INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA
ESPANHOLA – O CONTEXTO INTERNO
Apesar da importante contribuição
europeia para as lutas de Independência dos hispano-americanos, é necessário
compreender a realidade do continente americano à época, assim como as
estruturas internas das colônias espanholas, para se ter uma noção da realidade
dos novos Estados formados a partir desse processo emancipacionista. Se a
Revolução Francesa foi a maior inspiração europeia para os colonos que ansiavam
por liberdade, o melhor exemplo de luta em pleno continente americano foi a
Independência das Treze Colônias, processo também conhecido como Revolução
Americana, ocorrido no século XVIII.
A luta dos estadunidenses serviu
de exemplo aos hispano-americanos, pois o norte da América foi a primeira
região do continente a conquistar a liberdade, livrando-se, inclusive, da nação
mais poderosa da época, a Inglaterra. Além disso, o considerável
desenvolvimento tecnológico alcançado por parte dos estados que compunham
aquele país levava as elites coloniais a acreditarem que a independência seria
a melhor saída naquele momento.
Uma clara manifestação da
influência estadunidense nas Américas foi o sistema político adotado pela
maioria dos Estados formados, que, assim como os Estados Unidos, se tornaram
republicanos. Internamente, as colônias que compunham a América Espanhola
apresentavam uma sociedade estratificada. Os chapetones, espanhóis que vinham
para a América, tinham a posição social mais privilegiada e, por isso, ocupavam
os altos cargos administrativos e controlavam o comércio externo.
Outra camada que ocupava posição
de destaque era os criollos, elite nativa descendente de espanhóis, que
controlava a economia colonial e tinha poderes políticos limitados. A classe
intermediária era formada por mestiços e índios, que, por não terem grande
prestígio social, eram excluídos de certos direitos políticos, como o voto.
Finalmente, é importante apontar a posição social inferior ocupada pelos negros
que, estando abaixo de qualquer outro elemento social, muitas vezes eram
submetidos à escravidão e, logo, aos interesses das elites coloniais.
Com o desenrolar da colonização
espanhola, os criollos acabaram entrando em divergência com os chapetones, pois
a elite nativa ganhou muita força econômica pelo fato de controlar as
estruturas produtivas das colônias espanholas, estruturas estas que, ao longo
do tempo, se desenvolveram bastante. Apesar de parecer um paradoxo, o
investimento estrutural nas colônias era importante para a metrópole, que, a
partir de então, teria condições de cobrar mais impostos sobre uma produção mais
volumosa.
Assim, em virtude da força
econômica alcançada pelos criollos, estes passaram a reivindicar maior
representação política, uma vez que sustentavam a economia colonial com suas
minas e fazendas. A única forma de obter essa participação, no entanto, era
rompendo com a metrópole, já que, por serem espanhóis, os chapetones tinham
maior influência junto à Coroa.
Além do desejo de liberdade por
parte da elite colonial, a maior parte da sociedade, formada por pequenos
comerciantes, trabalhadores assalariados, mestiços, índios e negros, também via
a Independência com bons olhos, pois acreditava que, vivendo em um país
independente, conquistaria maiores direitos sociais e políticos. Às vésperas do
século XIX, portanto, a sociedade colonial espanhola, por mais que apresentasse
projetos políticos distintos, demonstrava seus anseios de liberdade, situação
preocupante para a metrópole, que via o seu controle sobre as Américas
ameaçado.
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