A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA


 A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA

A Expansão Marítima assinala o primeiro grande estágio de integração entre os continentes. A ideia de globalização, vigente nos dias atuais, apresenta seus primeiros sinais quando os povos europeus, desejosos de riqueza e sedentos de novas experiências, acabam por navegar “por mares nunca dantes navegados”, alcançando terras distantes nos dois hemisférios do globo.

As Grandes Navegações do século XV permitiram a compreensão mais ampla do nosso planeta, tanto na esfera geográfica como na cultural, mudando os rumos de povos e nações, que passaram a se integrar progressivamente, como até então jamais havia ocorrido. Mesmo que a concepção eurocêntrica tenha prevalecido nas novas relações que surgiram entre os povos, a existência do “outro” instigou reflexões e trocas que mudaram traços culturais e econômicos de todos os agentes envolvidos.

As Grandes Navegações podem ser compreendidas como uma resposta europeia aos anseios de uma sociedade em transformação no final da Idade Média. A centralização política e o fortalecimento dos Estados Nacionais intensificaram a necessidade de expansão econômica, colaborando para solidificar os novos referenciais políticos. Se as fronteiras terrestres começavam a se consolidar após sucessivas guerras, a busca de novas regiões representava uma reafirmação da força política dos monarcas absolutistas, já que as terras distantes poderiam fornecer, além da expansão territorial, a riqueza necessária para a manutenção da força governamental.

A ideia metalista, intensificada com a dinamização econômica do comércio, fomentava o sonho da existência de reservas de ouro e prata no Além-Mar, estimulando, a médio prazo, a ocupação do continente americano. A força do Estado somou-se aos anseios de setores mercantis, sedentos de novas regiões fornecedoras de especiarias e mercados, visando à ampliação das trocas comerciais. Os comerciantes passaram, com o decorrer do tempo, a perceber a necessidade de se alcançar a longínqua região da Ásia por meio de rotas alternativas, tendo em vista os impedimentos impostos por povos diversos, intermediários do comércio das especiarias.

Nesse sentido, destaca-se a drástica retração comercial vivenciada pelas cidades italianas após a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. Se, por um lado, o novo fechamento do Mediterrâneo enfraqueceu o comércio italiano, por outro, estimulou ainda mais o desenvolvimento da atividade naval no Atlântico, em busca de uma rota marítima alternativa para a Ásia.

Os agentes políticos e econômicos ainda se somaram aos impulsos culturais de uma Europa renascentista e, portanto, mais propícia à inovação e à busca de novos parâmetros, temas comumente referenciados pelos estudiosos do período. A curiosidade pelo novo se mostrava aguçada em meio às mudanças culturais promovidas pela Renascença.

O comércio europeu, que já se expandia desde o início da Baixa Idade Média (séc. XI), ampliou sua dimensão, contribuindo inicialmente para esse processo o fenômeno das Cruzadas. O espírito religioso cruzadista teve importante papel no seio das Grandes Navegações, já que a busca por novas regiões representava a ampliação da massa de fieis, contribuindo assim para o avanço religioso planejado pelos grupos católicos.

Junto a cada tripulação que partia rumo ao desconhecido, estava um representante da Santa Sé, responsável pela dinâmica religiosa dos marinheiros e pela conversão dos povos que fossem conquistados. Compreendiam-se, assim, as Grandes Navegações como uma extensão do projeto da reconquista, já que a ampliação territorial assinalava a força da fé católica e a reafirmação do poder político dos Estados ibéricos.

A pulverização dos objetivos da Expansão Marítima em vários grupos sociais estimulou intensamente o avanço dos navios para o Além-Mar. Se o papel do Estado foi força determinante para o financiamento das principais viagens, o interesse dos outros agentes consolidou o projeto, transformando o desejo de expansão em uma realidade europeia.

Comentários