A CRISE DO PRIMEIRO REINADO
Dois problemas externos
complicaram ainda mais a situação de D. Pedro I, aumentando a oposição ao seu
governo: o primeiro foi a Guerra da Cisplatina, e o segundo foi a intervenção a
favor de sua lha em Portugal. A Guerra da Cisplatina, ocorrida entre 1825 e
1828, originou-se quando o líder uruguaio Lavalleja desembarcou na província da
Cisplatina com o intento de promover uma batalha para separar a região do resto
do Brasil, anexando o território às províncias unidas do Rio da Prata.
O governo de D. Pedro I reagiu,
provocando o derramamento de sangue de milhares de brasileiros e um gasto
exorbitante com a guerra, sem o sucesso esperado. A solução para o con ito
partiu da intervenção diplomática da Inglaterra, que acordou para que a região
não casse nem com o Brasil, nem com a Argentina, mas se tornasse um novo país,
chamado Uruguai. O interesse inglês estava baseado na busca da formação de um
novo território sob sua influência que pudesse facilitar acesso da Inglaterra à
região da Bacia Platina.
O conflito pela Cisplatina
provocou uma crise in acionária, decorrente da emissão de moeda para manter a
guerra, e a falência o Banco do Brasil, em 1829, porém em crise desde 1821 –
após o retorno de D. João VI a Portugal com parte considerável do capital da
instituição – e que se encontrava cada vez mais abalado economicamente pelos
gastos imperiais.
Além da impopular guerra na
região do Prata, D. Pedro I desagradou a elite brasileira ao iniciar uma
intervenção no reino português em favor de sua lha, em 1826. Nesse ano, havia
morrido D. João VI em Portugal e, pela ordem de sucessão, D. Pedro I deveria
assumir o trono daquele país. Porém, como governava o Brasil, ele cedeu o trono
português à sua lha, Maria da Glória. Como a nova rainha era muito jovem, D.
Pedro I solicitou a seu irmão, D. Miguel, que lhe servisse de tutor até que ela
tivesse plena condição de governar.
D. Miguel aproveitou-se da
circunstância e realizou um golpe político, retirando Maria da Glória do trono
e assumindo o controle do governo de Portugal, levando D. Pedro I a reagir a
favor de sua lha, empenhando-se para mantê-la no controle do reino português.
Esse constante envolvimento do monarca na vida política portuguesa causava
grande desconforto na elite brasileira, desejosa de um distanciamento de
Portugal e de uma consequente consolidação da nascente nação.
Com a situação econômica e
política conturbada, a balança comercial desfavorável, a falta de um produto de
grande expressividade para exportação e uma política externa completamente
desastrosa, D. Pedro I enfrentava diariamente a oposição do Partido Brasileiro
e a crítica de vários jornais adversários. Aliados de D. Pedro I, com o
objetivo de silenciar a oposição ao imperador, assassinaram, em São Paulo, o
jornalista liberal Líbero Badaró, em 1830, aumentando ainda mais a indignação
da elite brasileira.
Com o objetivo de melhorar a sua
imagem na região de maior foco de oposição, D. Pedro I realizou uma viagem a
Minas Gerais, sendo vaiado em sua entrada em Ouro Preto, onde estavam afixadas
faixas que o acusavam de assassinar Líbero Badaró, além de panos pretos na
janela que simbolizavam luto. No seu retorno ao Rio de Janeiro, os portugueses,
conscientes das hostilidades sofridas pelo imperador em Minas Gerais,
resolveram realizar uma festa na sua chegada à capital do Império.
Essa festa atraiu os opositores
brasileiros que, dispostos a atrapalhar o encontro, entraram em choque com os
portugueses, provocando o conflito conhecido como a Noite das Garrafadas (13 de
março de 1831). Buscando estabelecer um diálogo com a oposição, D. Pedro I
resolveu nomear um ministério composto apenas de brasileiros, no dia 19 de
março de 1831.
Porém, 15 dias depois, o
imperador, enfrentando atritos com o novo gabinete, resolveu dissolvê-lo e
recolocar no comando do Brasil um ministério só de portugueses, conhecido como
Ministério dos Marqueses. Milhares de pessoas saíram às ruas indignadas com a
postura de D. Pedro I que, não resistindo à pressão sofrida, abdicou do trono
brasileiro no dia 7 de abril de 1831, dando o direito de posse à seu filho, D.
Pedro II. Devido à impossibilidade de o novo imperador assumir o trono, já que
tinha apenas 5 anos de idade, seria necessário, como determinava a
Constituição, a formação de uma Regência até que o rei tivesse idade para
assumir o controle do país.
D. Pedro I retornou para
Portugal, onde venceu Miguel e assumiu o controle do país como Pedro IV.
Enquanto isso, o Brasil começava a viver um dos períodos de maior instabilidade
política de sua história: o Período das Regências. O Primeiro Reinado
representou, em sua essência, a fase de consolidação do Brasil como Estado
Nacional através da imposição de uma ordem monárquica centralizadora, ao mesmo
tempo que o novo governo se empenhava em reprimir os projetos políticos
dissidentes, apesar de suas intensas manifestações ainda no Período Regencial.
As articulações internacionais,
sejam diplomáticas ou bélicas, garantiram o reconhecimento do Brasil como força
importante na América do Sul e permitiram o entendimento externo do país como
uma unidade, mesmo com a existência de forças regionais sedentas de poder e, em
alguns casos, de plena autonomia. A ordem imperial construída, legalizada
através da Constituição de 1824, serviria de referência política durante o
transcorrer do século XIX, inviabilizando a ascensão de forças políticas
sólidas que promovessem a fragmentação política ou a ameaça à propriedade e à
ordem social tão caras aos interesses das elites nacionais.
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