Domingo Sangrento e a Revolução
de 1905
Domingo Sangrento foi um terrível
evento ocorrido em 9 de janeiro de 1905, na cidade de São Petersburgo, Rússia.
Na ocasião, milhares de pessoas que estavam nas imediações do Palácio de
Inverno — residência dos czares —, determinadas a entregar em mãos de Nicolau
II uma carta de reivindicações de melhorias das condições de trabalho nas
fábricas da cidade, foram fuziladas pelos guardas imperiais.
A ação arbitrária contra os
trabalhadores acabou por gerar uma reação em cadeia de revoltas em várias
outras cidades russas, o que acabou por configurar a Revolução Russa de 1905 —
encarada como um ensaio da Revolução de 1917.
Para se ter uma compreensão
satisfatória da Revolução de 1905, faz-se necessário saber alguns detalhes do
contexto da Rússia czarista da transição do século XIX para o século XX.
Portanto, inicialmente, devemos levar em conta que o último czar, Nicolau II,
era herdeiro da política do absolutismo monárquico, ainda forte na Rússia
naquela época. Essa estrutura, em meados do século XIX, gerou um grande
problema para a Rússia, já que ela havia se atrasado, em relação a outras
potências europeias, no processo de industrialização. Enquanto nações como
Alemanha, França e Inglaterra estavam avançadas em termos industriais, a Rússia
permanecia semifeudal.
A transição do regime semifeudal
para o industrial ocorreu de forma abrupta na década de 1890, sobretudo por
conta da construção da ferrovia transiberiana, que permitiu o escoamento de
produtos industriais da Europa Ocidental para o Leste do continente e,
consequentemente, a formação das primeiras fábricas em solo russo. A cidade de
São Petersburgo, onde aconteceu o massacre do Domingo Sangrento, foi uma das
que receberam tais fábricas. Dessa forma, como bem ressalta o pesquisador Luiz
Enrique de Souza:
[…] O desenvolvimento industrial
convertera-se, pois, numa obsessão do governo, e os homens de negócios
refestelaram-se com a liberalidade de recursos que fluíam dos cofres nacionais,
fosse por meio de subsídios diretos, proteção alfandegária ou de contratos para
obras de infraestrutura que visavam justamente a impulsionar a atividade
produtiva. Uma vez que o mercado interno encontrava-se ainda em processo de
formação, coube ao Estado garantir um volume de encomendas que viabilizasse a
construção de linhas férreas, assim como outros negócios que dependessem de uma
maior inversão de capitas.
O grande problema era que nem o
czar e os aristocratas russos nem os primeiros industriais do país souberam
lidar com a massa de operários, isto é, trabalhadores urbanos, que se formou em
torno de cidades como São Petersburgo. O massacre do Domingo Sangrento, por
exemplo, ocorreu em virtude da demissão arbitrária de quatro operários que
haviam reclamado dos maus-tratos físicos empreendidos pelo capataz na fábrica.
O Domingo Sangrento fez com que a
revolta dos trabalhadores russos se espalhasse como fogo tanto no campo quanto
nas cidades. Greves, motins e manifestações reuniam milhares de pessoas. Nesse
meio-tempo, a oposição clandestina ao czarismo passou a atuar com as massas,
buscando coordená-las.
Entre os opositores, estavam os
anarquistas niilistas e os populistas narodiniques, ambos partidários da ação
violenta e do terrorismo, bem como liberais, social-democratas e a esquerda
revolucionária de matriz marxista, que daria no bolchevismo, tendo à frente
Lenin e Trotsky.
A pressão popular, além de
reivindicar melhores condições de trabalho, reformas econômicas e o fim dos
privilégios da estrutura absolutista, também tinha em vista a reforma política
da Rússia.
Nicolau II, em outubro de 1905,
concordou em promover certa abertura política, permitindo a criação da Duma,
isto é, um parlamento nacional. Isso foi feito a partir do chamado Manifesto de
Outubro. Entretanto, com o advento da Primeira Guerra, em 1914, a nova
estrutura política promovida pelo czar e a economia do império russo ruiriam, o
que permitiu que fosse levada a cabo a segunda e definitiva Revolução Russa, a
de 1917.
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/domingo-sangrento-revolucao-1905.htm
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