A UTOPIA DOS SETE POVOS
O Rio Grande do Sul abriga sítios
arqueológicos que são verdadeiros testemunhos da presença jesuíta na região, no
conturbado período da colonização em que as Coroas da Espanha e Portugal
disputavam o domínio das terras do novo mundo.
Século XVII. No Continente do Rio
Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, os jesuítas espanhóis fundaram
sete povoados: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Lourenço Mártir, São
João Batista, São Luiz Gonzaga, Santo Ângelo Custódio e São Miguel Arcanjo.
Este último, tombado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, juntamente com
as ruínas no Paraguai, Argentina e Bolívia.
As reduções - como eram
conhecidas - eram concebidas de forma a
se desenvolverem de forma autossustentada, conforme havia prescrito Ignácio de
Loyola nas Constituições da Ordem, onde cada domicílio da Companhia ficava
obrigado a funcionar com independência, e por isso deviam possuir todos os
equipamentos e estruturas necessários para tal, tornando-se na prática grandes
empresas industriais e agropecuárias. Nesse processo chegaram a constituir
verdadeiras cidades, muitas delas com milhares de habitantes, compostas por um
núcleo urbano principal com as habitações, igreja, colégio, presídio, mercado e
oficinas diversas, e grandes áreas em torno dedicadas às lavouras e criações de
gado.
A Prof. Claudete Boff, Mestre em
História Latino-americana e docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), nos faz
uma síntese desta que constituiu-se numa das mais notáveis utopias da história:
"Elas são importantes porque
na verdade elas expressam uma sociedade que, vamos dizer assim, os jesuítas
trabalharam com os índios guaranis e também outras parcialidades indígenas, mas
predominava o guarani, formando uma sociedade comunitária aonde eles, os
jesuítas, procuraram reunir estas parcialidades indígenas - especialmente o
índio guarani que aceitou mais - com a finalidade da catequese. Então a finalidade
maior era a catequese, mas é lógico que a Coroa Espanhola - no caso aqui era
território espanhol - tinha interesses
também de estabilização de fronteiras, do domínio de estabelecer o local. Então
estes núcleos se desenvolveram muito.
Economicamente eles eram autossustentáveis, eles tinham tanto um
patrimônio cultural como material
expressivo e é claro que isto também foi
causando uma certa inveja nas Cortes Europeias, especialmente na Corte
Espanhola.
E também foi uma época de
pensamento, na Europa e na Espanha, diferente, a questão do iluminismo. Esta
questão da separação do Governo entre a Coroa e a Igreja. Então este pensamento
iluminista também já não fechava muito
com o tipo de administração que os jesuítas estavam desenvolvendo na América.
Então isto aí, infelizmente, eu
acho que foi de grande prejuízo, para as Reduções. É claro que o pensamento
iluminista era da época, teve muitas coisas boas. Mas no caso assim, foi um dos
aspectos que foi levando para a esta derrocada".
Os Sete Povos das Missões
conheceram seu apogeu no século XVII. As Guerras Guaraníticas, marcaram o seu
fim:
“Sim, as Guerras Guaraníticas
foram a derrocada final. Mas antes das Guerras Guaraníticas, as Reduções
sofriam muito com o apresamento dos índios, feitos pelos portugueses mesmo,
paulistas, que vinham até as Reduções, atacavam estas Reduções, para levar
indígenas para servir de mão-de- obra para as lavouras, especialmente na região
de São Paulo e mais para cima, de cana-de-açúcar.
Mas elas, como tu me perguntaste,
se elas foram economicamente importantes, sim, elas foram, porque os jesuítas
tinham um trabalho, que conseguiram fazer com que os índios tivessem um
trabalho bastante regrado, a produção era para todos e o excedente eles
trocavam por outros produtos, vendiam, mandavam para a Europa. Eles eram
grandes administradores e também sabiam como fazer este desenvolvimento
econômico. Então, no Rio Grande do Sul, e nas outras também, a gente sabe,
Córdoba na Argentina, eles tinham fazendas. No Rio Grande do Sul houve um grande
desenvolvimento do gado, eles trouxeram o gado, então, eles tinham o couro,
enfim, a carne".
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