AS BANDEIRAS
Um dos aspectos mais marcantes da
estrutura colonial portuguesa na América, até a primeira metade do século XVII,
foi a ocupação da faixa litorânea sem a realização de esforços para a
interiorização. Essa situação advém da opção por um regime econômico vinculado
aos interesses metropolitanos e que, portanto, exigia uma logística para a
obtenção de lucros. Assim, estar no litoral facilitava o escoamento das
mercadorias como o pau-brasil e a cana-de-açúcar, que visavam ao mercado
externo. Nas palavras de frei Vicente do Salvador, os portugueses,
semelhantemente aos caranguejos, apenas arranhavam a costa do Brasil.
Esse cenário apresentou
substancial mudança com o avançar do século XVII. A penetração pelo interior da
América Portuguesa se explica pela necessidade econômica, uma vez que algumas
áreas litorâneas não conseguiram se desenvolver satisfatoriamente vinculadas ao
projeto exportador. É o caso da capitania de São Vicente, que, nas primeiras
décadas do século XVI, empreendeu uma agricultura de cana-de-açúcar que se
mostrou fracassada devido à inadequação do solo e à distância dos principais
mercados. Por consequência, a vila teve de buscar alternativas econômicas para
a sua sobrevivência, desenvolvendo as chamadas bandeiras, atividade
extremamente importante para o processo de interiorização da colônia
portuguesa.
A capitania de São Vicente se
notabilizou por apresentar uma estrutura econômica de subsistência e por
possuir um quadro social marcado por intensa miscigenação, com considerável
presença de mamelucos, que seguiam os hábitos indígenas no cotidiano das vilas
fundadas na região. No decorrer do Período Colonial, a precariedade
socioeconômica exigiu a busca de alternativas para a sobrevivência dos
habitantes dessa região.
Na primeira metade do século
XVII, a região de São Vicente se destacou pela realização de expedições para o
interior do Brasil no intuito de capturar indígenas para serem escravizados.
Essa possibilidade de enriquecimento ocorreu em virtude da agressiva política
externa holandesa, que resultou na invasão das praças fornecedoras de escravos
na costa africana.
Uma vez que os flamengos
garantiam apenas o abastecimento das regiões controladas por suas companhias de
comércio, por exemplo, o Nordeste brasileiro, algumas áreas ficaram carentes de
mão de obra, como é o caso das cidades de Salvador e Rio de Janeiro. Assim, os
paulistas partiram em expedições pelo interior da colônia na intenção de
aprisionar os gentios e vendê-los para essas regiões.
Eram as chamadas bandeiras de
apresamento, responsáveis pela destruição de inúmeras missões jesuíticas,
principalmente na província de Guairá, território do atual estado do Paraná.
Muitos missionários optaram por avançar ainda mais para o Sul, com o intuito de
fugir das ações abusivas dos bandeirantes. Foi nesse contexto que ocorreu a
fundação da redução jesuítica de Sete Povos das Missões, a partir de 1687.
Na segunda metade do século XVII,
intensificou-se a busca de metais preciosos no interior da colônia. Vários
fatores foram determinantes para essa situação, como a necessidade de
revitalização econômica do Estado português após a danosa dominação espanhola,
além da crise da economia açucareira. A experiência obtida pelos paulistas
através das bandeiras de apresamento, em crise naquele período histórico,
contribuiu para a desenvoltura na busca de metais e de pedras preciosas pelo
interior da colônia, como foi o caso da marcante expedição de Fernão Dias Pais,
em 1674, em busca de esmeraldas.
É importante lembrar que a Coroa
portuguesa contribuiu financeiramente para determinadas bandeiras de
prospecção, através da formação das chamadas Entradas Reais. Portanto, na segunda
metade do século XVII, houve uma junção de esforços entre o Estado português e
os bandeirantes, no sentido de se buscar uma nova atividade econômica que
gerasse maior rentabilidade, no caso, a mineração.
Antônio Rodrigues de Arzão foi o
primeiro bandeirante a localizar jazidas de ouro na região do atual estado de
Minas Gerais, em 1693, nas proximidades de cataguases. Já em 1698, foi
encontrado ouro por Antônio Dias Oliveira na região que passaria a ser
designada de Vila Rica. A vila, hoje conhecida por Ouro Preto, foi o principal
núcleo de exploração mineral na América Portuguesa, mudando por completo as
estruturas políticas e econômicas vigentes na relação entre Portugal e Brasil
com o avançar do século XVIII. Cabe ressaltar que a atuação dos bandeirantes
contribuiu para a delimitação das atuais fronteiras brasileiras.
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