A UNIÃO IBÉRICA

A UNIÃO IBÉRICA

O século XVI foi marcado pela hegemonia espanhola nas relações internacionais. A força econômica do Império Hispano-Americano, fornecedor de prata e inúmeras riquezas, era acompanhada de um considerável aparato militar, tendo a frente a “Invencível Armada”, e de sólidas relações diplomáticas, a começar pelo papado, simpático à defesa da religião católica exercida pelo Império Castelhano. A influência em várias regiões europeias, ainda no século XVI, também contribuiu para a força da Espanha, que controlava os Países Baixos e dominava o reino português por meio da União Ibérica.

A apropriação do reino lusitano pela Coroa espanhola ocorreu em meio a uma crise sucessória em Portugal. Em 1578, o jovem monarca D. Sebastião desaparecera no norte da África em meio a uma batalha religiosa contra os árabes islâmicos que povoavam a região. A ausência de um herdeiro fez com que o reino fosse controlado pelo então tio de Sebastião, o cardeal D. Henrique. A idade avançada de D. Henrique e a ausência de um herdeiro zeram da nova situação um problema para Portugal.

A apropriação do reino luso pela Espanha era o maior temor da sociedade portuguesa, já que os esforços expansionistas de Filipe II ascendiam em consonância com o fortalecimento espanhol. Mesmo com toda a pressão para transferir o controle do reino para um novo sucessor, D. Henrique manteve-se no trono e, com sua morte, as pretensões espanholas se confirmaram. Reza a tradição que assim cantaram os portugueses nas ruas após a morte do rei:  “Que viva Dom Henrique no inferno muitos anos por deixar Portugal nas mãos dos castelhanos”.

A posse do reino de Portugal pela Espanha, chamada de União Ibérica (1580-1640), veio acompanhada de uma prerrogativa legal: a manutenção da integridade territorial do reino português por meio do Juramento de Tomar. Assim, não ocorreu uma união verdadeira entre os dois países, mas, sim, uma apropriação do trono português por Filipe II, que passou a ser conhecido como Filipe I no reino que conquistara. Na prática, porém, o Juramento de Tomar teve validade restrita, já que o controle de todas as áreas era realizado pela Corte castelhana, e a dita autonomia portuguesa nunca chegou a existir.

Curioso notar que o controle do reino português pela Espanha acabou por consolidar o mito sebastianista, ou seja, a esperança da sociedade portuguesa no retorno do jovem monarca que desaparecera no norte da África. Durante a União Ibérica, o sebastianismo foi estimulado por dezenas de jovens que, interessados em uma fácil projeção política, juraram ser o monarca Sebastião. O mito, alimentado durante décadas, perdurou na história portuguesa e acabou sendo estendido a todos os recantos do reino no Além-Mar. Até os dias de hoje, comunidades cantam a esperançosa vinda de D. Sebastião como solução para aplacar a opressão e o sofrimento, como no caso de algumas comunidades no interior do Maranhão.

 

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