AS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS

AS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS

Os grandes feitos da Expansão Marítima europeia tiveram início no pequeno reino de Portugal, cuja origem remonta às lutas ibéricas contra os árabes no século XI. Os esforços de Leão nas batalhas da Reconquista contaram com o apoio do francês Henrique de Borgonha, presenteado, após sucessivas vitórias, com o Condado Portucalense no ano de 1093. No século seguinte, em 1139, o herdeiro do território, Afonso Henrique, optou pela emancipação frente ao domínio de Castela, fundando o reino português. A definição geográfica do novo reino só se realizou em 1249, quando os lusos conquistaram a região de Algarves, localizada ao sul da Península Ibérica.

Apesar de definidas as suas fronteiras, as estruturas políticas de Portugal ainda estariam distantes de um complexo sistema político típico de um Estado Nacional. O poder local exercido pela nobreza e as constantes incursões espanholas pela retomada das terras portuguesas permaneceram como graves dificuldades para o nascente reino. A ruptura desse cenário só aconteceu com a Revolução de Avis, em 1383.

Essa revolução ocorreu após os acordos políticos envolvendo as nobrezas dos reinos de Castela e Portugal, que selaram uma uni cação através do casamento entre a princesa portuguesa Beatriz e o rei João de Castela. Porém, o temor da classe mercantil lusitana, que receava um redirecionamento econômico tipicamente feudal após essa uni cação, estimulou o apoio desse setor social à ascensão de um novo monarca: D. João de Avis.

Filho bastardo do rei português D. Pedro I, D. João conseguiu, após se apropriar do trono, impedir a união entre os reinos, contando, para tal feito, com o apoio da população simples de Portugal, a chamada arraia miúda. A baixa nobreza portuguesa também apoiou a ascensão do novo monarca, buscando privilégios, terras e títulos.

A Revolução de Avis foi fundamental para o processo expansionista português, tendo em vista a ligação da nova dinastia com a atividade naval de cabotagem (navegação costeira), além da disposição da monarquia em estimular as Grandes Navegações por parte do príncipe D. Henrique, o Navegador.

Filho de D. João de Avis e considerado o arquiteto dos primeiros feitos marítimos de Portugal, D. Henrique foi fundamental para a transformação da cidade de Sagres em um centro náutico por excelência, apesar de a historiografia contemporânea contestar a existência de uma escola de navegação na região. A conquista de Ceuta em 1415, primeiro entreposto africano dominado pelos lusos, foi também planejada pelo jovem filho de D. João.

Os fatores políticos não foram os únicos que contribuíram para o papel pioneiro de Portugal nas Grandes Navegações. Podemos incluir:

● A localização geográfica, com toda a costa oeste do reino voltada em direção ao Atlântico, facilitando o deslocamento das embarcações.

● A ausência de extensos conflitos no processo de formação do Estado português.

● Conhecimento náutico obtido por longos séculos de navegação costeira e por meio do contato com a avançada cultura árabe.

● Apoio da burguesia lisboeta, que buscava ampliar seus ganhos comerciais com os feitos da Expansão Marítima.

● Lucros obtidos com as atividades comerciais na região costeira da África, garantindo a longevidade do processo expansionista.

O marco inicial do expansionismo luso ocorreu em 1415 por meio da conquista de Ceuta, cidade localizada no atual território do Marrocos. Considerada um grande centro econômico incrustado no norte da África, Ceuta atraiu os portugueses pela oportunidade de um rápido enriquecimento com os saques da riqueza existente, além do controle das atividades mercantis da região.

A fácil conquista da cidade foi um importante impulso para novos empreendimentos da empresa mercantil. Em 1419, os portugueses conquistaram a Ilha da Madeira. Gil Eanes ultrapassava, em 1434, o Cabo Bojador, obtendo os primeiros contatos com os mercados de ouro da Costa da Guiné.

Na medida em que navegavam na direção sul da África, os lusos fundavam as feitorias, entrepostos comerciais que serviam para o abastecimento de novas embarcações e contribuíam para as trocas mercantis com os povos africanos na região costeira. Esse cenário permitiu o início do tráfico de escravos, fundamental fonte de recursos financeiros para manter a empresa expansionista ao longo do século XV, período em que os portugueses ainda estavam distantes das especiarias asiáticas. A construção da fortaleza de São Jorge da Mina, em 1482, centro de tráfico de escravos, consolidou esse projeto.

O périplo africano, ou seja, o contorno do continente pelos navegantes lusos, se fortaleceu com a viagem de Bartolomeu Dias em 1488. Responsável por ultrapassar o Cabo das Tormentas, limite sul da África, o navegante português reafirmou a ideia de alcançar a Ásia através da navegação em torno do continente explorado.

O motim dos marinheiros após a realização do grande feito, por conta do desejo de retornarem ao reino, impediu o alcance da região das índias pelos portugueses naquele momento, mas fortaleceu o ideal expansionista, confirmado na troca do nome do Cabo das Tormentas para Cabo da Boa Esperança pelo rei João II.

O coroamento das navegações lusas ocorreu em 1498, com o navegante Vasco da Gama, responsável por alcançar as longínquas regiões de Calicute (atual índia) e garantir as primeiras especiarias asiáticas através da nova rota. O feito inibiu ainda mais o fragilizado comércio do Mediterrâneo, já que houve elevação dos preços das especiarias após a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453.

A expansão lusa se completou em 1500 com a chegada de Pedro Álvares Cabral ao litoral brasileiro, parte da viagem que levaria de volta os portugueses à região das Índias após o lucrativo empreendimento de Vasco da Gama.

 

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