A OCUPAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL
O território que hoje constitui o
Rio Grande do Sul já constava nos mapas portugueses, sob o nome de Capitania
d'El-Rei, desde o século XVI. A despeito do Tratado de Tordesilhas, que definia
o fim das terras portuguesas na altura de Laguna, Portugal ansiava por estender
seus domínios até a foz do Rio da Prata. No século XVII, bandeirantes de São
Paulo já percorriam a área em busca de tesouros e para escravizar os índios.
Nesse espírito, ignorando os tratados, em 17 de julho de 1676, através de Carta
Régia, Portugal delimitou duas capitanias no sul que, em conjunto, se estendiam
de Laguna até o Rio da Prata, doadas ao Visconde de Asseca e a João Correia de
Sá. Em 22 de novembro de 1676, a bula papal Romani Pontificis Pastoralis
Solicitudo veio fortalecer as pretensões portuguesas, pois ao criar o bispado
do Rio de Janeiro, estabelecia como seus limites desde a costa e sertão da
Capitania do Espírito Santo até o Rio da Prata. Logo em seguida, a Coroa
Portuguesa passou a cogitar seriamente a ocupação das terras do sul, legalmente
espanholas.
Uma primeira expedição de
conquista, organizada em 1677, malogrou. Outra, de 1680, sob comando de Dom
Manuel Lobo, conseguiu tocar o Prata em janeiro do ano seguinte, fundando a
Colônia do Sacramento, com um presídio e os primeiros abrigos para os colonos.
A Espanha, nesta altura fragilizada por guerras contra a França, apesar de
atacar a colônia, não esboçou uma reação mais séria à expansão portuguesa e, em
1681, estabeleceu-se o Tratado Provisional, delimitando novas fronteiras na
região e reconhecendo a soberania portuguesa sobre a margem esquerda do Rio da
Prata.
Com o incentivo do estabelecimento
deste posto avançado, os portugueses passaram a se interessar pela ocupação das
terras intermediárias entre o Sacramento e a Capitania de São Vicente. O
General João Borges Fortes, em sua obra "Rio Grande de São Pedro",
observou que ao bandeirante Francisco de Brito Peixoto deve-se o pioneirismo na
ocupação das terras que ficam entre Laguna e Colônia do Sacramento, dando
início à presença luso-brasileira no Rio Grande do Sul:
"Estudando-se o processo de
povoamento do Rio Grande do Sul a primeira figura com que se depara é a de
Francisco de Brito Peixoto, que foi o pioneiro da conquista pacífica das terras
que se interpõem entre a Laguna e a Colônia do Sacramento, ao longo da trilha
litorânea. Fundador, com seu pai, Domingos de Brito Peixoto, da povoação da
Laguna, levou Francisco as suas aventuras e descobertas pelo território a
dentro [...] na procura de jazidas auríferas ou de prata, quer descendo para o
Sul, até o grande estuário do Prata, na captura de gados e cavalos,
perlustrando nessas investidas terras que, sob o domínio dos índios e jesuítas
pertenciam de fato à soberania castelhana. Se essa soberania era exercida de
fato, não era reconhecida de direito pela corte portuguesa que reivindicava
para Portugal, com a existência da Colônia do Sacramento, o domínio senhorial
da margem norte do Rio da Prata".
A partir daí, colonos procedentes
de Laguna dirigiram-se ao Rio Grande, ocupando as regiões do Viamão. Em 1732,
são concedidas as primeiras sesmarias. Em 1737, uma expedição militar
portuguesa, comandada pelo brigadeiro José da Silva Pais, foi incumbida de
prestar socorro à colônia, tomar Montevidéu e levantar um forte em Maldonado.
Fracassada esta última empresa, o brigadeiro decidiu instalar uma povoação mais
ao norte, livre das constantes disputas entre portugueses e espanhóis.
Destarte, navegou até a barra da Lagoa dos Patos, erroneamente tomada como um
rio, o "Rio Grande", e ali chegando em 19 de fevereiro de 1737,
fundou um presídio e ergueu o Forte Jesus, Maria e José, constituindo a origem
da cidade do Rio Grande, primeiro centro de governo da região. O local era um
ponto estratégico para a defesa do território, estando a meio caminho entre
Laguna e a Colônia do Sacramento. As primeiras famílias colonizadoras chegariam
ali ainda neste ano, mas o trecho entre Rio Grande e Tramandaí e os campos da
região de Vacaria, na serra do nordeste, também estavam sendo povoados
independentemente, situação facilitada pela extensão, pelos tropeiros, da
Estrada Real que vinha de São Paulo até os Campos de Viamão, sendo que já em
1734 se contavam grandes estâncias de gado na área, se lançavam as sementes das
primeiras urbanizações e os estancieiros começavam a solicitar a concessão de
sesmarias. A partir de 1748 começaram a chegar ao estado famílias açorianas,
enviadas pela Coroa Portuguesa, para colonizá-lo. Instalaram-se primeiro em Rio
Grande, e depois outras se fixaram na região da futura Porto Alegre, então
ainda um diminuto povoado erguido junto ao porto de Viamão. Partindo dali,
outros grupos avançaram pelos vales dos rios Taquari e Jacuí.
Comentários
Postar um comentário