A CHEGADA DOS PORTUGUESES

A CHEGADA DOS PORTUGUESES

A chegada dos portugueses à costa brasileira representou, assim como na América Espanhola, uma catástrofe para os povos nativos da região, que foram submetidos ao trabalho compulsório e retirados de suas estruturas socioculturais. Calcula-se que mais de 3 milhões de índios viviam na faixa que hoje se define como o Brasil. As comunidades locais não apresentavam a complexidade das Altas Culturas da América Espanhola, como os Incas e os Astecas, mas eram observados dois grandes grupos de nativos na região da América Portuguesa: os tupis-guaranis e os tapuias.

Os tupis, também chamados de tupinambás, ocupavam praticamente toda a costa brasileira, concentrando-se, todavia, na região litorânea do Norte do Brasil até Cananeia, no sul do atual estado de São Paulo. Os guaranis, por sua vez, ocupavam o litoral Sul e a Bacia Paraná-Paraguai. Mesmo presentes em uma região territorial tão extensa, esses povos falavam uma língua comum, o tupi-guarani, e apresentavam semelhanças culturais.

Porém, em algumas regiões da costa brasileira e, majoritariamente, no interior, existiam povos indígenas que não seguiam as características culturais e linguísticas dos tupis-guaranis, esses eram conhecidos por tapuias: os aimorés, no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo, os goitacazes, na foz do Rio Paraíba, e os tremembés, na faixa entre o Ceará e o Maranhão, representam algumas dessas comunidades.

Deve-se ressaltar que o termo tapuia possui uma terminologia tupi, que simboliza, de certa forma, a ideia do bárbaro, do forasteiro, do inimigo, por não compartilharem da língua tupi-guarani. Assim, o termo tapuia foi incorporado pelos portugueses sob a perspectiva tupi-guarani. Isso explica a posição de muitos historiadores que optam pelo termo macro-jê para designar a população tapuia.

Os povos indígenas viviam da caça, da pesca, da agricultura e da coleta de frutas. Preparavam frequentemente o solo, utilizando as queimadas. A economia era voltada para a subsistência, sendo comum entre os nativos apenas a troca de mulheres e de alguns bens valorizados, como penas e pedras para ornamento. As alianças entre os índios se concentravam nas atividades bélicas, que serviam para a captura de inimigos, muitas vezes mortos em ações de canibalismo, prática comum dos povos tupis e tapuias.

A chegada dos portugueses foi tratada, pela maioria dos grupos locais, com relativa resistência e, em alguns casos, com enfrentamento armado. As alianças com as comunidades mais afeitas aos lusos foram fundamentais para a garantia da colonização, como no caso do apoio dos tupis ao combate dos tamoios que tentaram destruir os primeiros núcleos portugueses na região de São Paulo.

Tal encontro de culturas possibilitou, além da violência e da destruição indígena, a integração de hábitos alimentares e culturais, bem como a apropriação de palavras do vocabulário nativo. A intensa miscigenação também seria uma particularidade que distinguiu os povos portugueses dos espanhóis durante os séculos seguintes da colonização.

A chegada lusa ao solo sul-americano não assinalou a efetivação do processo de ocupação das terras americanas pelos portugueses. Isso ocorreu porque os lucros provenientes das atividades comerciais no Oriente monopolizaram a atenção do Estado português nos primeiros anos do século XVI. Essa indiferença parcial foi quebrada pelas viagens de reconhecimento da costa brasileira e pelos empreendimentos extrativistas, empenhados na extração do pau-brasil. Em 1501 e 1503, a Coroa portuguesa enviou duas expedições ao Brasil com o objetivo de reconhecer a costa brasileira e dimensionar a potencialidade da região.

Além da fundação das primeiras feitorias na América Portuguesa, as viagens iniciais conseguiram identificar a possibilidade de um fácil lucro para a Coroa por meio da exploração do pau-brasil. Madeira já comercializada na região da Ásia, o pau-brasil foi encontrado de maneira abundante na região da Mata Atlântica, da faixa do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro. O pau-brasil era amplamente utilizado na Europa desde a Idade Média como base para a tintura de tecidos, com especial predileção para tons vermelhos.

O interesse pela madeira fez com que a Coroa portuguesa estabelecesse o imediato direito de estanco – monopólio real –, porém sem a disposição de efetuar gastos com a extração. Concedeu, assim, a exploração a terceiros, mediante o pagamento de taxas para a retirada da madeira na costa da América Portuguesa. O primeiro explorador do recurso na colônia foi o cristão-novo Fernando de Noronha, rico asturiano que, em Lisboa, comandava ampla atividade comercial, tendo permanecido com o direito de extração até o ano de 1511.

A extração do pau-brasil contava com o trabalho indígena por meio do escambo, ou seja, mediante um sistema de trocas. Os nativos se interessaram pela atividade na medida em que eram beneficiados por pequenos objetos úteis fornecidos pelos portugueses, como facas, machados, e tesouras, além dos atraentes espelhos e miçangas.

O comércio do pau-brasil perdurou durante todo o Período Colonial, tendo se intensificado nas primeiras décadas do século XVI. Foi nesse período que navegantes de outros países buscaram na costa brasileira a possibilidade de fácil enriquecimento por meio da exploração da madeira tintorial, com destaque para as expedições francesas.

A presença estrangeira na costa da América Portuguesa exigiu medidas de segurança por parte da Coroa, devido à resistência dos países europeus às determinações do Tratado de Tordesilhas. As duas expedições militares de Cristóvão Jacques, em 1516 e 1526, foram determinantes para reprimir navios franceses exploradores no litoral da colônia.

A apreensão da nau francesa Pelèrine, com aproximadamente 300 toneladas de pau-brasil, no ano de 1532, demonstra a intensa presença estrangeira na costa colonial. Tal situação reproduziu em menor escala os conflitos entre lusos e potências europeias pelas novas terras durante os séculos seguintes de colonização.

A presença francesa na costa estimulou o monarca português João III (1502-1557) a redefinir os rumos da política lusitana para as terras da América. A queda do lucro nas regiões asiáticas e a localização de minerais preciosos nas áreas de colonização espanhola também foram determinantes para um novo projeto para a colônia.

 

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