IMPERIALISMO NA ÁFRICA
A região que mais sofreu com a
dominação imperialista foi a África, tanto que, no início do século XX, quase
todo o continente estava dominado pelas potências europeias. As únicas regiões
que conseguiram manter a sua independência diante da dominação imperialista
europeia foram a Libéria e a Abissínia, atual Etiópia.
A Libéria conseguiu manter a sua
autonomia, pois foi comprada pelos Estados Unidos para que estes pudessem
utilizá-la para enviar os seus escravos negros recém-libertos. Tal atitude,
autodenominada filantrópica pelo governo estadunidense, acabou sendo taxada de
preconceituosa por diversos humanistas mundiais, pois, apesar da liberdade
conquistada, parte dos negros foram arbitrariamente devolvidos à África, pois
não faziam parte do projeto de construção dos Estados Unidos. A partir de
então, a Libéria passou a ser vista como um depositário de negros
estadunidenses, posto que ostentou até 1845, quando conquistou a sua
independência.
No caso da Abissínia, a
dificuldade de dominar a região esteve relacionada à cultura de seu povo,
afinal, os etíopes eram tradicionalmente conhecidos por serem exímios
guerreiros, o que facilitava a sua resistência diante da presença dos europeus
no continente africano. Além disso, a geografia da Abissínia, caracterizada
pela existência de grandes cadeias montanhosas, dificultava as ações
imperialistas em seu território.
Apesar de a Abissínia e a Libéria
não terem sido diretamente dominadas pelas potências imperialistas europeias,
essas regiões foram exceções, pois, desde o início do século XIX, boa parte do
continente africano já sofria influência dessas grandes potências. Naquele
primeiro momento, no entanto, as ações imperialistas eram extraoficiais, ou
seja, eram exercidas por investidores particulares e não diretamente pelos
Estados europeus.
Um exemplo disso foi a ação dos
franceses que, em 1857, durante o governo de Napoleão III, já influenciavam o
norte da África em regiões como a Argélia, a Tunísia, o Senegal e parte do
Congo. Ainda no norte do continente, os franceses, em associação com os
ingleses, mantinham dupla administração sobre o Egito, onde construíram o Canal
de Suez, em 1869. Projetado pelo francês Ferdinand Lesseps, o canal artificial
que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo era de extrema importância para as duas
nações, afinal, ele encurtava a distância entre os centros de dominação
(Europa) e as áreas coloniais africanas e asiáticas.
Na porção sul do continente,
foram os ingleses que comandaram as ações imperialistas, pois estes dominavam a
região do Cabo, a de Transvaal e a de Orange, ricas em ouro e em pedras
preciosas. Para exercerem a sua hegemonia, no entanto, os ingleses tiveram de
depor os holandeses que já se faziam presentes na região. Dessa forma, no final
do século XIX, iniciou-se a Guerra dos Bôeres (1899-1902), que terminou com a
vitória dos ingleses, que coordenaram, em 1910, a criação da União
Sul-Africana, composta das regiões do Cabo, Transvaal, Orange e Natal.
Com base no exemplo dos franceses
e dos ingleses, portanto, é possível perceber que a África já vinha sendo
dividida, através da força, pelas maiores nações europeias. Mesmo assim, a
divisão oficial das zonas coloniais se fez necessária, principalmente após o
rei da Bélgica, Leopoldo II, comprar a região do Congo, rica em diamantes, dos
nativos. A partir daquele ato, as ações sobre o continente africano deixaram,
nitidamente, de ser extraoficiais e, por isso, as demais nações europeias se
mobilizaram para garantir possessões para si. Dessa forma, caso não fosse feito
um acordo diplomático, uma guerra entre os europeus seria inevitável.
Em 1885, após várias ações
impositivas por parte dos europeus, ocorreu a Conferência de Berlim,
formalizando a partilha da África. As potências europeias se reuniram a pedido
da Alemanha, que havia entrado na corrida imperialista atrasada, quando, então,
assinaram um documento no qual cada nação reconhecia o domínio da outra sobre
as regiões africanas. Decidiu-se ainda que, toda vez que uma potência dominasse
uma nova região, deveria avisar às demais, para evitar novos conflitos entre
elas.
No continente europeu, as
consequências da Conferência de Berlim foram imediatas, pois, confirmando a
situação que existia antes mesmo do acordo, a maior parte do continente foi
concedida aos franceses e aos ingleses. Dessa forma, criou-se um sentimento de
revolta por parte das demais nações, que, prejudicadas, passaram a pressionar a
França e a Inglaterra para que estas pudessem abrir mão de parte das suas
possessões.
Além de criar um clima tenso
entre as nações europeias, é válido ressaltar que essa situação fez com que alguns
dos países que se sentiram desfavorecidos, como a Alemanha, chegassem a
patrocinar colonos africanos para que estes pudessem se revoltar contra suas
metrópoles, desde que estas fossem a França ou a Inglaterra.
No continente africano, a
inserção dos chamados “brancos” gerava grandes impasses, como a segregação
racial. Um dos maiores exemplos de situações como essa foi o regime do
Apartheid, na África do Sul, pois os ingleses que foram viver naquela região,
baseados nas visões etnocêntricas, julgavamse mais capazes do que os nativos,
taxados pejorativamente de negros.
O que a princípio parecia ser
apenas mais uma demonstração de racismo acabou se tornando um dos sistemas mais
absurdos de toda a História, afinal, com o passar do tempo, os próprios
descendentes dos ingleses acabaram assumindo os principais postos políticos e
econômicos da colônia, o que os permitiu legitimar as ações racistas. Dessa
forma, durante quase todo o século XX, a África do Sul abrigou uma sociedade
dividida constitucionalmente entre uma minoria privilegiada de brancos e uma
maioria desfavorecida de negros.
Diante da dominação europeia e da
segregação racial imposta, vários reinos africanos procuraram resistir, mesmo
que de formas variadas. Como muitos desses reinos africanos se mostraram
intransigentes com as imposições europeias, várias batalhas foram travadas
entre africanos e europeus, que, tecnologicamente superiores, na maioria das
vezes se sagraram vencedores e ratificaram a sua política imperialista.
Reações alternativas também foram
registradas, pois, percebendo que não poderiam resistir às pressões europeias,
alguns reinos africanos optaram por se aliar aos metropolitanos em busca de
desenvolvimento tecnológico ou mesmo de armamentos para que pudessem combater
um outro rival africano.
Independentemente da reação
diante do imperialismo europeu, o importante é ter a consciência que a partilha
da África acabou deixando marcas profundas naquele continente, pois, ao atender
os interesses europeus, a divisão acabou segregando reinos que antes eram
unidos entre si ou mesmo unindo reinos até então rivais. Dessa forma, ainda
hoje se registram em solo africano diversos conflitos étnicos, originados ainda
no século XIX.
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