O Atletismo nasceu com o homem. Afinal, o mais antigo dos
nossos ancestrais já andava, era obrigado a correr, a saltar e lançar coisas.
Era a dura luta contra os pedradores e a busca por alimentos. Pode-se dizer que
ao aprimorar essas habilidades, o homem garantiu sua história".
Em 2500 a.C., os egípcios já se ocupavam de provas de luta
livre e combates com paus. Dez séculos depois, os cretenses dedicavam-se à
dança, ao pugilato e à corrida a pé, como forma de recreação. Vários achados
arqueológicos confirmam que os antigos habitantes da China, Índia e Mesopotâmia
também conheciam pela mesma época, as corridas e os lançamentos de peso.
O berço do esporte organizado situa-se, porém, na Grécia.
Segundo Filóstrato, em 1225 a.C. foi disputado o primeiro pentatlo, série de
cinco provas (corrida, salto em distância, luta e lançamento de disco e dardo),
por um mesmo atleta. No canto XXIII da Ilíada, Homero narra os funerais de
Pátroclo, junto aos muros de Troia, e as provas atléticas que Aquiles fez
celebrar em honra do morto. Entre essas provas, estavam a corrida (“… o filho
de Oileu [i.é, Ájax] tomou a dianteira, sobre seus passos lançou-se o divino
Ulisses…”), o lançamento de um bloco de ferro maciço e o lançamento do dardo.
Para honrar os deuses ou homenagear os visitantes, os gregos costumavam
organizar programas esportivos, perto de Olímpia, tradição que foi mantida pelo
menos até a segunda metade do século X a.C.
Coube a Ífito, rei da Élida, por sugestão da Pítia,
sacerdotisa que interpretava os oráculos de Delfos, reviver a tradição, em 884
a.C., certo de que, com isso, os deuses interviriam em seu favor e poriam fim à
peste que assolava o Peloponeso. Mas os jogos olímpicos, recriados por Ífito,
só começaram a ser contados de 776 a.C. em diante, quando os nomes dos campeões
passaram a ser inscritos nos registros públicos. O primeiro foi Corebo (grego
Kóroibos, latim Coroebus), da Élida, vencedor da única prova do programa; a
corrida do estádio (grego stádion, latim stadium).
O estádio tinha a forma de letra U, com 211 por 23m. A
corrida, ou dromo (grego drómos, latim drõmos), era disputada num percurso de
192,27 m, distância que os gregos diziam equivaler a 600 pés de Hércules, herói
mitológico cujas façanhas, segundo a lenda, estariam ligadas à própria origem
dos jogos.
A corrida do estádio em 724 a.C., passou a ser disputada em
duas voltas completas pela pista, denominando-se diaulo (grego díaulos, latim
diaulos). Quatro anos depois, realizou-se a primeira carreira de fundo, ou
dólico (grego dólikhos), que consistia em 12 voltas completas pela pista, ou
pouco menos de 4.700m. O programa olímpico, depois disso, só foi alterado em
708 a.C., quando, além das corridas a pé e de carros, se efetuou o pentatlo com
as mesmas cinco provas descritas por Filóstrato. Seu primeiro vencedor
chamava-se Lâmpis (grego Lámpis, latim Lampis) e nascera na Lacônia.
Graças aos registros públicos – e às narrativas homéricas,
pós-homéricas e de outros poetas e prosadores, conhecem-se hoje alguns dos
princípios que regiam as provas daquele tempo. Nas corridas, os atletas
dispunham-se à boca de um túnel, localizado a oeste do bosque sagrado, numa
linha de saída denominada áfese (grego áphesis). Um toque de trompa ou
trombeta, em forma de cone (grego sálpiks, latim sapinx), precisava o instante
da partida, que também podia se anunciada pelo juiz, a viva voz.
Nos saltos, era permitido ao atleta impulsionar o corpo,
desde que seus pés não ultrapassem uma linha-limite riscada no solo. O vencedor
era o que atingisse a maior distância, na soma de três saltos. O disco (grego
dískos, latim discus), antes de pedra, passou a ser de bronze, ao tempo de
Ífito. Era mais grosso ao centro, fino nos bordos, media de 20 a 36cm e pesava
5kg. O discóbolo (grego diskóbolos, latim discõbulus) situava-se num trampolim
ou barreira de terra batida, e ali reproduzia o gesto imortalizado por Mílon ou
Milão de Crotona, atleta cujo lançamento de disco é, até hoje, um dos símbolos
dos jogos olímpicos.
O dardo (grego ksystón), aproximadamente com 1,80m de
comprimento, tinha uma extremidade de ferro pontiaguda que possibilitava ao
atleta, com o lançamento, fincá-lo no solo. Sua propulsão fazia-se com o
auxílio de uma correia de 40cm, enrolada um pouco atrás do centro de gravidade
do dardo. Essa correia, acionada com força no momento do arremesso, impunha um
movimento rotativo ao dardo, levando-o a grandes distâncias.
O programa dos jogos olímpicos manteve-se praticamente o
mesmo por toda a Antiguidade. No século VII a.C., em Esparta, houve
modificações, para que as mulheres também pudessem competir. Coube a Licurgo a
decisão de que “…as mulheres, como os homens, devem medir entre si a força e
rapidez, pois a missão das mulheres livres é engendrar filhos vigorosos”. Nos jogos
realizados em Delos, elas participavam de corridas a pé, por categorias segundo
a idade, cumprindo um percurso equivalente a 160m.
Os romanos, assimilarem a cultura grega, já no século I
d.C., prosseguiram com a tradição dos jogos olímpicos, embora com espírito mais
recreativo do que competitivo, até que, em 393, o imperador Teodósio –
responsável pela matança de dez mil gregos em Tessalonica – se converteu ao
cristianismo, após curar-se de grave enfermidade: para ganhar o perdão de
Ambrósio, bispo de Milão, concordou em suprimir todas as festividades pagãs,
inclusive os jogos olímpicos.
Autoria: Paulo Alberto Nascimento
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