Guerras Médicas
No decorrer de quase todo século 5 a.C. duas grandes civilizações se enfrentaram na região do Mediterrâneo Oriental: a Pérsia e a Grécia. Chamamos esse conflito de Guerras Médicas, Guerras Pérsicas ou Guerras Greco-Persas. A principal causa dessas guerras foi a luta pela independência das cidades jônicas, colônias gregas na Anatólia (região da atual Turquia), que os persas em sua expansão territorial passaram a dominar, comprometendo o comércio grego no Oriente.
A vitória da Grécia garantiu-lhe o controle
comercial da região, imortalizou seus heróis e impôs ao mundo o modelo
ocidental de se fazer a guerra. A maior parte dos historiadores divide os
conflitos em duas fases: a 1 ª Guerra Médica, em 490 a.C, e a 2 ª Guerra
Médica, entre 480 e 479 a.C.. Mas, como as rivalidades entre gregos e persas só
terminaram em 448 a.C., com a Paz de Cálias, alguns estudiosos falam numa 3 ª
Guerra Médica.
No início do primeiro milênio a.C., os
indo-europeus ou arianos, povos originários da região que hoje chamamos de
Rússia, se estabeleceram no planalto Iraniano. Dentre eles, se destacaram os
medos e os persas. Os medos, fortemente militarizados, mantiveram o domínio
sobre a região. Em 550 a.C., Ciro, o Grande, rei dos persas, conseguiu dominar
o Reino dos Medos e, a partir daí, expandiu seus domínios sobre a Anatólia (que
englobava as cidades jônicas) e a Mesopotâmia, fundando o Império Persa, com
todo poder centralizado em suas mãos.
Posteriormente o Império se tornou grandioso,
chegando a dominar desde o Egito até o vale do rio Indo (na Índia atual). Cada
indivíduo dos povos submetidos pelo Império Persa era considerado um bandaka
(escravo do monarca). Os gregos antigos não faziam distinção entre os medos e
os persas, por isso terem dado o nome de Guerras Médicas às batalhas travadas
com o Império Persa.
Ao contrário da Pérsia, a Hélade, ou Grécia, era
formada por uma série de cidades independentes que viviam em constante
rivalidade. Para se ter uma ideia, um grego fora de sua cidade natal era
considerado estrangeiro, mesmo estando em uma cidade grega vizinha a sua. Cada
cidade (pólis) tinha seu próprio exército (falange) e sua própria organização
política, indo desde uma oligarquia conservadora (Esparta é o maior exemplo)
até a democracia, uma inovação política de Atenas.
De qualquer maneira, independente da forma de
governo adotada por cada pólis, os indivíduos considerados cidadãos tinham
ampla liberdade de discussão nas questões políticas e militares (mesmo que o
seu número fosse reduzido, como por exemplo, em Esparta). Essa liberdade de
expressão (que os gregos chamavam de parrhesia), era incomum na Antiguidade. Ao
contrário da maioria das civilizações da época, eram os cidadãos que discutiam
sobre a guerra, formavam suas falanges e escolhiam seus generais. Cada
indivíduo lutava por seu ideal político, pela independência de sua pólis e pela
sua própria liberdade (os escravos gregos não eram aceitos como militares).
Gregos e persas se enfrentaram em várias batalhas,
e na maior parte delas os persas contavam com um exército e uma marinha de
guerra numericamente muito superior a dos gregos. Estima-se que os persas
dominavam uma população de 70 milhões de habitantes, oriundos de diversas
culturas, que ofereciam uma quantidade enorme de soldados, com tipos de
armamentos e táticas de guerra próprios: persas e medos com suas armaduras de
escamas de ferro, assírios com capacetes de bronze, mosquianos com capacetes de
madeira, etíopes que se vestiam com peles de leão, indianos que usavam arcos,
citas com os seus cavalos, dentre inúmeros outros.
A mais importante unidade militar persa era chamada
de "Os Imortais": 10 mil homens (exclusivamente persas e medos),
muito bem preparados. Quando, um de seus membros tombava em combate,
prontamente era substituído por outro. Mas esse imenso e diversificado exército
causou muitos problemas para o Império Persa nas guerras contra os gregos, pois
a falta de uma língua comum, de treinamento em conjunto e de uma unidade de
comando foi a sua fraqueza, que os gregos souberam muito bem explorar.
E mais: os combatentes eram obrigados a lutar em
nome de um rei intolerante, que os fazia ir para o campo de batalha debaixo de
chicotadas aplicadas por seus generais e sob ameaça de execução sumária caso
não obedecessem. Ao contrário, apesar da extrema rivalidade entre as pólis e
das muitas discórdias sobre onde e quando se travarem os combates, as falanges
gregas, quando decididas, lutavam sob uma voz de comando que unificava todos os
homens numa ação coletiva.
Muito bem preparados (já que as guerras eram comuns
entre as cidades-estado gregas e as falanges eram mantidas em constante
treinamento), lutavam em sincronia e tinham um objetivo muito claro: a
manutenção de sua liberdade, já que durante as Guerras Médicas eram os persas
os invasores do solo helênico. Os soldados gregos contavam com o seu general na
frente de batalha, o que os estimulava a continuar lutando, enquanto o
imperador persa ficava de fora, observando e punindo os que não correspondiam a
suas expectativas.
Era uma vergonha pra um grego fugir do combate,
pois isso significava que ele estaria desistindo do seu bem mais precioso: a
posse de suas terras, sua independência e liberdade política. Os espartanos,
conhecidos por sua cultura militarista, quando saiam em suas campanhas
militares, ouviam de suas mães e esposas: "Volte com seu escudo, ou sobre
ele", pois os cadáveres dos gregos tombados em combate eram devolvidos a
suas famílias em cima de seus escudos.
Mas a maior façanha grega era sua forma de
guerrear, chamada pelos historiadores de "batalha decisiva". A
maioria das civilizações do período travava seus combates a certa distância,
usando arcos e projéteis para amedrontar o inimigo. Era uma batalha de
provocações e escaramuças. Somente quando se tinha certeza da fragilidade do
outro lado é que as tropas avançavam para o choque corpo a corpo. A falange
grega, ao contrário, avançava sobre o inimigo logo de início, decididos a obter
a vitória rapidamente.
Essa tática grega era desconhecida e considerada
irracional por seus inimigos persas. Conta-se que muitos fugiam assustados com
a bravura dos gregos. O resultado de tal embate era mortal: a violência grega
era insuperável. A própria palavra que denomina as tropas gregas, falange,
significa "rolo", tamanha a velocidade de ataque e o poder de
aniquilamento que detinham. A ideia era chegar ao inimigo o mais rápido
possível e pelo impacto causado pelas primeiras fileiras, ir abrindo brechas no
exército adversário e daí exterminá-lo.
A enorme quantidade de guerreiros persas não
suportou a determinação militar e política dos poucos gregos, e foram vencidos.
O Império Persa acabou por desistir de conquistar a Hélade. Os gregos
mantiveram sua liberdade e passaram a atacar o território persa, impondo ao
mundo sua forma de fazer a guerra.
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