AS CAUSAS DA GUERRA GUARANÍTICA

AS CAUSAS DA GUERRA GUARANÍTICA

As missões jesuítas guaraníticas eram um conjunto de trinta cidades missionárias fundadas no século XVII pela ordem religiosa católica da Companhia de Jesus, entre os aborígenes guaranis e povos relacionados, cujo propósito era sua evangelização. Geograficamente, quinze dessas missões se localizavam nas províncias atuais de Misiones e Corrientes, na Argentina; oito delas na atual região do Paraguai e as sete restantes, chamadas Missões Orientais, localizadas no sudoeste do Brasil. Todas estas regiões localizadas na jurisdição chamada Província Paraguaria localizada no Virreinato do Peru e regiões abrangentes do atual Paraguai, Argentina, Uruguai e partes da Bolívia, Brasil e Chile.

Com o coroamento de Fernando VI (1746-1759), na Espanha, tendo como rainha Bárbara de Bragança (1711-1758), filha de João V (1689-1750), de Portugal; o novo rei espanhol herdou o beligerante problema de fronteiras entre os dois domínios, causa de constantes guerras, arregimentação de tropas e da população. Fernando VI escolheu uma política conciliadora, optando pela neutralidade frente às tensões entre a França e a Inglaterra, e estabelecendo um momento de reconstrução do seu poder econômico e militar no mundo.[1] Consequentemente a aproximação com Portugal se tornou mais efetiva e crucial para o Tratado de Madrid no ano de 1750. Fernando VI foi coroado em 10 de junho de 1746. Em 12 de novembro já ocorriam as primeiras negociações para um tratado de limites abrangente.

Desde 1680, Portugal havia implantado o enclave da Colônia do Sacramento na sua banda oriental (atual Colônia, no Uruguai), em uma operação de interesse geopolítico para expandir suas fronteiras, mas que se revelara economicamente substancioso pelo contrabando da prata, do couro, do chifre, do sebo e da erva-mate. Três guerras importantes já haviam sido travadas pelo reduto, perdidas por Portugal, mas recuperado na esfera diplomática. Quando não estava em guerra ou ocupada, a Colônia do Sacramento encontrava-se bloqueada permanentemente pela esquadra naval e tropas de terra da Espanha. Este conflito gerou um impasse nas as missões jesuíticas da bacia do alto Uruguai. Quando as negociações vislumbraram a permuta da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos, o marquês de la Ensenada e o jesuíta Francisco de Rávago manifestaram-se contra.

Desde o início das conversações, dois problemas de “usurpação” de territórios afloraram. A Espanha indicava a exagerada progressão lusitana sobre o sul, com a anexação do Rio Grande de São Pedro e parte da banda oriental do Uruguai, além da famigerada Colônia do Sacramento. Portugal, por sua vez, indicava a posse espanhola ilegítima das Filipinas. Depois de diversas conferências, os dois reinos adotaram o princípio do Uti possidetis para as questões dos domínios ultramarinos, associado aos marcos notáveis das divisões naturais “dos montes ou rios grandes”. O critério possibilitou que Portugal ficasse com o domínio da Amazônia e a Espanha com o do Rio da Prata, combinado com algumas concessões mútuas de territórios adjacentes.

No entanto, a cessão das missões jesuítas aos portugueses foi um preço elevado para os líderes políticos espanhóis. Desde a sua criação, os jesuítas foram capazes de criar uma barreira real para a penetração portuguesa no Rio de la Plata e no Paraguai, formando, de fato, as únicas populações permanentes em uma fronteira irresoluta e tradicionalmente despovoada, um fato que facilitou o avançado lusitano sobre ela. Além disso, os jesuítas tinham conseguido com persuasão a pacificação hierárquica[10] das tribos indígenas naquela região e sua conversão em trabalhadores disciplinados e convertidos ao cristianismo. Este valor agregado que os missionários indígenas tinham (sua integração social e a produtividade de que eram capazes) tornava-os objeto da ganância dos bandeirantes, expedições de caça de índios que, a partir de cidades como São Paulo, no Brasil Português, buscavam para proporcionar escravos mais baratos do que os negros africanos aos latifundiários portugueses para as suas explorações agrícolas. Ao longo do século XVII e na primeira metade do século seguinte, as bandeiras e os missionários indígenas, liderados pelos jesuítas, entraram em confronto em confrontos sangrentos, geralmente favoráveis ao último, como, por exemplo, a batalha de Mbororé (sobre um afluente do curso superior do rio Uruguai), em 1641.

Por fim, a coroa espanhola preferiu entregar esses domínios em troca da Colônia e o novo Tratado foi assinado em Madri a 13 de janeiro de 1750, tendo como signatários José de Carvajal e o visconde de Vila Nova de Cerveira (Luis Silva Teles). Deixavam de valer o Tratado de Tordesilhas (1494) e a Escritura de Saragoça (1529).

 

 

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