O MOVIMENTO ABOLUCIONISTA
O projeto abolicionista nacional
se estruturou dentro de um diversificado caminho, que pode ser exemplificado
desde as manifestações de resistência à escravidão ocorridas nas senzalas até o
esforço internacional ao combate do trabalho cativo do negro no Brasil. Dentro
desse amplo debate, cabe destacar os esforços empreendidos pelas sociedades
abolicionistas, em especial após o ano 1880, que buscavam defender o interesse
dos negros em um país economicamente dependente do trabalho escravo.
Entre os vários grupos,
destaca-se a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, fundada em 1881 e ligada
ao jornal O Abolicionista, importante espaço de divulgação das ideias
contrárias ao trabalho escravo. Entre as principais lideranças abolicionistas,
estão os monarquistas Joaquim Nabuco e André Rebouças, e os republicanos José
do Patrocínio e João Clapp.
A ampla divulgação das ideias
abolicionistas favoreceu o avanço de ações que iam além das famosas leis que
tratavam do tema do trabalho escravo. Nesse sentido, pode-se destacar:
• o apoio dado à fuga de escravos
por parte de algumas sociedades abolicionistas, em especial na região Sudeste;
• a criação de fundos de emancipação, que
conseguiram acabar com o trabalho escravo nas províncias do Ceará e Amazonas
ainda antes da Lei Áurea;
• o contato com sociedades
abolicionistas internacionais empreendido por Joaquim Nabuco e José de
Patrocínio nas visitas realizadas à Europa nos anos de 1881 e 1884,
respectivamente.
Para fazer jus às transformações
que julgava necessárias, a nascente classe média fez-se representar no
Exército, mais especificamente nos ideais republicanos. Desde o início do
século XIX, a Inglaterra já pressionava o Brasil para por fim ao tráfico de escravos,
levando as autoridades legais a formalizar uma lei proibindo o tráfico em 1831.
Porém, essa lei não saiu do papel (“Lei para inglês ver”), mantendo-se a
entrada de levas de escravos africanos no país. Percebendo que as tentativas
para acabar com a vinda de escravos para o Brasil eram inócuas, os ingleses
mudaram de tática.
Em 8 de agosto de 1845, o
Parlamento inglês aprovou uma lei chamada Bill Aberdeen, que determinava que os
navios ingleses teriam autoridade para aprisionar qualquer navio negreiro que
encontrassem, de qualquer nacionalidade.Inúmeros navios brasileiros foram
apreendidos e afundados pelas autoridades britânicas na busca de coibir o
tráfico. A Bill Aberdeen também pode ser compreendida como uma reação inglesa
frente à aplicação da Tarifa Alves Branco, que dificultou a entrada de produtos
industriais britânicos no Brasil. Contudo, apesar das restrições inglesas, o
tráfico se manteve vigoroso nos anos seguintes, principalmente pela elevação do
preço dos escravos, consequência direta da lei inglesa.
Não resistindo à pressão da
Inglaterra, o Brasil criou uma nova lei que proibia o tráfico de escravos e
que, ao contrário das ordens anteriores, mostrou-se mais eficaz, haja vista a
pressão exercida pelo próprio governo para a sua execução. Criada em 4 de
setembro de 1850, a Lei Eusébio de Queirós já apresentava resultados em 1851,
quando o Brasil recebeu apenas 3 287 escravos, sendo que, no ano anterior,
antes da lei, entraram no Brasil 23 000 escravos. A redução foi ainda maior em
1852, quando entraram apenas 700 escravos.
No contexto de uma pressão
exercida por setores da população urbana e da classe média que discordava da
escravidão, a Lei do Ventre Livre, também conhecida por Lei Rio Branco, foi
homologada em 1871, sendo uma tentativa de acalmar a discussão sobre o tema.
Dando continuidade a um projeto elitista, que visava à lenta extinção do
trabalho compulsório, essa lei propunha que todos os escravos nascidos a partir
daquela data seriam considerados livres.
Porém, o efeito de tal resolução não
foi tão significativo para os lhos dos escravos, afinal, como poderia uma
criança ser livre se seus pais permaneciam em cativeiro? Além disso, a lei
estabelecia a responsabilidade do senhor da fazenda de cuidar da criança até os
21 anos de idade, sendo que os senhores se aproveitavam do trabalho dos
“escravos livres” sob o pretexto de que estavam colaborando para a formação dos
libertos pela lei.
Declarava livres os escravos com
60 anos de idade ou mais. Essa lei bene ciava, em última instância, os proprietários,
afinal, os poucos escravos que chegavam a essa idade não tinham condição de
assumir trabalhos pesados, sendo então libertos e dispensados das fazenda, o
que reduzia o custo do proprietário. Quando um escravo conseguia chegar a essa
idade e se interessava em se bene ciar dessa lei, era muito difícil a aplicação
da nova legislação, devido à ausência de comprovantes que pudessem assegurar a
sua idade, afinal, todos os documentos relativos à vida de cada cativo cavam
sob a posse de seus proprietários.
Assinada em 13 de maio de 1888
pela princesa Isabel, visto que o imperador se encontrava em viagem, essa lei
estabelecia a liberdade para todos os escravos no Brasil. Entretanto, a Lei
Áurea foi omissa sobre possíveis indenizações a serem pagas aos escravos pelos
anos de trabalho gratuito aos seus senhores. Isso significa que a maioria dos
antigos escravos não tinha como recomeçar a vida sem estarem submetidos ao
mesmo sistema econômico que os havia transformado em uma força de trabalho
desqualificada.
As redes de preconceito e de
desvalorização social não foram desfeitas, não houve efetiva integração social
e a condição do ex-escravo permaneceu próxima àquela estalebecida durante o
período anterior à Lei Áurea. Muitos permaneceram nas fazendas onde já trabalhavam
como escravos, visto que desconheciam outros projetos de vida que pudessem
permitir seu desenvolvimento econômico. Os libertos que buscavam as cidades
após a abolição encontravam poucas opções de trabalho. Acabavam, por conta
disso, muitas vezes incorporados à criminalidade.
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