1972, ocorre a Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém, um festival de música alternativa, fora do circuito comercial, considerado o Woodstock brasileiro.
Também em 1972, a banda Lee Jackson formada por Marcos Maynard, Luiz Carlos Maluly, Cláudio Condé, Marco Bissi e Sérgio Lopes, fez sucesso com o single "Hey Girl", que teve uma versão em português gravada pela banda The Fevers. Em 1976, a banda lançou o álbum Bill Haley presents Lee Jackson - featuring Rock samba. Com a participação do veterano Bill Halley, o álbum trazia versões de canções de rock estrangeiras com influências de samba. A banda foi desfeita em 1979, contudo seus membros se tornaram executivos de gravadoras e produtores musicais.
Em 1973, surgiram os Secos & Molhados, liderados por João Ricardo, com Ney Matogrosso como vocalista. A banda fazia a chamada "poesia musicada", gravando canções elaboradas como "Rosa de Hiroshima" e "Prece Cósmica", bem como canções menos poéticas e mais divertidas como "O Vira". Dois álbuns e um ano depois, em 1974, o grupo com sua formação clássica (João, Ney e Gerson Conrad) se desfez.
Também em 1973, Raul Seixas inicia uma carreira solo, chegando a vender 600.000 compactos de "Ouro de Tolo" em poucos dias. Seixas se tornaria "o bardo dos hippies" com músicas debochadas como "Mosca na Sopa" e "Maluco Beleza", esotéricas como "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" e "Gita", e motivacionais como "Metamorfose Ambulante" (composta pelo músico aos 14 anos) e "Tente Outra Vez".
A banda Paulo Bagunça e a Tropa Maldita lança o álbum homônimo misturando psicodelia, samba e soul. Apesar do fracasso, o álbum se tornou cult. Ex-membro da banda, o músico Macau ficaria conhecido anos depois com a canção "Olhos Coloridos", gravada por Sandra de Sá.
Movimentos surgiram em outros
locais do Brasil: em Minas Gerais, o Clube da Esquina, com influências de
Beatles e do rock britânico da época, era liderado por Milton Nascimento e Lô
Borges, tendo Beto Guedes como um de seus membros. Em São Paulo, o Moto
Perpétuo, liderado por Guilherme Arantes, misturava rock progressivo com MPB.
No Nordeste, havia a "nova onda" dos Novos Baianos e a chamada
"Invasão Nordestina", formada por artistas que misturaram a música do
nordeste brasileiro ao rock, como Fagner, Zé Ramalho, Belchior e Alceu Valença.
Mesmo com o pouco espaço na
mídia, várias bandas, artistas e estilos se destacavam no circuito underground
da época: o rock progressivo de Os Mutantes, liderados por Sérgio Dias
Baptista, após a saída de Rita Lee, o progressivo regional de O Terço (que
chegou a gravar um álbum em inglês voltado para o mercado italiano); o
progressivo Bixo da Seda. precursor do rock gaúcho, o hard rock do Made in
Brazil e da Patrulha do Espaço; o rock rural de Sá, Rodrix e Guarabyra (uma
espécie de folk rock brasileiro); o rock psicodélico, progressivo e funk do
trio Som Nosso de Cada Dia; o rock progressivo do Moto Perpétuo, grupo liderado
por Guilherme Arantes; o hard progressivo do Casa das Máquinas. Também se
destacam o músico e poeta Walter Franco; os grupos A Bolha e Som Imaginário,
que, em meados da década, excursionaram com Erasmo Carlos e Milton Nascimento
respectivamente. Apesar do estilo progressivo, A Bolha também fez incursões no
hard rock, enquanto o Som Imaginário buscava o experimentalismo e um flerte com
a MPB, assim como A Barca do Sol, que fazia um rock progressivo com pitadas de
choro e MPB. A soul music também foi explorada por outros artistas como Tony
Tornado,Trio Ternura, Trio Esperança, Gerson King Combo, ex-coreógrafo do
programa Jovem Guarda, e Miguel de Deus, ex-Os Brazões.
Inspirados no Festival de
Woodstock, surgem eventos similares no país, como o Festival de Verão de
Guarapari, realizado em 1971 na cidade de Guarapari. Em 1975, surgiram o
Festival de Águas Claras, na Fazenda Santa Virgínia, em Iacanga, interior de
São Paulo, o festival Banana Progressiva, realizado no Teatro da Fundação
Getúlio Vargas, em São Paulo.[49] e o Hollywood Rock, patrocinado pela
companhia Souza Cruz, no Rio de Janeiro. Deste último, participaram os grupos
Vimana, O Peso, Rita Lee & Tutti Frutti, além dos cantores Erasmo Carlos,
Raul Seixas e os irmãos Celly e Tony Campelo. As apresentações foram
registradas no documentário Ritmo Alucinante, lançado no mesmo ano.
No final da década, apesar de
pouquíssimos representantes jovens na música brasileira, surge uma leva de
grupos predecessores da geração seguinte do rock brasileiro, que incorporavam
elementos da MPB, do Tropicalismo e do Clube da Esquina, porém com uma nova
linguagem. Entre esses conjuntos estão A Cor do Som, que tinha Armandinho
Macedo (filho de Osmar Macedo da dupla Dodô e Osmar) que resgatou o pau
elétrico, agora com o nome de guitarra baiana, o grupo foi apadrinhado por
Gilberto Gil, Caetano Veloso e pelos Novos Baianos; o grupo 14 Bis, banda de
Flávio Venturini, recém saído de O Terço, foi acolhido pelo Clube da Esquina; e
o Roupa Nova, originado da banda Os Famks, banda formada por músicos
experientes em bailes desde a década de 1960. Ambos tornaram-se conhecidos
nacionalmente entre 1979 e 1980.
Também no final da década surge o
movimento do Punk rock brasileiro, criado como crítica à censura, à repressão
do regime militar e à exploração do trabalhador, liderado pela bem humorada
banda Joelho de Porco (considerados pioneiros do punk rock no Brasil). Junto
com eles, surgem, em Brasília e em São Paulo, as bandas Restos de Nada, AI-5,
Condutores de Cadáver, Detrito Federal e Aborto Elétrico. O músico Kid Vinil
foi um dos maiores incentivadores do início do movimento punk paulista
organizando shows e tocando músicas de bandas de punk rock e pós-punk em seu
programa de rádio.
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