A IMPLEMENTAÇÃO DAS CAPITANIAS
HEREDITÁRIAS
Em dezembro de 1530, partiram de
Portugal cinco embarcações, com aproximadamente 400 homens, que seriam
responsáveis pela fundação do primeiro núcleo colonial português na América.
Conduzida por Martin Afonso de Souza, a expedição colonizadora fundou a vila de
São Vicente, na região do litoral de São Paulo. Em 1533, depois de fracassadas
tentativas para localizar as ricas regiões fornecedoras de metais preciosos, na
região do Rio da Prata, Martin Afonso retornou a Portugal, sendo notificado da
implantação do sistema de capitanias hereditárias para a exploração da América
Portuguesa.
Já utilizado em outras áreas do
Império luso, esse sistema seria marcado pela doação de faixas de terras
perpendiculares ao Tratado de Tordesilhas até a área litorânea. Receberiam tais
faixas de terra aqueles que a Coroa portuguesa acreditasse serem capazes de
promover a ocupação territorial. Esses eram denominados capitães donatários,
que passariam a assumir o papel de empreendedores do sistema colonial
português.
Martin Afonso recebeu duas das
quinze capitanias distribuídas pelo monarca João III. Além da Carta de Doação,
documento que garantia o direito de posse da capitania, os donatários recebiam
o foral, documento responsável por determinar direitos e deveres. Assim, o
capitão donatário poderia:
● distribuir sesmarias,
gigantescos latifúndios que foram explorados pelos primeiros lusos que chegaram
ao Brasil;
● escravizar os nativos;
● fundar vilas;
● explorar a terra e promover a extração
de metais, de modo a obter lucros, mediante o pagamento dos impostos. Ficava
excluída apenas a exploração do pau-brasil, que permaneceu como monopólio real;
● conduzir a administração da
capitania, protegendo os colonos dos ataques estrangeiros e dos nativos.
As capitanias hereditárias
representavam unidades administrativas, não podendo ser confundidas com
propriedades. Assim, a origem da concentração fundiária no Brasil não se
explica pelas capitanias, mas sim pelo sistema de sesmarias.
A distribuição das sesmarias teve
início em Portugal durante a Idade Média, em 1375, com o objetivo de inibir o
monopólio do controle da terra, impedir o fortalecimento de uma nobreza
fundiária e ampliar a produção agrícola, por meio da distribuição de minifúndios.
Já na América Portuguesa, esse sistema acabou por acarretar um quadro inverso,
em que a doação de terras promoveu a concentração fundiária, devido à amplitude
territorial existente na colônia.
As capitanias hereditárias não
garantiram a plena ocupação do território brasileiro. Ataques indígenas,
desinteresse pelo território, distância e falta de capital podem ser citados
como elementos que contribuíram para a fragilidade do sistema. Apenas duas
capitanias apresentaram relativo sucesso no início do século XVI: São Vicente e
Pernambuco.
A capitania de São Vicente
dedicou-se inicialmente à lavoura de cana-de-açúcar, mas a distância dos
principais mercados e a concorrência de outras áreas produtoras acabou por
fragilizar essa atividade econômica na região. A agricultura, por sua vez, era
direcionada para a subsistência. Com o decorrer das décadas, a capitania de São
Vicente se transformou em um importante centro irradiador de expedições para o
interior da América Portuguesa, na esperança de encontrar metais preciosos e de
capturar indígenas que eram vendidos como cativos em outras regiões coloniais.
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