AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA NO CONTEXTO EUROPEU


AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA NO CONTEXTO EUROPEU

 O domínio europeu na América, iniciado no final do século XV, acabou sendo colocado em xeque na passagem do século XVIII para o XIX, pois, entre outros motivos, as transformações ocorridas no Velho Continente provocaram um contexto no qual se tornaram inevitáveis as lutas por independência. O desenvolvimento industrial da Inglaterra, por exemplo, fez crescer a demanda por matéria-prima e por mercados. Apesar de a América Colonial ser parte do mercado inglês, o comércio era mediado pelas metrópoles, ou seja, atravessadores que, por vezes, inviabilizavam as relações comerciais inglesas. Mesmo sendo favorável à Independência das Américas, a Inglaterra vivia um dilema, pois não podia perder seu mercado europeu. Era necessário, portanto, apoiar as Independências sem entrar em conflito com as metrópoles, a final, o objetivo dos ingleses era aumentar o seu mercado consumidor, e não transferi-lo. Esse paradoxo foi resolvido com o apoio indireto da Inglaterra às Independências, por meio da concessão de empréstimos às colônias e de financiamentos a mercenários, como o lorde Cochrane, que lutaram ao lado dos colonos. O pensamento iluminista, que atingiu seu ápice na Europa no século XVIII, chamado de Século das Luzes, também teve influência nos processos de Independência das Américas. Por acreditarem em uma ideologia essencialmente burguesa, os iluministas eram contrários às distinções sociais oriundas do Período Feudal, defendendo, assim, a igualdade entre os homens, pelo menos juridicamente. O Iluminismo também pregava o liberalismo econômico, que, na prática, significava a não intervenção do Estado na economia. Dessa forma, as relações existentes entre as metrópoles e as colônias – baseadas completamente nos princípios mercantilistas – eram vistas com extremo desprezo não só pela Inglaterra, como também pelos ilustrados, afinal, os nativos não tinham os mesmos direitos políticos que os indivíduos da metrópole, a colônia não possuía liberdade comercial e mesmo a liberdade de expressão era coibida no continente americano. Posta, portanto, a divergência entre o sistema colonial e as ideias iluministas, as metrópoles buscaram meios de proibir a circulação das obras consideradas subversivas, principalmente francesas, em seus domínios. Mesmo assim, livros de autores como Voltaire, Montesquieu e Rousseau, por exemplo, chegavam às colônias, fosse por intermédio das elites que iam estudar na Europa e lá tomavam consciência dos ideais ilustrados, fosse por meio do contrabando de livros para a América. Dessa maneira, formou-se uma elite colonial que via na Independência a única saída para seu desenvolvimento econômico e político. Além disso, essa elite de formação europeia se considerava igual aos europeus, por mais que estes adotassem uma visão etnocêntrica que vinculasse a América à barbárie. Além de influências ideológicas, como o Iluminismo, os colonos tomaram como exemplo algumas lutas liberais burguesas ocorridas durante o século XVIII. Uma delas foi a Revolução Francesa, afinal, aquele processo revolucionário burguês, ocorrido em 1789, foi uma das mais importantes lutas contra o absolutismo. Além de conseguirem derrubar o governo, que era considerado o mais despótico de toda a Europa, os revolucionários franceses implementaram novos modelos políticos no país e, assim, evidenciaram o fracasso do Antigo Regime. Uma clara manifestação da influência revolucionária francesa nos processos de emancipação do continente americano é a grande recorrência de bandeiras tricolores como estandartes das novas nações que se formaram. Porém, ao contrário do azul, branco e vermelho – que representam, respectivamente, liberdade, igualdade e fraternidade – da bandeira francesa, as nações americanas adotaram cores que faziam alusão a elementos próprios do continente, por exemplo o amarelo, que representava a riqueza oriunda dos metais preciosos. Mesmo tendo passado cerca de dez anos do início da Revolução Francesa, as lutas no continente europeu não cessaram e, já no início do século XIX, a Europa vivenciava as guerras napoleônicas, quando o poderio bélico francês se impôs em praticamente todo o continente. A Europa se rendia ao Exército de Napoleão Bonaparte, e a Inglaterra era a única potência que, devido à sua força econômica e à sua posição insular, conseguia resistir à expansão napoleônica. Diante da resistência inglesa, o imperador francês decretou o Bloqueio Continental (1806), que proibia os países europeus de comercializarem com os britânicos. A Espanha, assim como outros países da Europa, tinha uma economia muito dependente dos ingleses, e, como a França não estava no mesmo patamar industrial que a Inglaterra, os espanhóis romperam o Bloqueio. A reação francesa foi imediata e se manifestou através da invasão da Espanha e da deposição do rei daquele país, Fernando VII. José Bonaparte, irmão de Napoleão, foi colocado no trono espanhol e, além da resistência interna ao seu governo, o novo rei enfrentou a desobediência das colônias que compunham a América Espanhola.

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