OS REINOS AFRICANOS ENCONTRADOS PELOS EUROPEUS

 

OS REINOS AFRICANOS ENCONTRADOS PELOS EUROPEUS

A África apresentou, ao longo dos séculos, importantes reinos que exerceram profunda influência nos processos políticos e sociais do continente. As extraordinárias narrativas dos egípcios na região do Rio Nilo reafirmam essa ideia. Neste estudo, concentraremos nossas atenções nos reinos fundados na África Subsaariana, em especial na região da costa do Atlântico.

REINO DE GANA

Formado a partir do século III da Era Cristã, o reino de Gana se destacou por se desenvolver em uma área distante do litoral Atlântico e fora do gigantesco Deserto do Saara. Seu território se concentra nas atuais regiões de Mali e Mauritânia. Por meio da domesticação do camelo, os povos da região realizaram um intenso comércio com os pastores berberes do Saara, que migravam para o território em períodos de climas desfavoráveis. Entre os povos dessa sociedade, destacavam-se os soninquês, que habitavam a região às margens dos rios Níger e Senegal. Para esses povos, a formação de um reino foi necessária para fazer frente aos ataques de nômades que buscavam saquear a agricultura desenvolvida naquele território.

A intensa produção de ouro formava o pilar de sustentação do reino de Gana. Cidades importantes foram desenvolvidas, como a capital Kumbi Saleh e o importante centro comercial de Audagoste. O apogeu dessa civilização ocorreu entre os séculos VII e IX, quando as atividades de extração de ouro e o comércio de vários produtos, como sal, tecidos, cavalos e tâmaras, permitiram a integração econômica do reino com as regiões do norte da África, Egito e Sudão. O monarca do reino de Gana garantia seu poder por meio da exploração do ouro, que era escoado para os comerciantes árabes empreenderem a cunhagem de moeda.

REINO DE MALI

Desenvolvido entre os séculos XIII e XVI, o reino de Mali se constitui nos atuais territórios da República de Mali, Senegal e Guiné. Os imperadores do Mali, conhecidos por Mansas, dominavam o território na Bacia do Rio Níger, garantindo intensa atividade comercial com outros povos da região, com destaque para os árabes do norte do continente. A fundação do reino de Mali foi realizada por Sundiata Keita, responsável por transformar a cidade de Niani em centro de seu império. Outras cidades destacavam-se no reino de Mali, como Tombuctu, importante centro cultural devido às suas amplas bibliotecas e ricas mesquitas, servindo de atração para artistas e intelectuais de várias regiões.

O apogeu do reino de Mali ocorreu durante o reinado do Mansa Mussa, marcado pela expansão das fronteiras do império, ocupando as regiões da costa do Atlântico até o Rio Níger. Muitas são as lendas em torno das grandezas desse rei, que ampliou o comércio com os árabes e manteve intenso contato com os povos muçulmanos, chegando a promover uma suntuosa peregrinação à cidade de Meca, em 1325.

Após a morte do Mansa Mussa, o reino de Mali entrou em lento declínio por conta da dificuldade de seus sucessores em manterem o controle de tão extenso território. Assim, o reino de Songhai, povo da região noroeste da Nigéria, passou a assumir o controle das províncias do Mali. No século XV, o poder de Mali já havia desaparecido frente à força dos Songhai.

REINO DE SONGHAI

Fundado por Sonni Ali Ber, O Grande, no contexto do declínio do reino de Mali em torno do século XV, esse império se estendia da costa do Atlântico aos territórios entre a Bacia do Rio Níger e o Lago Chade. Sua capital política e militar cava na cidade de Gao. Sonni Ali Ber foi responsável pela conquista das cidades de Tombuctu (1468) e Djenne (1473), o que estimulou o monarca a traçar mapas de seu extenso império. A expansão empreendida pelos sucessores de Ali Ber garantiu a extensão da área de domínio Songhai por mais de dois mil quilômetros, de Teghazza ao país dos Mossi (norte a sul), de Agades a Tekrur (leste a oeste).

A estrutura política do império girava em torno do imperador, responsável pelo controle de uma numerosa Corte. Por tradição, todos que se aproximavam do líder supremo deveriam cobrir a cabeça de pó. Um cuspe do imperador não poderia cair no chão, sendo recolhido na manga de seda de qualquer um de seus setecentos acompanhantes.

A economia se orientava pelo trabalho escravo. Calculase que uma terra com duzentos escravos fosse capaz de produzir, aproximadamente, 250 toneladas de arroz por ano. O ouro e o sal eram comumente utilizados como referência monetária, mas a principal moeda era o cauris, conchas de moluscos utilizadas como moeda da África à China até meados do século XIX. Os núcleos urbanos eram numerosos, servindo de importantes centros religiosos e de estudo, sendo a educação intensa nas áreas de domínio islâmico. Calcula-se que a Universidade de Sankore abrigava 25 mil estudantes já no século XII.

Em torno do século XVI, o império de Songhai começou a sofrer a opressão dos Estados muçulmanos, como o reino de Marrocos, que buscava as minas de sal e de ouro em regiões vizinhas. O avanço europeu pela costa africana em busca de escravos e de riquezas contribuiu para a decadência da região. Além dos reinos de Gana, Mali e Songhai, muitos outros impérios se desenvolveram na África. A riqueza destes transcende as limitadas concepções ocidentais do continente, possibilitando a apreensão de ricos elementos sociológicos ainda não valorizados.

 


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