SETE POVOS DAS MISSÕES
Retorno dos jesuítas e índios
missioneiros ao Rio Grande do Sul
Para impedir a penetração
portuguesa nas terras do sul, o governo espanhol ordena aos jesuítas o retorno
à margem oriental do Rio Uruguai. Seriam fundados povoados no Rio Grande do
Sul. Como havia falta de brancos colonizadores, vieram com os padres os guaranis
das reduções. As terras seriam ocupadas com lavouras e estâncias.
Teve inicio, assim, a segunda
fase das reduções jesuíticas aqui no nosso estado, chamada os Sete Povos. A
primeira redução construída foi São Francisco de Borja, em 1682. Os povoados seriam
edificados seguindo o modelo dos povoados espanhóis. O retorno ao nosso estado
foi bem ordenado: primeiro vieram alguns índios, liderados por um jesuíta, para
a escolha dos locais das reduções, construção das casas e o primeiro plantio.
Cada redução teria, no máximo, 30 quilômetros de distância da outra, para
facilitar a comunicação em caso de perigo e necessidade de socorro.
As comunicações eram feitas no
alto das igrejas, com sinais de espelho durante o dia e sinais luminosos
durante a noite.
Quando as casas estavam prontas e
era época do primeiro plantio, vinha o restante dos habitantes daquela redução.
Foram fundadas neste retorno sete reduções:
- São Francisco de Borja, em
1682;
- São Nicolau, em 1687;
- São Luiz Gonzaga, em 1687;
- São Miguel Arcanjo, em 1687;
- São Lourenço, em 1690;
- São João, em 1697;
- Santo Ângelo, em 1707.
- São Nicolau, fundada em 1626,
pelo padre Roque Gonzales, teve sua construção no mesmo local onde
anteriormente foi construída. Duas tragédias marcaram o inicio dessa redução:
um furacão e um incêndio que destruíram quase tudo. Mais tarde essa redução foi
construída com pedras.
O índio nas aldeias missioneiras
O índio das reduções, em sua
maioria, era Guarani, mas eram aceitos, também, índios de outras nações (Gês,
Pampeanos) desde que aceitassem ser batizados e viver segundo as leis das
missões e os costumes dos Guaranis. Os índios eram muitos ingênuos e, para não
serem enganados pelo branco colonizador, era proibida a entrada de outro branco
que não fosse um missionário. O Guarani era como criança grande: indolente,
imprevidente, fugia do trabalho sistemático, era dócil. Trabalhava muito bem em
esculturas, fazia instrumentos musicais e gostava muito de música. Foi através
da música que os jesuítas levaram o índio ao trabalho.
GOVERNO
Cada 40 ou 50 famílias eram
confiadas a quatro ou seis caciques, que determinavam e controlavam o trabalho
e distribuição de terras. O cacicado era hereditário.
FAMÍLIA
Os rapazes e moças casavam entre
15 e 17 anos, e os noivos eram escolhidos pelas pais. Havia vários casamentos
num dia só, com uma grande festa para todos. A comunidade dava aos casais a
casa, a comida e a festa.
ENSINO
Os filhos dos caciques e os
rapazes considerados mais espertos aprendiam a ler e a escrever, além de
aprenderem também técnicas agrícolas.
Às meninas eram ensinados
trabalhos de tricô, costura e bordado. Todas as crianças que não iam à escola
aprendiam técnicas de agricultura e o ofício que quisessem aprender, nas
oficinas. Os professores eram índios, supervisionados por jesuítas.
Nas horas de lazer e descanso, as
crianças ficavam com a família.
VESTUÁRIO
As mulheres fiavam, teciam e
costuravam as roupas, todas iguais; não usavam meias nem sapatos. Os homens
usavam calças parecidas com chiripá e uma blusa do pano branco. As mulheres
usavam vestido sem mangas que descia até os calcanhares, um cinto e uma túnica
com mangas, o qual só tiravam quando trabalhavam na lavoura. Recebiam uma muda
de roupa os adultos e duas mudas as crianças, no começo do ano.
HABITAÇÃO
A principal edificação das
aldeias missioneiras era a igreja, que ficava no centro. Na frente da igreja,
havia uma enorme praça chamada curralão. Cercavam a praça, em fileiras
paralelas, as casas dos índios, todas iguais, de tijolos não queimados e com
telhas de barro. Todas as casas tinham um avarandado, assim, andava-se em toda
a aldeia sem apanhar sol ou chuva. As casas não tinham janelas, só a porta da
frente e a dos fundos; as repartições eram feitas com couros e esteiras. O
cemitério era ao lado leste da igreja, junto ao hospital. Do outro lado, a
oeste da igreja, ficava a casa dos jesuítas, o colégio e as oficinas. Existia,
também, a casa dos órfãos e viúvas (cotiguaçu), a casa das ferramentas e das
armas. Nos fundos da igreja, ficavam a horta e o pomar dos padres.
AGRICULTURA
O trabalho era coletivo de toda a
redução três dias na semana; em outros dois dias, cada família plantava em sua
roça. As ferramentas eram de todos, bem como o produto plantado.
Plantavam milho, mandioca,
abóbora, trigo, algodão, cana-de-açúcar, hortaliças, árvores frutíferas e
erva-mate.
PECUÁRIA
O gado das reduções era criado em
estâncias longe das aldeias, perto das quais eram mantidas invernadas, com gado
de corte e leiteiro, cujos produtos eram repartidos entre todos. A criação de
pequenos animais domésticos, como porcos, galinhas, patos, perus, era feita
dentro das aldeias.
O couro e o sebo eram vendidos em
Buenos Aires ou trocados por sal e ferramentas.
OFICINAS
Os índios tinham grande
capacidade de imitar e, graças a esse dom, foi fácil ensinar-lhes as artes
mecânicas. Nas reduções, fazia-se tudo que se necessitava. Havia oficinas de
marcenaria, carpintaria, funilaria, olaria, tipografia, farmácia, tecelagem,
moinho, escultura e industrialização da erva-mate.
ERVA-MATE, FERRO, MADEIRA E
TIPOGRAFIA
Os índios já tomavam o chimarrão,
mas os jesuítas, pelo temor de que nele se viciassem e pelo tempo de trabalho
que era perdido para tomá-lo, proibiram o consumo da erva-mate. Provado que o
mate não viciava, os jesuítas o permitiram, estipulando horários para o seu
consumo, começando, assim, o plantio dos grandes ervais. A erva-mate era
vendida ou trocada por ferramentas em Buenos Aires.
O ferro era extraído na redução
de São João, da pedra-formiga. O padre Antônio Sepp, descobridor do ferro nas
reduções, construiu a primeira fundição desse metal no Rio Grande do Sul. Nas
fundições, eram feitas ferramentas, utensílios domésticos, além de sinos de
cobre e ornamentos sacros de estanho.
A madeira era extraída para o uso
das aldeias, nas construções, nas esculturas e na queima de lenha. As matas
eram preservadas.
Foi numa aldeia missioneira que
surgiu o primeiro livro do Rio Grande do Sul. Várias obras foram escritas por
índios, em guarani e espanhol.
https://historia-do-rio-grande-do-sul.webnode.com/sete-povos-das-missoes/
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