OS ANTECEDENTES DA REFORMA
PROTESTANTE
Os movimentos reformistas do
século XVI aconteceram em um ambiente propício para a divulgação de suas
ideias. As contestações produziram efeitos mais incisivos no interior da
cristandade e, ao contrário das anteriores, provocaram a divisão da Igreja
Católica na Europa Ocidental.
Entre os fatores que facilitaram
a disseminação dos ideais reformistas, está a postura renascentista do homem,
afinal, a difusão do humanismo permitiu a expansão de uma nova visão sobre o
homem e o mundo que o cercava. Essa nova perspectiva refletiu-se na relação
entre os homens e o sagrado e permitiu o surgimento de novas concepções
religiosas. A postura crítica, principalmente em relação ao Período Medieval,
se dirigia também à Igreja e aos membros do clero. Dogmas, como o geocentrismo,
passaram a ser contestados a partir da valorização da experiência e da
observação em oposição à crença exclusiva nas autoridades religiosas.
O individualismo, que também
ganhava força na ocasião, levava à percepção de que a relação entre o homem e
Deus poderia existir sem a mediação do clero. A postura individualista
incentivou ainda a leitura da Bíblia e o surgimento de novas interpretações dos
textos sagrados. Membros do clero, como Erasmo de Rotterdam, influenciados por
essa postura, dirigiram suas críticas ao despreparo do clero e ao caráter
belicoso de alguns papas.
O desenvolvimento da imprensa de
tipos móveis por Gutenberg, ainda no século XV, também colaborou para a
expansão das ideias reformistas. A ampliação do público leitor, já que os
livros anteriormente eram acessíveis a uma minoria, permitiu o acesso de um
maior número de pessoas aos textos bíblicos e aos textos dos reformadores.
Apesar dos altos índices de analfabetismo entre os europeus, as leituras
individuais se tornaram mais comuns, reforçando, portanto, o individualismo e o
surgimento de novas interpretações religiosas.
Ainda no contexto de transição da
Idade Média para a Idade Moderna, verificou-se o fortalecimento do poder real,
o que representou um obstáculo ao poder supranacional exercido pela Igreja na
Idade Média. Se em alguns casos a Igreja colaborou para tal fortalecimento,
justificando o caráter divino dos reis, em outros, a intervenção do papado nos
assuntos dos Estados e a cobrança do dízimo eram vistas como ameaças à
soberania dos monarcas, favorecendo, assim, a proliferação de religiões
reformadas. Vale ressaltar que as riquezas e as terras da Igreja eram alvos de
cobiça dos reis e da nobreza europeia. Ao longo da Reforma, portanto, vários
nobres conseguiram se apropriar desses bens, que representavam alternativas
para o aumento de seu poder.
Outra importante facção social
que se indispôs com a Igreja foi a burguesia, afinal, os clérigos condenavam o
lucro exagerado e a usura. Tais práticas, consideradas pecaminosas, se
expandiam desde a Baixa Idade Média e foram fundamentais para o desenvolvimento
do capitalismo. A interferência clerical no mundo secular significava, desse
modo, um entrave às atividades dos comerciantes.
Por fim, a crítica que mais gerou
repercussão entre os europeus se relacionava à venda das indulgências, que
despertou a fúria de alguns reformistas, como Martinho Lutero. O monopólio da
salvação pelo clero era contestado e a venda do perdão era tida como inadmissível.
Diante de tanta pressão, as contestações se contrastavam com o despreparo e os
abusos dos membros do clero, afinal, o desconhecimento das escrituras, a quebra
do celibato e a corrupção eram comuns no período.
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