GUERRA CIVIL AMERICANA
A Guerra Civil americana, também
conhecida como Guerra de Secessão, foi um dos eventos mais importantes para o
desenvolvimento dos Estados Unidos, pois, apesar de ter deixado um saldo de
mais de seiscentos mil mortos e de ter destruído grande parte da produção de
algodão do sul, o conflito contribuiu para o avanço das forças produtivas
capitalistas no país.
Para compreender melhor o
conflito de agrado no século XIX, entretanto, é necessário remontar o contexto
do século XVIII, quando as divergências internas entre os estadunidenses já se
demonstravam latentes. Mesmo com a vitória dos colonos nas lutas pela
emancipação em 1776, a realidade do país ainda era muito heterogênea, pois o
norte, mais voltado às atividades industriais, e o sul, majoritariamente
agrário, divergiam em várias questões, criando um ambiente propício à eclosão
de uma guerra civil.
Algumas questões foram
fundamentais para o início da Guerra de Secessão. A primeira delas foi a
questão alfandegária: o norte advogava a favor do protecionismo alfandegário
com o objetivo de evitar a concorrência estrangeira aos seus produtos
industrializados. Já o sul estava a favor da diminuição das barreiras
alfandegárias, pois era consumidor e queria estimular a concorrência, diminuindo
os preços finais dos produtos industrializados.
Diante do impasse gerado, o
governo estadunidense buscou amenizar a situação por meio da adoção de tarifas
alfandegárias moderadas, sendo que estas seriam aumentadas gradativamente a
cada ano. Mesmo com a intervenção do governo dos Estados Unidos, a situação
continuou não sendo favorável nem ao norte nem ao sul, o que fomentou ainda
mais a animosidade entre esses dois lados.
O segundo impasse interno entre
os estadunidenses girava em torno da questão escravista: o norte visava à
expansão do mercado consumidor interno para os seus produtos e, por isso,
defendia a abolição da escravidão e, logo, a adoção do trabalho assalariado.
Posto que nos estados do sul a economia era agroexportadora e a mão de obra predominante
era a escrava negra, os sulistas eram contrários à abolição, o que caracterizou
mais um conflito de interesses dentro de um país claramente dividido
politicamente.
Como as leis eram criadas pelo
Congresso dos Estados Unidos, formado por representantes do norte e do sul,
surgiu um novo problema, a questão da expansão para o oeste. À medida que as
terras a oeste iam sendo incorporadas aos Estados Unidos e ocupadas, estas se
tornavam estados. Havia, então, a preocupação por parte do norte e do sul se
esses novos estados seriam abolicionistas ou escravistas.
A fim de manter o equilíbrio, um
dos mecanismos adotados foi o Acordo do Missouri (1820), determinando que todo
estado surgido acima do paralelo de 36o 30’ deveria ser abolicionista, e os
estados surgidos abaixo desse paralelo deveriam ser escravistas. Como esse
paralelo corta o território dos Estados Unidos quase ao meio, pretendia-se, com
isso, manter a harmonia entre abolicionistas e escravistas no Congresso.
A fim de manter o equilíbrio, um
dos mecanismos adotados foi o Acordo do Missouri (1820), determinando que todo
estado surgido acima do paralelo de 36o 30’ deveria ser abolicionista, e os
estados surgidos abaixo desse paralelo deveriam ser escravistas. Como esse
paralelo corta o território dos Estados Unidos quase ao meio, pretendia-se, com
isso, manter a harmonia entre abolicionistas e escravistas no Congresso.
Apesar da tentativa da imposição
de um equilíbrio, em 1849, a Califórnia, estado abaixo do paralelo, pediu a sua
entrada na União como estado abolicionista, e o pedido foi aprovado pelo
Congresso. Em 1850, foi a vez de o Novo México mostrar a fragilidade do Acordo
do Missouri. Diante dos precedentes abertos, portanto, o governo instituiu o
Compromisso de 1850, que facultava aos novos estados a decisão sobre a questão
da escravidão e, ao mesmo tempo, criava um clima ainda mais favorável à guerra
civil.
As decisões tomadas pelo governo
estadunidense, na segunda metade do século XIX, revelavam claramente que os
estados sulistas estavam com menos influência política do que os estados
nortistas. A diferença era tanta que, nas eleições presidenciais de 1860, o
vencedor foi Abraham Lincoln, candidato republicano que havia feito uma
campanha aberta em favor do protecionismo e do abolicionismo. Não aceitando a
derrota, a Carolina do Sul, seguida por mais dez estados, declarou-se em
secessão, formando os Estados Confederados com a capital em Richmond e tendo
por presidente Jefferson Davis.
