AS INVASÕES FRANCESAS : A FRANÇA ANTÁRTICA

AS INVASÕES FRANCESAS : A FRANÇA ANTÁRTICA

Durante o erguimento do Império colonial português no Além-Mar, muitos países europeus reagiram às excessivas aquisições territoriais dos povos ibéricos em vários continentes. O Tratado de Tordesilhas (1494) não era considerado válido por nações como Inglaterra, França e Holanda, que se dispuseram, por meio de ações bélicas e diplomáticas, a ferir seus fundamentos e a tentar povoar as terras americanas, asiáticas e africanas controladas por Portugal e Espanha. Assim, a América Portuguesa, desde as primeiras décadas do século XVI, enfrentou a constante ameaça estrangeira. Destacam-se, nesse sentido, as invasões francesas e as holandesas na região.

Nos últimos anos do século XV e no início do século XVI, a presença francesa na costa do Brasil era intensa. A contestação ao Tratado de Tordesilhas vinha acompanhada de um sólido comércio de pau-brasil, praticado por meio do escambo com os indígenas, que se relacionavam muito bem com os franceses. Na medida em que essa presença estrangeira se mostrava incômoda, o Império Português se dispôs a promover a ocupação territorial, utilizando, para isso, o sistema de capitanias hereditárias. Apesar do empenho luso de impedir a entrada de outros países na região, os franceses acabaram por fundar uma comunidade na região da Baía de Guanabara por volta do ano de 1555. Era a chamada França Antártica.

A fundação dessa colônia se associou aos conflitos religiosos ocorridos na França no início do século XVI. Apesar de ser um país profundamente católico, a França assistia a um considerável avanço da religião protestante. A atuação dos seguidores do calvinismo, conhecidos na França por huguenotes, atingia todos os grupos sociais, chegando inclusive a influenciar alguns setores da estrutura governamental do país.

Esse cenário cava ainda mais complexo na medida em que o protestantismo representava uma ameaça ao princípio do direito divino dos reis, já que este se orientava pelos fundamentos do catolicismo, demarcando, inclusive, a aliança entre a monarquia francesa e a Igreja Católica. O auge desses atritos na França ocorreu em 24 de agosto de 1572, na famosa noite de São Bartolomeu, quando trinta mil protestantes foram massacrados após uma fracassada tentativa de paci cação na relação das duas religiões por meio do casamento entre a princesa católica Margot de Valois e o príncipe protestante Henrique de Navarra.

Um dos reflexos desses atritos religiosos foi a opção de um grupo de calvinistas em migrar para as áreas americanas com o objetivo de professar a fé protestante e fugir dos conflitos religiosos que se intensificavam na França. O grupo estava sob a liderança do almirante Coligny, contando com o apoio do capitão Nicolas Durand de Villegagnon. A opção pela América Portuguesa se fundamentou no contato dos franceses com a região devido ao comércio do pau-brasil nos primeiros anos de colonização. Soma-se a isso a falta de vigilância da Coroa lusitana em suas colônias, diferentemente dos espanhóis, que temiam ataques estrangeiros nas regiões de exploração da prata.

Chegando em 1555 ao território da atual cidade do Rio de Janeiro, os franceses se fixaram em uma das ilhas da Baía de Guanabara. Lá empreenderam um intenso comércio de trocas com os índios tupinambás, que forneciam madeiras, alimentos e índios inimigos que eram comercializados como escravos.

Em troca, os nativos recebiam anzóis, panelas, machados e tecidos. O protestantismo norteava as estruturas sociais e religiosas da região, sendo Villegagnon profundamente radical em seus posicionamentos perante os companheiros. Durante mais de dez anos, aproximadamente, 500 franceses moraram na região. O fracasso da França Antártica se explica por fatores internos e externos.

O radicalismo religioso de alguns membros da sociedade acabou por enfraquecer a ordem vigente, levando alguns franceses a serem expulsos para a área continental. Porém, foram os ataques empreendidos pelas tropas portuguesas lideradas por Estácio de Sá, sobrinho do então governadorgeral Mem de Sá, o elemento determinante para o fim da colônia francesa em 1567. Estácio de Sá aproveitou o sucesso militar e fundou a vila de São Sebastião do Rio de Janeiro, iniciando a longa história portuguesa na região.

 

 

Comentários