O Brasil em 1968
A década de
1960 é marcada por transições significativas no Brasil e no mundo. Nos Estados
Unidos, Robert Kennedy e Martin Luther King foram assassinados pela obra de
forças de tom conservador. Na Tchecoslováquia, a “Primavera de Praga” colocava
jovens em luta contra as exigências do socialismo nivelador e hegemônico
imposto pela União Soviética. Entre os franceses, uma onda de protestos
estudantis colocava fábricas em greve e questionava o tom conservador daqueles
tempos.
Nessa mesma
época, o Brasil vivia uma delicada transição política envolvendo a crise do
populismo e a instalação de um regime ditatorial. Chegando ao poder no ano de
1964, os militares alegavam que o país era seriamente ameaçado por uma
revolução que envolveria a ação de estudantes, movimentos sociais e
sindicalistas influenciados pelo comunismo. Segundo o seu próprio discurso, os
militares pretendiam salvaguardar a democracia por meio da sua “revolução”.
Em certo
sentido, uma parte das classes militares acreditava que o golpe de 1964 deveria
ter vida curta. Serviria como uma ação cirúrgica, capaz de em pouco tempo
devolver o posto presidencial para as mãos dos civis. Por outro lado, outro
grupo de militares, conhecidos como integrantes da chamada “linha dura”,
desejavam o prolongamento do governo militar e uma ação de repressão mais
sistemática contra os grupos de esquerda existentes.
Já nessa
época, alguns militantes estudantis e outras lideranças de esquerda acreditavam
que a via democrática e os partidos políticos não seriam capazes de ameaçar o
governo militar. Desse modo, preferiram organizar guerrilhas rurais e urbanas
que tentavam desestabilizar o regime através de assaltos, sequestros e ataques
contra os possíveis representantes do regime. Naquele ano, a Vanguarda Popular
Revolucionária realizou ataques contra um hospital e lançou explosivos contra
um quartel do Exército.
No mês de
março uma grande agitação estudantil tomou as ruas do Rio de Janeiro para
protestar contra a qualidade de serviços prestados aos estudantes universitários.
Durante a manifestação, o estudante Edson Luís, de apenas dezesseis anos, foi
morto pelos militares. O evento chamou atenção dos veículos de comunicação e
logo serviu para que as críticas ao regime se intensificassem. No velório do
estudante, uma aglomeração com cinquenta mil pessoas expunha a desaprovação
popular ao acontecido.
No dia 26 de
junho, a Passeata dos Cem Mil, ocorrida no Rio de Janeiro, reuniu
trabalhadores, políticos, artistas, professores, religiosos e estudantes
decididos a questionar a repressão daqueles tempos. Apesar de ter um clima
pacífico, essa passeata serviu de exemplo para que eventos de semelhante
natureza acontecessem em outros pontos do país, intensificando o repúdio ao
governo militar. Em São Paulo, estudantes esquerdistas da USP entraram em
confronto contra os anticomunistas do Mackenzie.
Naquela mesma
época, as autoridades militares conseguiram desarticular uma reunião
clandestina da União Nacional dos Estudantes, acontecida na cidade paulista de
Ibiuna. Aproximadamente 900 estudantes foram presos pela simples participação
naquele evento político. Em alguns casos, os pais dos jovens evolvidos foram
perseguidos ou exonerados de suas funções públicas.
No Congresso
Nacional, o discurso crítico e irônico do deputado Márcio Moreira Alves, do MDB
da Guanabara, deu uma feição institucional aos que se opunham a ingerência
militar. Logo após o proferimento, o procurador-geral da República selecionou
alguns trechos isolados do discurso e realizou cópias a serem distribuídas nos
quartéis. A repercussão das palavras proferidas por Márcio Moreira serviu de
pretexto para que as liberdades individuais fossem ainda mais restringidas.
O governo pediu ao Congresso uma autorização
para processar o deputado e anular a sua liberdade parlamentar. Em votação, os
congressistas negaram o pedido dos militares. Sentindo-se acuado, agora pelas
vias políticas, o governo militar decidiu estabelecer o Ato Institucional nº 5.
Pelo decreto, oficializado em 13 de dezembro, diversos direitos políticos e
individuais foram suprimidos em prol do fortalecimento da repressão que marcou
o governo militar.
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