A LITERATURA PORTUGUESA NO SÉCULO
XV
No final do século XIV, com a
Crise de 1383-1385, inicia-se uma nova etapa na literatura portuguesa. Nesta
época, os reis continuaram ligados à criação poética: o Rei D. João I de
Portugal escreveu um Livro da Caça, e seus filhos D. Duarte I e Pedro, Duque de
Coimbra compuseram tratados morais. Também nesta época, um escriba anónimo
contou a história heróica de Nuno Álvares Pereira na Crónica do Condestável. A
tradição cronística portuguesa começou com Fernão Lopes, quem compilou as
crónicas dos reinados de D. Pedro I, D. Fernando I e D. João I, combinando a
paixão pela exactidão com uma especial destreza para a descrição e o retrato.
Gomes Eanes de Zurara, que lhe sucedeu no posto como cronista oficial e
escreveu a Crónica da Guiné e das guerras africanas, é igualmente um
historiador bastante fiável, cujo estilo, no entanto, está afectado pelo
pedantismo e a tendência moralizante. Seu sucessor, Rui de Pina, evitou estes
defeitos e ofereceu um relato se não artístico, pelo menos útil, dos reinados
de D. Duarte, D. Afonso V e D. João II. A sua história do reinado deste último
monarca foi, também, reutilizada pelo poeta Garcia de Resende, que a enfeitou
com episódios vividos por si em primeira pessoa e a publicou com o seu nome.
No campo da poesia, esta época está marcada pela influência da poesia renascentista italiana, em especial de Petrarca, que se introduziu na literatura portuguesa através da espanhola. Isto levou a que muitos autores, como Pedro Condestável de Portugal, amigo de Íñigo López de Mendoza, escrevessem em castelhano. Evidências da influência da literatura italiana sobre a portuguesa nesta época são o gosto pela alegoria ou pelas referências à Antiguidade Clássica. Nesta época coleccionaram-se cancioneiros como o Cancioneiro Geral compilado por Resende, que contém o labor de uns 300 cavaleiros e poetas de tempos de D. Afonso V e D. João II e que foi inspirado por Juan de Mena, Jorge Manrique e outros poetas espanhóis. A maioria destas composições eram poesias artificiosas e conceptuais de temática amorosa ou satírica. Entre os escassos poetas que demonstraram um especial talento e verdadeiro sentimento poético se encontram o próprio Resende, autor de uns versos à morte de Inês de Castro, Diogo Brandão, autor de um Fingimento de Amores, ou o próprio Condestável D. Pedro. No entanto, entre estes cancioneiros aparecem também três nomes que estavam destinados a mudar o curso da literatura portuguesa: Bernardim Ribeiro, Gil Vicente e Sá de Miranda.
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