Diante da separação dos sulistas,
Lincoln, o presidente de fato, argumentou a favor da questão da União, o que
talvez tenha sido o principal elemento responsável pela guerra. Lincoln dizia
que a manutenção da União era mais fundamental que a abolição e, de acordo com
ele, se fosse necessário manter a escravidão para manter a União, ele o faria.
Por isso, em 1861, não aceitando a separação do sul, o norte se empenhou para
reincorporar os estados sulistas ao país e, assim, iniciou-se o mais violento
conflito da história dos Estados Unidos da América.
Perante a investida nortista, o
sul levava vantagem, pois sua população estava acostumada a atirar, a caçar e a
montar. Além disso, estava defendendo o seu próprio território, que conhecia
bem. Por outro lado, o norte tinha um maior contingente populacional, algo em
torno de onze milhões a mais de pessoas, lembrando que um percentual enorme do
sul era composto de escravos.
O norte possuía também uma melhor
rede de transportes, favorecendo a movimentação de tropas e armas e maior
autossuficiência industrial. Tais recursos, portanto, faziam com que o sul se
tornasse dependente dos produtos industrializados do norte e da Europa. Dessa
forma, uma das saídas adotadas pelos nortistas durante a guerra foi a
realização de um bloqueio marítimo, o que impedia os Confederados de venderem
sua produção agrícola e comprarem armas junto aos europeus.
Durante os conflitos, Lincoln,
atuando como presidente dos Estados Unidos, além de bloquear as vias de acesso
aos estados do sul, tomou duas medidas fundamentais para a vitória dos
nortistas. A primeira foi o Homestead Act (1862), que previa a doação de terras
no oeste para quem fosse viver na região por 5 anos sem utilizar mão de obra
escrava; com isso, houve um significativo esvaziamento da guerra e o aumento da
expansão rumo ao oeste.
A segunda foi a Abolição da
Escravidão (1863), que permitiu a participação dos negros no Exército, além de
provocar a fuga de milhares de negros do sul para o norte, aumentando mais
ainda o contingente militar da União.
Apesar da conquista por parte dos
escravos, é importante ressaltar que os negros tiveram de servir por mais
tempo, usar armas inferiores e ganhar menos que os soldados brancos. Assim, a
consequência foi, ao final da guerra, um número de soldados negros mortos três
vezes maior do que o de soldados brancos.
Após os quatro anos de duração da
Guerra Civil, o general confederado Robert Lee se rendeu ao comandante do
Exército do norte, general Ulysses Grant, em 1865. Naquele ano, portanto, foi
determinado o final dos combates e a reincorporação dos estados do sul aos
Estados Unidos. Além de garantir a recomposição dos estadunidenses, os
conflitos renderam também a morte de Abraham Lincoln, que, cinco dias antes do
final da guerra, foi assassinado por John Booth, um ator sulista.
A Guerra Civil americana matou
mais estadunidenses do que as duas Grandes Guerras e a do Vietnã juntas – no
total, foram mais de 600 000 pessoas. Se, por um lado, a guerra gerou uma
grande perda humana e material, ao final dos conflitos, dada a vitória do
norte, a política protecionista e industrializante foi colocada em prática em
todo o território dos Estados Unidos. Desde então, foi registrado um grande
desenvolvimento industrial e populacional, o incentivo à instalação de
imigrantes, a ampliação da malha ferroviária e a mecanização da agricultura,
fatores fundamentais para o fortalecimento do capitalismo no país.
No campo social, houve a
aprovação da 13a Emenda, que ratificava a abolição da escravidão, e da 14a
Emenda, que concedia alguns direitos civis aos negros. Porém, na prática, a
situação dos negros era difícil, pois existiam leis discriminatórias em alguns
estados, que chegavam mesmo a proibir o casamento de negros com brancos.
Surgiram grupos como a Ku Klux Klan, os Cavaleiros da Camélia Branca, os
Cavaleiros do Sol Nascente, entre outros. Esses grupos, formados por brancos
radicais, perseguiam os negros e seus aliados, promovendo linchamentos em
grande parte dos estados do país.
A mais importante consequência da
Guerra, no entanto, talvez tenha sido a expansão da influência estadunidense
para além de seu território. Os Estados Unidos, após o conflito interno,
passaram a se dedicar a uma expansão ideológica, cultural, política e econômica
que ultrapassava os seus limites territoriais. Tal postura seria fundamental
para as pretensões do país, que, durante o século XX, foi hegemônico no
continente americano.
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