RUMO A GRANDE CRISE DE 1929


RUMO A GRANDE CRISE DE 1929
Durante a Primeira Guerra, os Estados Unidos forneceram armas, alimentos e empréstimos para a Europa. Nos três primeiros anos, o país se manteve fora do conflito e, mesmo quando dele participou, não sofreu ataques em seu território, pois a Guerra se concentrou na Europa. Vale ressaltar, também, que a indústria europeia não podia abastecer algumas áreas de influência, como a América Latina, a Ásia e a África, favorecendo cada vez mais a robusta indústria estadunidense, que passou a preencher parte dessa lacuna deixada pela Europa.
Ainda assim, a demanda não foi totalmente contemplada, já que os Estados Unidos tinham de produzir para consumo interno, para a Europa e para as áreas de influência europeia. Em virtude, portanto, do desabastecimento mundial, algumas regiões periféricas registraram um certo desenvolvimento industrial durante a Primeira Guerra, como foi o caso do Brasil.
Após 1918, o continente europeu estava arrasado material e economicamente, pois a indústria europeia não possuía nem sombra da indústria pré-Guerra. Nesse mesmo contexto, os Estados Unidos continuaram produzindo para o seu mercado interno e para as regiões citadas, o que fez com que o Período Entre-Guerras fosse uma época de prosperidade sem precedentes para o país, que registrou o aumento da oferta de emprego na indústria e a ampliação do consumo interno. As indústrias estadunidenses foram responsáveis, logo após a Guerra, por mais de 40% da produção industrial mundial.
A grande produtividade industrial dos Estados Unidos tornava o mundo cada vez mais dependente de sua economia. Visando ao maior desenvolvimento e à manutenção do mercado para seus produtos, os Estados Unidos passaram a difundir o american way of life, propaganda que incentivava o mundo a seguir o modo de vida americano, ou seja, a ser uma sociedade consumista. O principal veículo de divulgação dessa propaganda era o cinema, atingindo milhões de espectadores, que passavam a compartilhar o “sonho americano”. Para garantir mercado aos produtos estadunidenses e eliminar qualquer possibilidade de avanço socialista, era necessário, porém, investir na economia europeia, arrasada pela Primeira Guerra.
Apesar de atenderem aos interesses imediatos dos industriais estadunidenses, os investimentos na Europa contribuíram para a recuperação da economia do continente e, consequentemente, para a diminuição do consumo de produtos estadunidenses. Devemos nos lembrar, ainda, de que o desenvolvimento industrial ocorrido em regiões periféricas, como a América Latina, também levou à redução do mercado consumidor devido ao aumento da oferta de produtos industrializados, afetando, assim, a economia dos Estados Unidos.
A ideologia do liberalismo econômico foi outro elemento fundamental para entender a Crise. A mentalidade herdada do século XVIII afirmava que o próprio mercado se regulava, não sendo necessária a intervenção do Estado na economia. O excesso de liberalismo acabou por favorecer a especulação financeira, uma vez que não havia um agente regulador da economia. A crença no poderio das empresas dos Estados Unidos, que eram as que mais produziam, levou a uma supervalorização das suas ações.
É possível afirmar, no entanto, que a valorização do mercado estadunidense era frágil, afinal, havia um descompasso entre consumo e oferta, ou seja, apesar de produzirem muito, as empresas não vendiam na mesma proporção. A compra de ações de empresas dos Estados Unidos, que eram as mais procuradas no mercado, garantiu, durante certo tempo, a manutenção e mesmo um aumento da produção estadunidense, mas a deflagração de uma crise econômica era questão de tempo.
Uma crise de superprodução e subconsumo foi se constituindo e se de agrou no dia 24 de outubro de 1929, na chamada Quinta-feira Negra, quando milhões de títulos de empresas dos Estados Unidos foram oferecidos no mercado sem encontrarem compradores. Entre 1929 e 1933, ocorreu o período mais crítico da Depressão, em que mais de 60 000 empresas faliram nos Estados Unidos, gerando uma onda de desemprego que atingiu cerca de 15 milhões de pessoas no país. Em decorrência da falência generalizada, diversas liais de empresas estadunidenses em outros países também não resistiram, causando uma diminuição do consumo de produtos desses países dentro dos Estados Unidos.
A Quebra da Bolsa de Nova Iorque afetou a economia de forma global, já que os Estados Unidos eram o maior credor e investidor mundial. Um exemplo dessa relação de dependência da economia estadunidense foi a Alemanha, pois o país se recuperava dos efeitos da Primeira Guerra graças a investimentos dos Estados Unidos feitos através dos Planos Dawes e Young, e, com a Crise, houve a interrupção desses recursos. Quando Hitler assumiu o controle da Alemanha, na década de 1930, uma das medidas tomadas, no intuito de conter a recessão instalada, foi o confisco de todo investimento estrangeiro no país. A retirada de investimentos deveria ser feita através da compra de produtos agrícolas e industrializados germânicos por investidores, aquecendo, dessa maneira, a economia alemã.

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