A OCUPAÇÃO DO INTERIOR
Entrementes, na parte noroeste do
estado, os jesuítas espanhóis, ligados à Província Jesuítica do Paraguai,
haviam estabelecido desde 1626 numerosos aldeamentos muito organizados,
reunindo grande população indígena, as reduções, fundadas na região noroeste
próximo ao Rio Uruguai e penetrando pela depressão central até quase Porto
Alegre. Sete delas ficariam sendo conhecidas como os Sete Povos das Missões,
cujo extraordinário florescimento incluía refinadas expressões de arte nos
moldes europeus. Os padres construíram uma civilização à parte dos conflitos
que agitavam o litoral, e deixaram muitos registros sobre os povos indígenas,
sobre a geografia, a fauna e a flora da região, mas suas missões acabaram por
ser varridas do mapa, e sua contribuição mais direta para a história do estado
luso que se formou se resumiu à introdução do gado, ao desenvolvimento de
técnicas de pastoreio que mais tarde seriam assimiladas pelos portugueses, e à
criação de uma mitologia própria sobre a cultura missioneira, que hoje vem ganhando
crescente prestígio no discurso oficial. Deixaram também extraordinário legado
escultórico e arquitetônico, que se não fossem as pilhagens e depredações que
sofreu no século XIX, muito maior e melhor conservado seria, documentando a
opulência de suas igrejas e a sofisticação dos aldeamentos.
No século XVIII um novo acordo
entre as coroas ibéricas, o Tratado de Madrid, haveria de mudar mais uma vez as
fronteiras. Através deste tratado, firmado em 13 de janeiro de 1750,
estabeleceu-se a permuta da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos, cujas
populações indígenas seriam transferidas para a área espanhola além do rio
Uruguai. A demarcação das novas fronteiras e a mudança dos povos aldeados não
transcorreram sem dificuldades. Os jesuítas e os índios protestaram,
esperava-se confronto, e o Marquês de Pombal ordenou que o legado português, o
capitão-general Gomes Freire de Andrade, não entregasse Sacramento sem que
antes tivesse recebido os Sete Povos. A situação se agravou e o conflito
esperado eclodiu em Rio Pardo, originando a chamada Guerra Guaranítica, que
dizimaria grande número de índios e dissolveria as Missões, mas no episódio
despontou a figura legendária do líder indígena Sepé Tiaraju, hoje considerado
um herói do estado e um mártir da causa dos índios.
Depois da Guerra Guaranítica,
Portugal decidiu prestar mais atenção à capitania, que por esta altura contava
com pouco mais de sete mil habitantes, distribuídos em cerca de 400 estâncias e
poucos povoados e arraiais. Desvinculou-a de Santa Catarina e a ligou
diretamente à sede carioca, nomeando um governador civil em vez de um
comandante militar. Em 1760 o governador espanhol em Buenos Aires, Don Pedro de
Cevallos, começou a intimar os portugueses a abandonarem todas as terras
ocupadas ilegalmente. Diante da ausência de resposta, em 1763 atacou e
conquistou Rio Grande, causando a fuga em massa dos populares e obrigando a
mudança às pressas da capital portuguesa para Viamão. Agora o território
português se resumia a uma estreita faixa entre o litoral e o vale do rio
Jacuí. Em 1773 a capital foi transferida de Viamão para Porto Alegre, em vista
de sua situação geográfica privilegiada. Em 1776 a vila de Rio Grande foi
retomada. Um outro tratado, o de Santo Ildefonso, de 1777, mais uma vez
retificaria as fronteiras e estabeleceria desta vez como posse espanhola tanto
Sacramento como os Sete Povos. No final do século já existiam cerca de 500
estâncias em atividade.
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