A ECONOMIA DO AÇÚCAR
Ainda no século XVI, a América
Portuguesa encontrou sua principal vocação: a economia canavieira.
Transportadas para o Brasil a partir da ilha da Madeira, as primeiras mudas de
cana-de-açúcar chegaram por meio do donatário Martim Afonso de Souza. A opção
pela cultura da cana-de-açúcar foi feita levando-se em consideração uma série
de fatores, entre eles, a experiência lusa nas ilhas da costa africana, o clima
favorável das novas terras, a disponibilidade de terra com solo propício, além
dos recursos econômicos oriundos de investidores de várias regiões da Europa.
As áreas produtoras de maior
destaque no Brasil foram a Bahia e Pernambuco. Cabe destacar ainda que outras
regiões, como a capitania de São Vicente, também empreenderam esforços para o
desenvolvimento da lavoura açucareira.
A produção do açúcar exigia
elevados investimentos, dada a necessidade de se montar uma estrutura complexa
para a obtenção de lucros. A unidade produtora desse sistema era conhecida por
engenho, que apresentava uma gigantesca propriedade fundiária obtida por meio
da doação de sesmarias. O engenho contava com a moenda, responsável por extrair
o caldo da cana-de-açúcar. Aqueles engenhos que utilizavam energia hidráulica
eram os mais valorizados, sendo classificados de engenhos reais.
Já os engenhos de trapiche usavam
força animal ou humana para mover a moenda. Também fazia parte da composição
produtora a casa das caldeiras, local onde havia enormes fornalhas que
engrossavam o caldo da cana até transformá-lo em melaço, e a casa de purgar,
espaço de descanso do açúcar após ter sido armazenado em grandes potes.
Após alguns dias, a produção era
retirada e os torrões, chamados de pães de açúcar, eram encaixotados e enviados
a Portugal. A estrutura do engenho ainda contava com a Casa-Grande e a senzala,
locais de descanso e convivência dos senhores – junto aos seus agregados – e
dos escravos, respectivamente. A Casa-Grande e a senzala, em sua relação
antagônica, simbolizavam a hierarquização social colonial.
O elevado custo para a instalação
de um engenho impedia alguns senhores de construírem o complexo sistema
produtivo para o processamento do açúcar. A solução nessas situações era moer a
cana em fazendas vizinhas, pagando com parte da produção o uso dos equipamentos.
Muitos senhores também dedicavam-se à fabricação de aguardente. Eram as
“engenhocas” ou “molinetes” que produziam a cachaça para o consumo interno ou
mesmo para o comércio de escravos na região da costa africana.
A estrutura social era
hierarquicamente controlada pelo senhor de engenho. Durante o Período Colonial,
a posição ocupada por esses senhores era ambicionada por toda a sociedade, já
que representava o topo do modelo social vigente. O reflexo de tamanho poder
era a profunda influência econômica e política exercida dentro e fora da
colônia.
Já as forças produtivas cavam a
cargo da escravaria, composta de indígenas e negros importados da África. Aos
escravos cabia a complexa função de mover todo o sistema do engenho por meio de
jornadas de trabalho longas e exaustivas. A maioria dos engenhos apresentava,
em média, 65 escravos, sendo que aproximadamente 15% das fazendas chegavam a
ter entre 100 e 150 cativos. As atividades eram diversas, não ficando limitadas
ao exercício da agricultura.
A complexidade do engenho
promoveu um cenário de especialização, fazendo com que essa unidade assumisse a
feição de uma manufatura. Cabe lembrar que essa situação exigia a presença de
alguns grupos intermediários, como os mestres do açúcar, comerciantes,
religiosos, capitães do mato e muitos outros que intensificaram a dinâmica
social do período.
O comércio do açúcar brasileiro
na Europa apresentava curiosa complexidade. Após chegarem ao reino luso, os
carregamentos eram embarcados para Amsterdã, nos Países Baixos, local onde se
processaria o re no e a distribuição do produto em solo europeu. A participação
dos holandeses na atividade do açúcar era tão intensa que, durante o século
XVII, os flamengos chegaram a invadir as colônias portuguesas Além-Mar, após
terem sido impedidos de manter sua influência devido às relações políticas do
período.
Os engenhos se espalharam pelo
Brasil de maneira intensa nas primeiras décadas da colonização. Em 1570, já
haviam sido fundadas 60 fazendas de cana- de-açúcar, sendo que, em 1610, já eram
mais de 400. A expansão dessa atividade se justifica por sua elevada
lucratividade em associação com a expansão do mercado consumidor europeu.
Sem dúvida, a produção açucareira
foi a mais lucrativa atividade econômica do Período Colonial português. Apenas
como comparação, no final do século XVIII, mesmo durante uma época de crise da
cana no Brasil, a atividade do açúcar mostrou-se mais rentável que a economia
aurífera. Ainda hoje, é possível afirmar que a cana é um produto importante
para a economia brasileira, afinal, produtos extraídos da cana, como o álcool e
o açúcar, possuem relevância na balança comercial brasileira.
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