A IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL
Durante a segunda metade do
século XIX, alguns fazendeiros começaram a perceber que a utilização de mão de
obra livre poderia ser mais rentável que a mão de obra escrava, devido ao
elevado preço dos cativos e ao fato de estes estarem indispostos a elevar a
produção, já que não gozavam de nenhum estímulo para tal, o que reduzia a
produtividade e a competitividade do gênero agrícola brasileiro.
A primeira iniciativa de
imigração para o Brasil havia ocorrido durante o governo de D. João VI
(1808-1821), através da formação de uma colônia de imigrantes suíços em Nova
Friburgo, no Rio de Janeiro (1818), além da chegada de germânicos no Rio Grande
do Sul, em 1824. Entretanto, o empenho sistemático de utilização desse tipo de
mão de obra partiu do senador Nicolau de Campos Vergueiro, em 1847, depois de
adotar em sua fazenda, em São Paulo, o sistema de parceria.
Nesse sistema, o fazendeiro
custeava a vinda do imigrante e o sustento durante os primeiros anos no Brasil.
Os novos trabalhadores deveriam produzir o café e os produtos de subsistência.
Após certo período, 1/3 de todo lucro seria entregue aos imigrantes e o
restante, caria com o proprietário da fazenda.
O sistema de parceria não obteve
sucesso por vários motivos, entre os quais se destacam os maus tratos dos fazendeiros
aos imigrantes, os elevados juros cobrados pelo valor referente ao custeio da
viagem e o fato de muitos fazendeiros omitirem a obtenção de lucro, não pagando
a parte devida aos trabalhadores. Os fazendeiros ainda tinham uma mentalidade
escravocrata e, em função disso, ocorreram revoltas dos imigrantes contra os
proprietários, como a de Ibicaba (SP), em 1857.
Algumas regiões da Europa, de
onde vinha a maioria dos trabalhadores, chegaram, inclusive, a proibir a vinda
de novos imigrantes para o Brasil. Posteriormente, o governo brasileiro
interveio na questão da imigração, realizando o sistema de imigração
subvencionada, que, com dinheiro público, pagava a passagem para o imigrante
sob a fiscalização governamental, evitando o abuso dos fazendeiros.
Mesmo com tais problemas, a
imigração para o Brasil e para outros países da América, principalmente EUA e
Argentina, continuou a ocorrer, já que a situação política e econômica da
Europa era completamente instável, levando muitos europeus a tentarem obter trabalho
na América. Os principais países que enviaram imigrantes ao Brasil foram a
Itália e a Alemanha, seguidas de perto pelos povos eslavos, durante o Período
Imperial. Após o m da escravidão e o início da República, outras nacionalidades
entraram no Brasil, com destaque para portugueses, sírios, libaneses, espanhóis
e japoneses.
Grande parte dos imigrantes
instalava-se nas regiões Sudeste e Sul, sendo o estado de São Paulo o local de
maior presença desse tipo de mão de obra. Os imigrantes evitavam trabalhar nas
fazendas do Vale do Paraíba, indo, preferencialmente, para a região do Oeste
Paulista, onde os fazendeiros estabeleciam uma relação de produção mais
racional. Nessa região, existiam melhores remunerações pelo trabalho, seja sob
a forma de arrendamentos ou mediante os pagamentos em dinheiro pela formação da
lavoura.
O estímulo à imigração também
está associado ao projeto de branqueamento do povo brasileiro, orientado por um
pensamento europeu em um contexto de avanço imperialista, que pressupunha a ideia
de uma raça branca superior. Esse pensamento era defendido por parcela da elite
brasileira, em contato com teorias como o evolucionismo social, que lamentava a
origem miscigenada de nossa sociedade.
O acesso dos imigrantes à posse
da terra chegou a acontecer, mas com muitas dificuldades, já que a elite
agrária pressionou o Estado Imperial a criar um instrumento legal que
possibilitasse a manutenção da arcaica estrutura fundiária brasileira. De
acordo com a Lei de Terras, aprovada em 1850, as terras públicas só poderiam se
tornar propriedade privada por meio de compra, e não mais por doação ou posse.
Como a legalização dessas terras
exigia a obtenção de títulos e pagamento de elevadas taxas, aqueles que
detinham baixa renda não conseguiam ter acesso à propriedade no Brasil. Pode-se
realizar o contraste com o Homestead act norte-americano, que, em período
próximo ao da Lei de Terras brasileira, facilitou o acesso à terra por meio da
doação.
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