A ERA DOS FESTIVAIS
A partir da década de 1960, o
Brasil experimentou um desenvolvimento em sua economia que se consolidou por
novos símbolos de modernidade. No campo das artes, podemos destacar que essa
renovação se deu em relação à ascensão da televisão enquanto novo veículo de
comunicação capaz de remodelar o comportamento e a relação do público com os
bens culturais produzidos naquela época.
Um dos mais fecundos exemplos
dessa nova relação pode ser percebido com a realização dos festivais de música.
O cenário musical brasileiro abrigava novos artistas que viviam num período
politicamente marcado por uma democracia que permitia a realização desse tipo
de evento. Ao mesmo tempo, a música brasileira entrava em contato com novas
influências musicais que abriam portas para a consolidação de uma cultura
jovem.
No início da década de 1960, a TV
Tupi de São Paulo produziu um programa chamado “Hora da Bossa”. A apresentação
desses programas dotados de novidades musicais era viabilizada por uma época em
que vários shows em universidades, barzinhos e rádios aconteciam
simultaneamente. Essa efervescência musical inspirou o produtor de TV Solano
Ribeiro a realizar o “I Festival da A TV Excelsior, a primeira a realizar o
evento, acabou perdendo o programa com a proposta que levou Solano Ribeiro para
a TV Record. Essa emissora investiu na realização dos festivais e na produção
de outros dois programas nos quais a música brasileira parecia ser
compartimentada em dois seguimentos. Um deles era o Bossaudade, onde os estilos
musicais mais antigos e tipicamente brasileiros eram prestigiados. O segundo
era o Jovem Guarda, onde jovens embalados pelo rock curtiam o som da turma de
Roberto e Erasmo Carlos.
Esses dois programas acabaram
gerindo uma intensa rivalidade nos festivais onde nacionalistas e experimentais
ofereciam os mais variados sons ao público. Entre outros artistas podemos
destacar o surgimento do grupo Os Mutantes e cantores como Caetano Veloso, Tom
Zé e Gilberto Gil. Outra vertente bastante rica também se consolidou com a
chamada música de protesto, que tinha, entre outros artistas, Geraldo Vandré e
Chico Buarque de Hollanda.
Com o enrijecimento da censura
durante a ditadura militar, os festivais acabaram perdendo sua viabilidade
mediante a repressão instaurada. Um dos mais célebres casos dessa mudança
aconteceu durante o festival de 1968, quando o cantor Geraldo Vandré conquistou
todo o público com a música “Caminhando”. Os censores do governo, antes do
anúncio dos vencedores, proibiram que Vandré fosse considerado autor da melhor
canção.
A realização daquele tipo de
programa acabou trazendo à tona um tipo de experiência que transformou a
própria organização do meio televisivo. Os jovens, aos se diferenciarem dos
adultos e crianças, imprimiam a idéia de que diferentes nichos de consumo
poderiam ser alcançados por meio da mídia. Além disso, formulou um ideal
estético que ainda hoje norteia muitos dos programas televisivos. A juventude
passou a ser uma idéia vendida em belos rostos e situações intensas
experimentadas mediante a TV.
Mesmo durante um curto período de
tempo, os festivais marcaram um período de intensa atividade cultural que
apontava para diferentes transformações históricas. A televisão viria a se
transformar em um espaço de discussão pública onde os eventos nela acontecidos
seria alvo do debate das pessoas nas ruas, na casa e no trabalho. Além disso, a
geração juvenil dessa época manifestaria no “frenesi” dos festivais a mudança
de comportamento em tempos de democracia.
https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/festivais-no-brasil.htm
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